As gigantes emoções de Ron Mueck
Obras do artista australiano chegam à Pinacoteca de São Paulo Os trabalhos encantam pela simplicidade em proporções guliverianas
Rugas, dobras e marcas de expressão em bonecos que reproduzem formas humanas, em proporções guliverianas. Não é exagero dizer que o impacto proporcionado pelo trabalho do artista australiano Ron Mueck é do tamanho de suas obras. Filho de fabricantes de bonecos, Mueck se notabilizou mundialmente pelo hiperrealismo de suas esculturas, construídas em seu ateliê em Londres, com resina, fibra de vidro, silicone e acrílico. Hoje é considerado um dos artistas contemporâneos mais importantes da Grã-Bretanha e referência mundial.
Parte dos seus trabalhos está exposta desde quinta-feira na Pinacoteca de São Paulo. Depois de 20 anos desenvolvendo bonecos e marionetes para programas de TV e cinema – ele integrou a equipe de Labirinto, por exemplo, filme de animação dos anos 80 - Mueck decidiu transpor seu talento para o mundo das artes plásticas.
A lógica do australiano era simples. Em escalas maiores, suas esculturas também trariam um impacto emocional e psicológico muito maior. “Elas permitem perceber o todo de um modo que um objeto em proporções normais não deixariam”, disse ele certa vez numa de suas raras entrevistas. Quem vê seus trabalhos, de fato, garante que poderia ficar horas observando os detalhes. Os poros, o suor, a expressão de obras, como Mulher com galhos, de 2008, e a Máscara II, de 2002, que vieram para a Pinacoteca, depois de encantar os cariocas, durante a exposição no Museu de Arte do Rio de Janeiro. Máscara é um auto-retrato do artista, uma cabeça deitada com a boca semi-aberta.
É nas imperfeições humanas retratadas em suas peças que se encontram o maior reconhecimento do hiper-realismo do artista. Isso é visível na obra mais recente, Casal debaixo do guarda-sol, construída no ano passado, e que também está na Pinacoteca. As dobras da barriga da mulher, que observa seu parceiro, que tem a cabeça apoiada em uma de suas pernas, são o exemplo dessa preocupação de Mueck pela humanidade. O homem, por outro lado, olha para o infinito com o braço apoiado na própria testa, enquanto mantém as pernas dobradas. Uma posição tão casual, e que ao mesmo tempo expõe o enorme desafio de reproduzir o prosaico na forma de uma obra de arte.
“Não penso nos meus trabalhos como simples manequins. Por um lado, tento criar uma presença crível. E por outro, eles precisam ser objetos. Não são pessoas vivas, embora seja bacana ficar em frente a elas e duvidar se são reais ou não”, comentou Mueck certa vez. Para cumprir seu objetivo, o artista trabalha os detalhes ao extremo, buscando a verossimilhança para captar o espectador. Cabelos, sobrancelhas, cílios, músculos, barrigas um pouco flácidas. São essas características que levar o espectador a se emocionar, ao se ver refletido em personagens tão parecidos com ele.Em uma de suas obras mais conhecidas, Dead Dad, de 1996, feita em homenagem à memória do seu pai, Mueck aplicou amostras dos seus próprios cabelos.
A exposição na Pinacoteca de São Paulo fica até fevereiro. Os visitantes poderão assistir, ainda, a um documentário que mostra o artista trabalhando em seu ateliê, na Inglaterra.
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