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Crise em Iguala provoca uma tempestade política no México

Governo teme que a incapacidade de frear a violência no país prejudique a economia

Jan Martínez Ahrens
Um policial mexicano vigia as fossas de Iguala.
Um policial mexicano vigia as fossas de Iguala.JORGE DAN LOPEZ (REUTERS)

A contagem regressiva se acelerou no México. A descoberta de outras quatro fossas clandestinas em Iguala e novas confissões de pistoleiros despejam as últimas dúvidas sobre o paradeiro dos 43 estudantes de magistério desaparecidos. Tudo está a ponto de explodir. Apenas falta a confirmação oficial de que os cadáveres carbonizados e enterrados nas proximidades da pequena cidade de Guerrero pertencem aos alunos de magistério presos pela Polícia Municipal na noite de 26 para 27 de setembro, depois de uma cruel perseguição que acabou com seis mortos e 17 feridos. Poucos duvidam do resultado, mas enquanto não chega, o país presencia uma onda de consternação sem precedentes no mandato do presidente Enrique Peña Nieto.

As enormes manifestações dos pais e colegas dos estudantes, apoiadas por uma fortíssima onda de solidariedade, acompanham as exigências de organizações internacionais, entre elas da própria ONU, para que o caso seja resolvido com rapidez. As nuvens carregadas escureceram o cenário político. Intelectuais e empresários aderiram às críticas. E destacaram o coração do problema: a incapacidade das forças de segurança de controlar a violência, sendo lentas e sem habilidade na hora de prender criminosos que conseguem sequestrar e desaparecer com dezenas de estudantes.

O Governo, consciente do terremoto iminente, colocou mãos à obra. Na segunda-feira o próprio Peña Nieto, em uma mensagem nas redes de TV, mostrou-se “indignado” diante dos fatos e anunciou que não deixaria o mínimo resquício de impunidade. Depois disso, enviou uma tropa de choque contra o tráfico de drogas recém-criada, para assumir o controle de Iguala. O mesmo caminho foi seguido pelo diretor da Agência de Investigação Criminal, Tomás Zerón, responsável pela prisão de El Chapo Guzmán, o traficante mais procurado do planeta. Mas essas medidas não conseguiram acalmar os ânimos.

O presidente, que no México costuma planar sobre os vendavais cotidianos, teve que insistir que os culpados serão punidos e que nada vai impedir a perseguição dos criminosos. “Temos que ir a fundo e, passo a passo, chegar aos responsáveis, àqueles que por negligência ou por sua atuação permitiram que isso ocorresse e que, infelizmente, se confirmado, fez com que jovens estudantes perdessem a vida. Trata-se de um acontecimento verdadeiramente desumano, praticamente um ato de barbárie, que não pode marcar o México”, disse Peña Nieto. Suas palavras foram ecoadas, em rigorosa sequência, pelas mais altas autoridades de segurança mexicanas. Um após o outro se manifestou para mostrar a determinação do Governo na solução do caso.

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O vulcão, apesar dessa mobilização oficial, não deixou de fumegar. A onda de indignação gerada pelo desaparecimento dos jovens, de origem humilde, as imagens de desolação de seus pais e a cólera de vários intelectuais e amplos setores da sociedade ameaçam romper os diques e alcançar a fibra mais sensível do Executivo: a economia. Até o secretário da Fazenda, Luis Videgaray, que não costuma se envolver em questões de segurança, alertou publicamente que qualquer percepção negativa sobre o México pode afetar a atração de capital, o principal objetivo do Governo.

O escândalo pelo sequestro e mais que provável assassinato dos estudantes de magistério não é um fato isolado, mas remete a um mal estar anterior, difuso, mas amplo, causado pela chamada matança de Tlatlaya. Uma operação contra o tráfico de drogas que no fim de junho resultou na morte de 22 pessoas. A chacina foi apresentada à opinião pública com uma versão improvável, alegando que as mortes eram fruto de uma troca de tiros. A versão foi confirmada, apesar de suas inúmeras contradições, por todas as autoridades encarregadas da investigação oficial.

Toda essa defesa caiu por terra quando, graças ao depoimento de uma sobrevivente, descobriu-se que os militares haviam matado a sangue frio 21 dos supostos traficantes. Esse brutal episódio de guerra suja, embora tenha sido punido com uma fulminante reação presidencial, que levou à prisão dos militares implicados, piorou a imagem já arranhada dos responsáveis de segurança. A essa desconfiança somou-se a frágil reação política no próprio estado de Guerrero, governado por Ángel Aguirre, um dinossauro de estilo déspota cujo mandato no território caiu nas mãos do tráfico de drogas, tornando-se o estado mais violento do México. Sua resistência em abandonar o cargo aumentou a tensão, sendo criticado por seu próprio partido, o PRD (de esquerda), e reforçou a sensação de que nada mudou.

Nessa panela de pressão, as investigações avançam com lentidão exasperadora. Por enquanto, a procuradoria prendeu sob a acusação de homicídio 34 pessoas, entre policiais municipais e pistoleiros (sem distinção entre eles em muitos casos). Mas nenhum dos detidos deixam de ser peões de um jogo mais amplo e obscuro. Os mandantes do crime continuam livres. Tanto o prefeito de Iguala como o chefe da Polícia Municipal estão foragidos. No caso do prefeito, cujos vínculos com o narcotráfico são revelados a cada dia com mais clareza, descobriu-se que, para espanto geral, goza de imunidade legal, concedida por um juiz federal dois dias antes dos fatos.

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