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Partidos estimam que até 100 políticos sejam pegos no caso Petrobras

Temendo serem flagrados na Operação Lava Jato, congressistas já procuram escritórios de advocacia para prepararem suas defesas

O presidente do Senado, Renan Calheiros, em agosto.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, em agosto.Waldemir Barreto

Em abril, logo após surgirem as primeiras informações do esquema de corrupção da Petrobras e dois dos cabeças do grupo presos começarem a falar com a polícia, havia políticos que alardeavam aos quatro ventos de que o Congresso brasileiro iria abaixo com as denúncias. No ato do dia do trabalho, promovido pela Força Sindical em 1º de maio, em São Paulo, alguns desses políticos diziam que ao menos três dezenas de congressistas estariam envolvidos nos atos de corrupção. Até então quase nenhum nome de investigados pela Operação Lava Jato havia vindo à tona.

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Em outubro, a grita comum do período eleitoral era de que mais de 70 deputados e senadores seriam implicados na rede de corrupção da petroleira. De cima de um caminhão-palanque em um ato pró-Aécio Neves, na capital paulista, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (que preside o partido Solidariedade) foi categórico: “Esse governo não vai se sustentar. Tem entre 70 e 100 deputados envolvidos com o petrolão”.

A expectativa dele e dos outros de seus colegas está próxima de se concretizar. O escândalo de desvios de ao menos 10 bilhões de reais que parecia grudar apenas nos partidos governistas, porém, é mais amplo. Conforme oito líderes partidários ouvidos pelo EL PAÍS nesta semana, as principais legendas brasileiras se preparam para uma enxurrada de críticas por terem seus correligionários envolvidos nas denúncias e, pior, de batalhas nos tribunais.

Falando sob a condição de não terem seus nomes divulgados, esses dirigentes de partidos estimam que entre 60 e 100 congressistas, a maioria deles deputados e ex-deputados, estejam em vias de serem investigados pela ligação com a quadrilha que tomou conta da maior companhia brasileira entre 2004 e 2012, entre os governos petistas de Lula da Silva e Dilma Rousseff. “Não tem como fugir. Vai sobrar para todo mundo. Pelo que temos visto será uma carnificina”, disse um dirigente partidário.

Parlamentares já começaram a consultar advogados sobre o passo a passo de um processo jurídico e de como se livrar da prisão

Conforme os representantes partidários, alguns parlamentares já começaram a consultar advogados sobre o passo a passo de um processo jurídico e de como se livrar da prisão. Dois escritórios de São Paulo, um de Minas e um do Rio confirmaram, sem dar nomes, que foram sondados por congressistas nas últimas três semanas.

A rede política não envolve apenas os integrantes da base do Governo Dilma Rousseff, mas também oposicionistas. O Solidariedade, do deputado Pereira da Silva, por exemplo, já tem um de seus membros investigados pela própria Câmara: o deputado Luiz Argôlo, da Bahia. Ele é suspeito de ter ligação com o doleiro Alberto Yousseff, um dos chefes do esquema que foi preso e assinou um termo de delação premiada com a Justiça. Outros implicados nesta trama pela mesma razão é o deputado André Vargas, que foi expulso do PT. Ambos respondem a processos de cassação de mandatos na Câmara.

Considerados peixes pequenos na política brasileira, os nomes de Vargas e Argôlo deverão rapidamente sumir do noticiário. Vazamentos feitos à mídia já mostraram que surgiram nos depoimentos os nomes dos presidentes da Câmara e do Senado, Henrique Eduardo Alves e Renan Calheiros, ambos do PMDB. O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e ex-governadores como Sérgio Cabral, do PMDB do Rio de Janeiro, e do finado Eduardo Campos, do PSB de Pernambuco, também teriam sido citados. Os envolvidos e seus correligionários negam qualquer irregularidade.

Até o fim do ano, conforme noticiou nesta quinta-feira a Folha de S. Paulo, o Ministério Público Federal deverá começar a apresentar uma série de denúncias contra todos os políticos com foro privilegiado (deputados, senadores, governadores). Para evitar a demora no julgamento, os políticos poderão ser acusados um a um ao invés de grupos, como foi no mensalão. Dessa forma, o julgamento seria mais célere.

Vai sobrar para todo mundo. Pelo que temos visto será uma carnificina", afirmou um dirigente partidário

Nos últimos dias, o juiz Sergio Moro, o responsável por conduzir o processo, tem ouvido críticas dos advogados dos quase 30 presos na operação. A principal é de que ele tem escondido provas e ocultado os nomes dos políticos para que os processos não sejam retirados de Curitiba, onde despacha na primeira instância, para o Supremo Tribunal Federal, em Brasília. Como resposta às reclamações, o magistrado tem dito que as apurações ocorrem dentro da legalidade.

Após prender executivos das maiores empreiteiras brasileiras, deter ex-diretores da Petrobras, comprovar o pagamento de propinas e influenciar os procedimentos internos da Petrobras, a Operação Lava Jato deve agora mostrar toda sua ramificação política. E, pelo visto, não será nada pequena.

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