OTAN intercepta 15 aviões russos que sobrevoavam o espaço europeu
Incursões aéreas coincidem com a prorrogação das sanções econômicas da UE a Moscou
![Lucía Abellán](https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/https%3A%2F%2Fs3.amazonaws.com%2Farc-authors%2Fprisa%2Fedf41fa9-ff1c-4e26-a54a-2a73e563e5b5.jpg?auth=46e5d0084352962bc59788c5c734f33691e83ce3c263e96f1124698bad2cf2d1&width=100&height=100&smart=true)
![Caça sueco, em manobra da OTAN.](https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/JEFYWUKCSE53DAAEZ2NMP6O5NM.jpg?auth=e02e997c4437fa9b7ccf3f61b0dcdd9acaa076fdd88113a476e764f324e76346&width=414)
A Rússia exibe sua musculatura militar aos vizinhos da OTAN. A Aliança Atlântica alertou nesta quarta-feira que quatro grupos de aviões militares russos haviam realizado “manobras militares significativas no espaço aéreo europeu”. Nos dois últimos dias, a OTAN interceptou 15 aviões que sobrevoaram os países bálticos, o mar do Norte e o mar Negro, sendo que dois deles chegaram a se aproximar de Portugal. Isso representa “um nível incomum de atividade aérea sobre o espaço aéreo europeu”, segundo nota da organização.
A presença dos aviões em território europeu sem aviso prévio às autoridades de aviação civil reflete a vontade russa de manter a tensão com os países da OTAN por causa do conflito na Ucrânia, onde uma frágil trégua vigora desde 5 de setembro. Fontes aliadas interpretam esses movimentos como uma tentativa de Moscou de testar a aliança militar ocidental e, ao mesmo tempo, demonstrar que tem amplas capacidades militares.
A OTAN ofereceu detalhes de duas operações. Na última, registrada na tarde desta quarta-feira (hora local), oito aeronaves russas penetraram no território europeu pelo mar do Norte. Assim que foram detectados, vários caças noruegueses F-16 saíram ao seu encalço, e seis dos aviões russos retornaram ao seu território, embora outros dois tenham seguido até Portugal, de acordo com o comunicado do comando supremo da OTAN para a Europa (SHAPE, na sigla em inglês). Na terça-feira, sete caças surgiram no mar Báltico e foram identificados por um avião alemão pertencente às forças da Aliança que estão mobilizadas para vigiar o espaço aéreo dessa região. A OTAN intensificou a presença dessas missões em decorrência dos atritos com a Rússia por causa da guerra civil na Ucrânia – momento de maior tensão entre Moscou e o Ocidente desde o fim da Guerra Fria.
Em nenhuma das duas incursões no espaço aéreo europeu foram registrados incidentes, embora a organização político-militar insista em que essas manobras, por não terem sido comunicadas às autoridades que gerem o tráfego aéreo, acarretam “um risco potencial à aviação civil”, uma vez que os caças não podem ser detectados pelas torres de controle, apenas por outros aviões militares.
Embora não seja a primeira vez que o Kremlin desafia seus vizinhos ocidentais dessa maneira —a OTAN registrou 100 movimentos desse tipo no último ano, o triplo de 2013—, os movimentos registrados em 28 e 29 de outubro coincidem com uma deterioração das relações diplomáticas entre a Rússia e a União Europeia. Moscou anunciou na segunda-feira a intenção de reconhecer as eleições que os separatistas do leste da Ucrânia planejam para o fim de semana. Na quarta-feira, Bruxelas reagiu lamentando a decisão e exigindo que o Kremlin respeite os acordos de cessar-fogo firmados em 5 de setembro, que excluíam a legitimidade de eleições — salvo as locais— nessa região.
Também na segunda-feira, a UE decidiu ampliar as sanções econômicas aplicadas contra a Rússia desde julho (incrementadas em setembro com um pacote que dificulta o acesso ao capital europeu e impõe barreiras ao setor energético). Os países membros consideraram que a situação sobre na Ucrânia continua confusa e que não cabe uma suspensão da punição. Por enquanto não se cogita um endurecimento, mas os diplomatas não descartam essa opção se a tensão continuar.
Os choques entre os dois blocos impedem também o fim da guerra do gás entre Moscou e Kiev, que deveria ter sido terminada há semanas e que voltou a ser discutida ontem em Bruxelas. A Comissão Europeia tenta mediar o conflito que mantém a Ucrânia sem fornecimento de gás russo desde junho por divergências sobre a dívida de Kiev com o gigante russo Gazprom.