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O remédio experimental contra o ebola não chegará à África

Já houve 10 testes de vacinas e tratamentos. Todos fracassaram

Folhas de tabaco são usadas na produção do medicamento experimental no laboratório de biotecnologia Mapp.
Folhas de tabaco são usadas na produção do medicamento experimental no laboratório de biotecnologia Mapp.KENTUCKY BIOPROCESSING / HANDOU (EFE)

O soro experimental para ativar a resposta imunológica contra o ebola não chegará à África. O laboratório que o fabrica, Mapp Biopharmaceutical, antecipou ao Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos que apenas dispõe de algumas dezenas de doses, as necessárias para realizar um teste em fase I em humanos, durante o qual se recruta um grupo bem pequeno de voluntários, já que o objetivo neste momento é avaliar a segurança do fármaco e não a sua eficácia.

O medicamento foi batizado de ZMapp, produzido à base de anticorpos criados no sangue de ratos e que se aderem às células infectadas pelo ebola para evitar sua evolução, com o auxílio de folhas de tabaco, está sendo administrado aos dois norte-americanos infectados, que foram repatriados, e ao espanhol Miguel Pajares, em Madri. Na África, onde no momento há mais de 800 pessoas vivas com o diagnóstico confirmado da doença, a demanda excede a capacidade de produção.

Além disso, há sérias dúvidas sobre a sua segurança. Segundo publicou a revista Science Translational Medicine em agosto de 2013, o teste em macacos não foi precisamente um êxito retumbante. Naquele teste, o vírus foi injetado em 11 macacos. Quatro deles não receberam nenhum tratamento e aos outros sete foi administrado o protótipo. Todos os animais que não foram tratados morreram. Mas também morreram quatro dos sete macacos que receberam as injeções de anticorpos, o que aponta uma eficácia de 43%. E isso com expressivos problemas de anemia, febre, complicações no metabolismo e trombocitopenia.

Analisando as cifras, a conclusão é muito curiosa: a mortalidade entre os macacos foi de 57%, praticamente a mesma constatada na região da África onde ocorre o surto (54%, 961 mortes em 1.779 casos registrados, segundo o último balanço da OMS, embora a cepa ebola-Zaire tenha provocado taxas de mortalidade de 90%).

Esses números requerem muita cautela. Se as equipes de saúde já têm problemas para localizar e isolar os cidadãos da Guiné, Serra Leoa, Libéria e Nigéria afetados, o efeito de uma mortalidade superior ou igual depois do tratamento pode ser devastador.

Embora o ebola seja uma doença bem pouco comum, também demonstrou ser muito difícil de tratar ou prevenir. A página da web clinicaltrials.gov, que registra todos os testes clínicos de produtos que se pretende comercializar nos EUA, inclui 10, entre vacinas (quatro) e tratamentos. Todos eles eram de fase I, a que avalia a segurança do produto. Dois foram suspensos ou retirados, o que indica que os efeitos adversos impediram sua continuidade. E nenhum dos demais chegou a ter os resultados publicados, o que é o indicador mais evidente de que não produziram resultados. Neste semestre, os EUA começarão a testar uma vacina, mas esse medicamento também não servirá para os já infectados.

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