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Coluna
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Dilma é traidora ou sábia?

São sábios aqueles que têm a coragem de mudar de ideia. Talvez isso explique a decisão de colocar o futuro econômico do país em mãos mais ortodoxas

Juan Arias

Os governos passam, os partidos desaparecem, os líderes morrem, mas os países permanecem. Tinha, portanto, razão o cartaz visto em uma das recentes manifestações de rua de São Paulo, onde se podia ler: “Em primeiro lugar, o Brasil”.

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Os órfãos da candidata Dilma que acusavam seus adversários, Aécio Neves e Marina Silva, de querer colocar o país nas mãos dos banqueiros e que hoje descobrem que ela colocou a economia do país nas mãos do liberal Joaquim Levy, agora estão desconsolados.

Já começaram as manifestações contra sua decisão de dar uma guinada neoliberal na economia que, claro, estava na UTI. Logo a acusarão de trair a esquerda e seu partido, o PT.

Até levantaram a cabeça aqueles que preferem ver na manobra da nova Presidente de colocar um banqueiro para liderar a economia como uma forma de “mudar e deixar tudo como está”. Assim, Dilma teria colocado Joaquim Levy como ministro da Fazenda para catequizá-lo, ou seja, para convertê-lo ao petismo, e não para regenerar o barco econômico que ameaçava afundar o país em uma recessão severa e que os investidores locais e estrangeiros perdessem a confiança.

Os políticos devem sempre ser criticado e vigiados pelos meios de comunicação e pela oposição, porque está em sua natureza a tentação de abusar do poder e de colocar seus interesses pessoais ou do partido acima do bem da nação. Da mesma forma, devem receber, no entanto, uma margem de confiança ao reconhecerem explícita ou implicitamente um erro na sua gestão, e têm a coragem de mudar o rumo do navio.

Dilma, com a decisão que acaba de tomar, a de colocar o presente e o futuro imediato econômico do país em mãos mais ortodoxas e neoliberais do que exigia a esquerda de seu partido, provou que desta vez ouviu aquele grito da rua: “Em primeiro lugar, o Brasil”.

Há, dentro de suas tropas e dos que se sentem órfãos da campanha eleitoral contra a direita, pessoas que começam a falar de traição à causa e da admissão, pelo menos de forma implícita, que a política econômica de seu primeiro mandato havia fracassado.

Traição ou sabedoria? “Sapientis est mutare consilium”, diziam os filósofos latinos, ou seja, são sábios aqueles que têm a coragem de mudar de ideia. É o caso de Dilma, que teria tido o bom senso de entender que, pelo bem do Brasil, precisava de mudar de rumo para salvar o navio que começava a afundar?

É o que parece, a julgar pela raiva que sua decisão tem despertado nas pessoas que preferiam uma Dilma incapaz de mudar, porque, segundo eles, há uma única verdade na política, que nunca deve ser mudada, nem frente às evidências dos fatos, sob pena de trair a causa e a ideologia.

E se, ao contrário, têm razão os que ainda alimentam a esperança de que também esta manobra arriscada de Dilma possa ser parte de uma operação maquiavélica que pretende fingir que se tratou de uma mudança na economia quando, na verdade, ela continuará sendo a capitã do navio e sua nova equipe apenas serão comparsas que ela será capaz de domar com o tempo?

E por que não podemos lhe dar, neste momento, uma margem de confiança de que se tratou de uma decisão, talvez até dolorosa para ela de que, como pedia a maioria não só dos 51 milhões de cidadãos que votaram contra ela, mas também muitos daqueles que a preferiram nas urnas, o mais importante, o primeiro, o indiscutível, é que na hora de decidir deve-se levar em conta, que “antes” e “acima de tudo”, está o futuro Brasil?

De um Brasil, além do mais, rico, criativo e com vontade de triunfar, que pode e merece mais do que uma economia agonizante, deprimida e sufocada pelos golpes da corrupção. Uma economia que, no final, devolveria os pobres de volta a seu antigo inferno de pobreza e marginalização, como pode ser observado nos países corroídos por um populismo anticientífico e antieconomicista incapaz de criar bem-estar, nem mesmo para os mais pobres.

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