O celular desafia o uso do carro
Os aplicativos que indicam transportes alternativos reduzem o uso de veículos privados
O celular se transformou no comando à distância de novas formas de transporte. Um clique traz um motorista à sua porta, outro indica o estabelecimento mais próximo para alugar um carro por algumas horas, mais um mostra os rostos de motoristas que desejam compartilhar a viagem (por meio de uma carona), e o último clique põe viajantes em contato para comprarem juntos os assentos do trem com 60% de desconto. Esta chuva de apps (aplicativos para dispositivos móveis) tem como objetivo suprimir o uso de carros particulares. Os criadores dessas ferramentas afirmam que ter veículo próprio é antieconômico, e que sua utilização pode ser substituída com o uso combinado de todos esses aplicativos disponíveis. E as fabricantes de veículos já começaram a responder, a Daimler (fabricante da Mercedes) já opera uma frota de veículos através do Car2go.
O autosserviço de carros da Respiro Car Sharing, que funciona em Madri baseado no número de horas de uso, garante que o custo anual de um carro médio que percorre 12.000 quilômetros supera 5.000 euros (cerca de 15.600 reais). “É um desperdício se ele só é usado para ir e voltar do trabalho, ou nos finais de semana, que é o habitual”, afirmou Agustín de Saralegui, responsável pelo Marketing da empresa que em apenas quatro anos disponibilizou 2.000 veículos em 85 garagens próprias na cidade. A Respiro Car Sharing se expande como uma mancha de óleo para estar a cinco minutos, a pé, de seus clientes, que usam os veículos diariamente ou para fazer compras no fim de semana. “Alugamos por preços a partir de dois euros (cerca de 6 reais) por hora, e ficam ocupados 60% do tempo. Um carro da Respiro substitui entre 15 e 20 carros particulares, mas não as outras formas de transporte. Nossos clientes também pegam ônibus, metrô e táxi. Somos complementares”, esclareceu Saralegui. A Frost & Sullivan prevê que empresas como a Respiro, que têm 3,3 milhões de veículos em todo o mundo, alcancem os 26 milhões em 2020.
A Cabify apresenta uma solução para popularizar o serviço de motoristas particulares – muito comum entre os ricos – a preços imbatíveis. A empresa oferece, através de um app, carros pretos impecáveis, sem publicidade no exterior, e com motoristas de terno que abrem a porta para o cliente entrar. “Damos um preço fechado, haja ou não engarrafamentos, que é 20% mais barato que o dos táxis. Usar nosso serviço é 60% mais rentável que ter carro particular só para o fim de semana, 49% mais econômico que ter carro próprio para usar de segunda-feira a sexta-feira, e 14% mais barato em relação ao uso diário”, garantiu Juan de Antonio, fundador da Cabify, por telefone. Ele se encontrava no Peru, como parte de seu périplo para estender o serviço para a América Latina. A empresa emergente espanhola alcançou um recorde na captação de financiamento externo.
A Cabify tem 2.000 carros divididos entre as capitais de Peru, México e Chile, e em sete cidades espanholas. E ao longo de 2015 estará disponível em mais cidades nestes mesmos países, e também na Colômbia. “Uma razão para o nosso êxito é a segurança. Nossos motoristas estão identificados, possuem licença VTC (veículos de transporte com motorista), e cumprem os requisitos legais. O cliente recebe a informação no app ao contratar o serviço”, explicou Juan de Antonio. Além disso, o aplicativo da Cabify mostra o itinerário do carro contratado em um mapa, e o cliente pode ver onde está, o caminho que faz e quando chega à sua porta. “Alguns nos contratam para buscar as crianças no colégio”, contou Antonio. Os carros pretos não buscam clientes pelas ruas e nem têm áreas públicas de estacionamento, como ocorre no caso dos táxis.
Os programas de informática para compartilhar viagens de carro entre as cidades baratearam o transporte privado. A maior rede social do ramo em todo o mundo é a francesa BlaBlaCar, que conseguiu 10 milhões de membros em 13 países europeus desde 2009. Em um ano, quase quadruplicou o número de usuários mensais (de 600.000 a dois milhões), em parte, por ter disponibilizado o serviço na Rússia e na Turquia. “Revolucionamos os mercados nos quais entramos. Inclusive na Rússia, habituada a compartilhar viagens de carro, a prática disparou ao ser divulgada na web e por apps”, informou Vicent Rosso, encarregado da BlaBlaCar na Espanha e em Portugal. Seu aplicativo está instalado em cinco milhões de celulares, e o crescimento de seu uso é tão acelerado como o da empresa, entre 130% e 150% anualmente. “Inclusive, após começar a cobrar uma comissão pelo serviço, como ocorreu na Espanha, continuamos crescendo porque damos muita informação para fornecer segurança ao motorista e aos usuários. Temos uma equipe de 180 pessoas (10 na Espanha) para ajudar com problemas que possam surgir na viagem”, acrescentou Rosso.
A fórmula de compartilhar trajetos parece não ter limites. É usada tanto por mochileiros e jovens com necessidades de baratear custos, como por diretores fartos de se locomoverem sozinhos. A BlaBlaCar se dispõe a arrasar o mundo com sua entrada na Índia – projeto ao qual destinará grande parte dos 75 milhões de euros (aproximadamente 234 milhões de reais) obtidos de fundos de investimento –, e na América Latina. Depois virá o resto da Ásia.
A taxa de crescimento de sua concorrente, a Amovens, disparou na Espanha, 1.700% no último ano, com um modelo diferente. A Amovens chega ao grande público, mas seu forte é desenvolver plataformas de carro compartilhado sob medida para destinos específicos como universidades, centros empresariais, empresas, administrações, festivais e eventos. Tem clientes como a Ericsson e a Ford. “Parte do crescimento foi por ser a plataforma mais barata, não cobramos comissões. Nosso modelo de negócio são os patrocínios, e em 2015 abriremos outras frentes para que possamos nos manter assim”, explicou o porta-voz da empresa.
O centenário trem iluminou novas formas de compartilhar que também se disseminaram através dos celulares. A oferta da Renfe (Rede Nacional de Trens Espanhóis) de diminuir em 60% o preço das passagens para aqueles que compartilharem a compra dos quatro assentos, um de frente para o outro, nas mesas do AVE (serviço de trens de alta velocidade espanhóis) impulsionou a criação de plataformas que põem em contato pessoas que têm interesse em fazer o mesmo trajeto. O Compartir Tren Mesa AVE, por exemplo, conseguiu, em seis meses, formar uma comunidade de 20.000 passageiros organizados graças a seu app e seu perfil no Facebook.
Enquanto isso, a Fazenda espanhola está de olho na Uber. A gigante mundial dos carros com motorista está presente em 225 cidades de 45 países, causa revolta entre os taxistas dos países onde a empresa tem veículos dirigidos por condutores sem licença VTC. “A Fazenda tem planificado atuações de controle da economia digital para detectar possíveis formas de fraude fiscal”, afirmou o Governo em referência à legalidade da Uber. A empresa opera na Espanha como UberPOP, assim como no resto da Europa. Dessa forma, ela controla o app que põe em contato motoristas e usuários, além de ser a ponte entre eles para realizar o pagamento pelo serviço.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.
Mais informações
Arquivado Em
- BlaBlaCar
- Carsharing
- Apps
- Transporte sustentável
- Aplicações informáticas
- Empresas
- Telefonia celular multimídia
- Economia
- Programas informáticos
- Celular
- Informática
- Telefonia
- Indústria
- Telecomunicações
- Comunicações
- Consumo colaborativo
- Hábitos consumo
- Consumidores
- Consumo
- Mobilidade
- Tecnologia
- Ciência
- Carros
- Veículos
- Transporte