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Coluna
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Que Lula fale sobre a Petrobras

Os brasileiros ainda seguem dando um voto de credibilidade ao carismático ex-presidente que transformou esse país dando voz a milhões de pobres

Juan Arias

É impossível separar o ex-presidente Lula do caso que sacode a Petrobras e das sequelas que os escândalos estão causando. Como um editorial desse jornal escreveu, Lula havia identificado a Petrobras com o Brasil, com seu futuro de prosperidade, com o orgulho da petrolífera, então invejada pelo resto do mundo.

Estão aí as imagens de Lula com as mãos manchadas de óleo, vestido com o uniforme da Petrobras, lançando uma imagem de ilusão ao país.

Hoje, tanto Lula como a presidenta Dilma Rousseff estão na boca de todos como os principais responsáveis do bem e do mal da Petrobras. Um magistrado do Supremo chegou a dizer que, comparado com esse novo escândalo, o do mensalão poderia ser objeto de um simples caso das “pequenas causas”.

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Dilma já falou. Assegurou que seu governo não colocará obstáculos às investigações judiciais, algo óbvio, porque fazê-lo seria um crime.

Ela assegurou que “não deixará pedra sobre pedra” na busca dos supostos corruptos que atuavam como uma máfia dentro da maior empresa do país, e que se hoje esses “desvios de conduta” são conhecidos, e é melhor chamá-los de crimes contra o patrimônio nacional, é porque nunca a Polícia Federal foi tão atuante na busca pelos culpados.

O problema, entretanto, é que os brasileiros desejariam saber da Presidenta recém eleita nas urnas se ela sabia ou não, quanto sabia e desde quando, do que se tramava em uma empresa da qual ela esteve sempre tão próxima e responsável por conta dos cargos nela exercidos.

Após as últimas denúncias da imprensa de que ela e Lula haviam sido avisados, anos atrás, de que havia algo de podre na Petrobras, que estava sendo saqueada por diretores e gerentes nomeados por ela e Lula, é urgente, que tanto a Presidenta como o ex-presidente, falem com sinceridade à nação, se for necessário para reconhecer culpas e apresentar uma proposta de ajuste.

E sobretudo Lula deveria falar, ele que foi o grande impulsor da petrolífera apresentando-a ao mundo como exemplo de empresa nacional bem sucedida e que deu a Dilma grandes responsabilidades sobre ela.

Lula agiu dessa forma quando estourou o escândalo do mensalão. Na época, jurou à nação que não sabia daqueles abusos, que havia sido traído por alguns de seus companheiros de partido que acabaram na cadeia.

O Brasil acreditou nele e voltou a reelegê-lo. Mais tarde, preferiu considerar o mensalão como um simples golpe político da direita contra o PT e seu Presidente ex-sindicalista. Mas já havia sido reeleito.

Agora, talvez ainda mais do que Dilma, que na realidade sempre foi uma subordinada de seu criador Lula, é ele quem deveria tranquilizar uma sociedade incrédula com o que está acontecendo.

O Brasil está vendo presidentes e diretores das grandes empresas do país, alguns amigos pessoais de Lula que haviam trabalhado junto com a petrolífera em concessões milionárias de obras, dormindo na prisão e fazendo confissões que colocam o mundo político em polvorosa. E se espera a lista maldita dos políticos acusados de corrupção, que parecem ser um exército.

Os brasileiros ainda seguem dando um voto de credibilidade ao carismático ex-presidente que, em seu primeiro governo, transformou esse país dando voz a milhões de pobres, até então abandonados no esquecimento.

Uma palavra de Lula, sincera, crível, talvez pedindo perdão, sem buscar bodes expiatórios; um compromisso com a nação de agir para colocar o Brasil sobre os trilhos dos quais parece ter descarrilado – e não somente em sua política econômica –, poderia ser a única possibilidade para frear uma onda de descrédito, desconfiança e desilusão que começa a serpentear na até ontem feliz e esperançada sociedade brasileira.

Uma sociedade que começa ser vista no exterior sob a luz sombria do escândalo da Petrobras, já considerado como o mais grave caso de corrupção político-empresarial do mundo democrático moderno, cujas consequências, sejam econômicas ou políticas, são hoje muito difíceis de se imaginar.

Lula poderia contar tudo o que sabe para a nação originando uma saudável catarse que diga respeito não somente aos brasileiros mas para todos os que fora do país acreditaram e esperaram no presente e no fornecimento do gigante americano e de suas grandes reservas petrolíferas, hoje sob grave suspeita.

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