Pequim recebe o apoio da APEC para a sua zona de livre comércio
O presidente chinês, principal defensor da proposta, qualifica o anúncio como “histórico”
Os 21 líderes reunidos na cúpula do Fórum da Cooperação da Ásia e Pacífico (APEC, na sigla em inglês) deram nesta terça-feira um precavido primeiro passo rumo a um Acordo de Livre Comércio da Ásia e Pacífico (FTAAP). O apoio à definição de um mapa para esse processo representa um triunfo para o Governo da China, que é o principal defensor da proposta e pressionou fortemente em favor dela ao longo da cúpula. “Decidimos começar o processo de estabelecimento de um FTAAP e adotamos um mapa para conseguir isso”, disse a jornalistas o presidente da China, Xi Jinping, que qualificou o anúncio como “histórico”, por ser “o lançamento oficial do processo”. O pacto demonstra “a confiança e o comprometimento dos membros da APEC em promover a integração econômica regional”, salientou.
Uma possível zona de livre comércio abrangendo todos os membros da APEC incluiria mais da metade do PIB e 44% do comércio do planeta. Mas os Estados Unidos já deixaram claro que sua prioridade é outro projeto de integração comercial, de tamanho mais reduzido, a Parceria Trans-Pacífico (TPP), formada por 12 países da APEC, entre eles México, Chile, Peru, Canadá, Japão e Austrália – mas não a China. As negociações rumo a esse acordo comercial avançam com lentidão, entre outros motivos pela reticência do Japão em liberalizar seu setor agrícola, embora o presidente dos EUA, Barack Obama, tenha dito que nota “um impulso” rumo a um acordo.
Tentando emendar as relações com a China, tensas nos últimos meses, Obama se mostra muito conciliador na etapa pequinesa da sua viagem pela Ásia, e na terça-feira demonstrou um moderado apoio à iniciativa da FTAAP, exposta inicialmente em 2006, mas abandonada até que a China retomasse a ideia. “Quero elogiar a China por centrar-se neste ano naquilo que a APEC pode fazer para contribuir com o sucesso da Zona de Livre Comércio da Ásia e Pacífico”, disse Obama. “As muitas iniciativas regionais contribuirão para seu futuro sucesso. Vemos nossa implicação na TPP como uma contribuição para esse esforço.”
A declaração de Obama é mais uma das cuidadosas manobras que as duas grandes potências efetuaram nos últimos dias para suavizar a tensão dos últimos meses. Embora persistam diferenças em áreas como a espionagem eletrônica e os direitos humanos, os dois países preferem adotar uma atitude pragmática e enfatizar as áreas onde pode haver colaboração, como o Afeganistão e a luta contra o ebola. Os primeiros resultados já surgiram: na segunda-feira foi anunciado um acordo para flexibilizar mutuamente a concessão de vistos, e nesta terça os dois países divulgaram um acordo que elimina tarifas de produtos de alta tecnologia. Os dois países, os mais poluentes do planeta, também revelaram um entendimento para ampliar a cooperação contra a mudança climática, numa reunião entre o vice-premiê chinês, Zhang Gaoli, e o secretário de Estado dos EUA, John Kerry.
Obama e Xi manterão uma reunião bilateral formal na quarta-feira, no Grande Salão do Povo, em Pequim. Na noite de terça (manhã no Brasil), eles conversaram de maneira menos protocolar no complexo governamental de Zhongnanhai, num longo jantar que se estendeu por duas horas além do previsto. Em declarações no começo da noite, Obama afirmou a Xi que deseja levar a relação bilateral “a um novo nível”.
Houve outros contatos diplomáticos ao longo do dia. Paralelamente à cúpula, Xi conversou com o seu colega filipino, Benigno Aquino, sobre as disputas territoriais que seus países mantêm, enquanto Obama aproveitava para manter até três breves conversas com o presidente russo, Vladimir Putin, sobre as crises da Ucrânia, da Síria e do Iraque, segundo a Casa Branca. Precisamente por causa da crise ucraniana, os dois líderes, que nunca mantiveram uma relação particularmente calorosa, se distanciaram ainda mais. Putin conversou também com o primeiro-ministro australiano sobre a ação que resultou na queda do voo MH17 da Malaysia Airlines, sobre o leste da Ucrânia.
Mas a China dominou a cúpula recém-encerrada. Uma China que quis deixar clara sua pujança em cada detalhe, da criação de um complexo hoteleiro e um lago especialmente para a reunião plenária ao luxo da cerimônia de boas-vindas para os líderes. O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, que na segunda-feira se reuniu com Xi pela primeira vez em seu mandato, salientou no dia seguinte que a China e o Japão “se necessitam mutuamente”. E o presidente chinês, que começou a reunião regional propondo a realização de um “sonho da Ásia e Pacífico” e anunciando 40 bilhões de dólares para uma nova Rota da Seda, encerrou a cúpula na terça-feira com um acordo que, segundo ele, dará “um novo impulso” à APEC.
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