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Sorveteria famosa da Venezuela fecha após escassez de leite no país

Falta de matéria-prima no país obriga a Coromoto a uma interrupção temporária

A fachada da sorveteria Coromoto.
A fachada da sorveteria Coromoto.

A escassez de produtos básicos, tornada crônica na Venezuela, põe em xeque até um detentor de recorde nacional em turismo no livro Guinness. A sorveteria Coromoto, da cidade de Mérida (capital do Estado de mesmo nome, na região sudoeste andina) anunciou no dia de Natal seu fechamento temporário. “Ficaremos fechados durante a alta temporada por escassez de leite. Oficial!”, declararam os responsáveis pelo estabelecimento em sua página no Facebook.

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Fundada em 1981 por um imigrante português no centro de Mérida, a sorveteria Coromoto —o nome vem da padroeira do país, a Virgem de Coromoto— é um símbolo da cidade. O que a distingue é a variedade e extravagância de sabores. Ela se gaba de oferecer 863 especialidades no menu, com opções tão surpreendentes como sorvete de feijão preto, de casabe (tortilha nativa feita com farinha de mandioca), de cebola ou de marisco. Desde 1996, quando o cardápio atingiu 500 sabores, a sorveteria figura no Livro Guinness de Recordes.

Mas fazia algum tempo que alguns desses sabores não passavam de nomes num quadro. A falta de leite —líquido ou em pó, ele aparece intermitentemente nos supermercados ou é obtido a preço exorbitante no comércio informal— impedia sua elaboração. A clientela reclamava. A pressão se fez sentir durante a atual temporada natalina, quando aumenta o fluxo de turistas. Para proteger seu prestígio, a sorveteria decidiu fechar, pelo menos até que terminem as festas, em janeiro.

Letreiro pendurado na porta da sorveteria Coromoto.
Letreiro pendurado na porta da sorveteria Coromoto.

A fama da sorveteria atrai nativos e estrangeiros, como uma atração turística exclusiva da cidade. Em 2002, Enrique Vila-Matas escreveu no EL PAÍS sobre os então 788 “criativos sabores”, que o escritor, de passagem por Mérida rumo a um hotel no planalto andino, enumerava, “de alho, de cerveja, de macarrão, de abacate, de truta fresca, de presunto ibérico...”.

Mérida, cidade universitária que, localizada no sopé da única serra nevada do país, vive de turismo, sentiu a gravidade da notícia. A Câmara de Turismo regional emitiu comunicado que indica os maus sinais para o setor do fechamento, mesmo que temporário, da Coromoto.

A sorveteria tem variedade de mais de 800 sabores, que vão deste feijão preto até cebola

Esse anúncio é indício da magnitude no país do desabastecimento de leite, de outros produtos de consumo em massa e de insumos industriais. O Estado venezuelano, que tem a exclusividade na alocação de divisas para importação, anda com a receita baixa em razão da queda do preço do petróleo. Depois de uma onda de desapropriações e controles de preços que afugentaram investidores, concentrou em seu aparelho burocrático mais da metade do sistema nacional de distribuição de alimentos, o que o tornou também mais vulnerável a suas próprias ineficiências.

Mas o Governo de Nicolás Maduro atribui a persistente escassez a uma "guerra econômica" e à conspiração do imperialismo e da burguesia local.

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