_
_
_
_
_

Putin cancela a construção de um gasoduto chave para a Europa

O governante russo acusa a Comissão Europeia de criar obstáculos ao projeto South Stream e oferece como alternativa um traçado que passa pela Turquia

Putin cancela a construção de um gasoduto chave para a EuropaFoto: reuters_live | Vídeo: Reuters-Live
P. B.

A Rússia desistiu do grande projeto da Corrente do Sul (South Stream), um gasoduto que chegaria diretamente à Europa meridional, passando pelo Mar Negro. Nos planos russos, a Corrente do Sul complementaria a Corrente do Norte (North Stream), que levaria gás à Alemanha, passando pelo Báltico. Os dois gasodutos teriam o objetivo de evitar os riscos de passar pela Ucrânia.

Em Ancara, onde estava em visita oficial, o presidente Vladimir Putin anunciou na segunda-feira que Moscou desistiu de construir a Corrente do Sul, devido à “posição não construtiva” da Comissão Europeia, e que o combustível será redirecionado para outras regiões e para projetos de liquefação. “Consideramos que a posição da Comissão Europeia não era construtiva”, disse o líder russo, acusando Bruxelas de “colocar obstáculos” ao projeto. “Se a Europa não quer realizar, quer dizer que não será realizado”, disse Putin, desse modo pondo um ponto final numa das bases da estratégia russa para garantir o abastecimento energético da Europa.

Numa entrevista à imprensa dada com seu colega turco Recep Tayyip Erdogan, Putin disse que a Rússia não poderia começar a construir o trecho marítimo do gasoduto porque a Bulgária não a autorizou. “Seria absurdo começar a construir para chegar até a costa búlgara e parar ali”, ele afirmou. A Corrente do Sul chegaria até o porto búlgaro de Varna e de lá continuaria até os Bálcãs e se bifurcaria em duas partes, uma avançando em direção à Itália e a outra à Áustria. A capacidade de transporte prevista era de 63 bilhões de metros cúbicos anuais, e seu custo era calculado em 16 bilhões de euros (51 bilhões de reais).

Mais informações
Rússia e Ucrânia selam acordo para encerrar a guerra do gás
A ameaça do óleo
Rússia deixa rublo flutuar após gastar milhões para controlar câmbio
China se apoia na Rússia para aumentar seu peso internacional
Rússia deixa rublo flutuar após gastar milhões para controlar câmbio

Em abril, contra o pano de fundo da intervenção russa na Ucrânia e da política de diversificação energética de Bruxelas, o Parlamento Europeu pediu que o projeto fosse cancelado. A Rússia respondeu com seus próprios planos de diversificação energética em direção à China e Turquia.

A julgar pelas declarações de Putin e de Alexei Miller, diretor executivo da Gazprom (a estatal russa que detém o monopólio da exportação de gás), Moscou encontrou um substituto para a Corrente do Sul, fechando um acordo com a Turquia para a construção de um gasoduto submarino com a mesma capacidade de transporte que a Corrente do Sul. A Turquia ficará com cerca de 14 bilhões de metros cúbicos de gás, e o restante irá para a fronteira turca com a Grécia. Miller disse que o projeto da Corrente do Sul foi cancelado e que foi assinado um memorando de entendimento com a empresa turca Botas para a construção de um gasoduto. Ele assinalou também que a Rússia reduzirá o preço do gás vendido à Turquia à medida que a cooperação se aprofunde e que, no longo prazo, Ancara pode pagar o mesmo nível de preços de que a Alemanha desfruta hoje.

Putin aconselhou a Bulgária a exigir uma compensação da União Europeia. “Se a Bulgária foi privada da possibilidade de agir como Estado soberano, que pelo menos peça dinheiro à União Europeia pelo lucro cessante, porque os benefícios diretos que o gasoduto teria proporcionado a seu orçamento teriam sido de no mínimo 400 milhões de euros por ano” (1,27 bilhão de reais), ele assinalou.

O líder do Kremlin disse também que a Rússia vai elevar seu fornecimento de gás à Turquia em três bilhões de metros cúbicos e lhe dará um desconto de 6% no preço. O ministro do Desenvolvimento Econômico russo, Alexei Uliakaev, opinou que a construção do gasoduto vai ajudar a reduzir os riscos envolvidos na passagem do gás para a Europa pela Ucrânia.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_