As vacinas do ebola não chegarão, na melhor das hipóteses, antes de janeiro
Primeiros resultados de protótipos desenvolvidos em laboratório canadense sairão no fim do ano

A Organização Mundial da Saúde (OMS) espera poder enviar as primeiras vacinas contra o ebola aos países afetados (Guiné, Libéria e Serra Leoa, até o momento) no começo do próximo ano, disse hoje em uma videoconferência Marie-Paule Kieny, diretora geral adjunta da OMS e porta-voz habitual para assuntos de pesquisa de medicamentos (foi ela quem comunicou que se considerava ético dar tratamentos ainda não testados a infectados pelo ebola).
A organização está à espera dos resultados dos testes de dois protótipos de vacina, o NIAID/GSK, desenvolvido pelo laboratório farmacêutico GlaxoSmithKline, e o VSV-EBOV, da Agência de Saúde Pública do Canadá, que enviou 800 ampolas à OMS. A metade dos voluntários para as primeiras fases do teste acelerado a que serão submetidos os protótipos será recrutada na Suíça, em Lausanne e em Genebra. Além disso, há outra série de fármacos experimentais com os que se espera começar a trabalhar no ano que vem. No dia 1 de novembro começarão os testes em humanos.
A excepcionalidade da situação acelerou um processo que normalmente levaria quase uma década. O que se pretende agora é, uma vez provada a segurança das vacinas em uma fase I acelerada, levá-las aos países afetados, onde se poderá confirmar se protegem ou não.
A Agência Europeia de Medicamentos lembrou que todos os tratamentos e vacinas contra o ebola podem ser considerados medicamentos órfãos, usados habitualmente para doenças raras (que afetam menos de 5 a cada 10.000 pessoas). De fato, na Europa o ebola é uma doença rara (houve apenas um contágio autóctone, o da auxiliar de enfermagem espanhola Teresa Romero). Com isso, não apenas os testes são acelerados, como também se conseguem ajudas e isenções perante a agência.
As vacinas, que são fundamentais para conter as infecções –a do HIV é esperada há 15 anos e é considerada chave para erradicá-lo–, são apenas uma das ferramentas para deter a epidemia. Outra muito importante é fazer o teste o quanto antes para, na medida do possível, receber suporte (ou tratamentos quando existirem) de imediato e tentar conter a infecção desde o principio. Como foi constatado na Espanha, a detecção do ebola no sangue requer um laboratório especializado e leva várias horas. A Comissão para a Energia Atômica da França, que também tem uma seção de pesquisa básica, está trabalhando em um dispositivo de teste rápido similar aos que já existem para o HIV ou para medir o diabete que, com uma gota de sangue ou de saliva, detecte o vírus em 15 minutos. O protótipo ainda está em testes, mas seria um importante avanço e permitiria reorientar a outras necessidades os recursos dos laboratórios para o diagnóstico.