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América Latina

Retração econômica põe em risco ascensão da classe média

Agência Moody’s afirma que a falta de confiança dos investidores afetou o crescimento

Felipe Betim
Agricultores argentinos que sofreram perdas pelas tempestades.
Agricultores argentinos que sofreram perdas pelas tempestades.reuters

A maioria dos latino-americanos que passaram a fazer parte da classe média na última década continuam vulneráveis. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), embora 56 milhões de latino-americanos tenham saído da pobreza entre 2000 e 2012, cerca de 200 milhões, um terço da população total, poderiam voltar a ser pobres em caso de crise. A ONU, que publicou esses dados em agosto, faz coro agora ao mundo financeiro, que prevê que o crescimento da classe média na América Latina será freado pela desaceleração econômica, segundo um estudo da Moody’s divulgado esta semana. O relatório afirma que a ascensão social foi resultado, sobretudo, do aumento do poder aquisitivo (mais crédito e melhores salários), sem que estivesse acompanhado de uma mudança estrutural.

O estudo da agência de classificação de risco avalia que o crescimento econômico dos últimos 10 anos se refletiu diretamente na queda do desemprego e no aumento da renda. “Agora, é o contrário. O que está acontecendo, por várias razões, é uma desaceleração econômica na região, o que vai segurar o crescimento da classe média”, afirma Gersan Zurita, vice-presidente sênior da Moody’s e coautor do relatório. O banco BBVA projeta que a expansão econômica da região aumentará de 1,6% em 2014 para 2,5% em 2015. Essa melhora seria impulsionada pela Aliança do Pacífico (Colômbia, Peru, México e Chile) que estima um crescimento de 4% em 2015.

Entre os motivos mencionados, Zurita destaca a lenta recuperação dos EUA e da Europa mas, acima de tudo, a desaceleração econômica da China. O boom de sua economia na última década favoreceu as exportações de bens agrícolas e minerais provenientes da América Latina, aumentando a dependência econômica da região em relação a Pequim. “Mas agora a China já não está comprando como antes. E com uma menor demanda global, os preços caem”.

Apesar disso, Zurita diz que as políticas domésticas, que afetaram a confiança tanto de consumidores quanto de investidores, tiveram uma maior influência sobre o baixo crescimento econômico. No caso do Brasil, cujas estimativas apontam para uma expansão de apenas 0,9% este ano, o estudo avalia que o modelo de crescimento baseado no consumo se esgotou, devido às altas taxas de juros e ao endividamento privado. “Há uma mescla preocupante de inflação e pouco crescimento. Uma inflação de 6% ao ano é normal para um país emergente, mas não quando o crescimento é de apenas 1%”, explica Zurita. Ainda assim, o estudo vê como positivos os avanços sociais dos últimos dez anos.

A agência é mais pessimista em relação à Argentina, devido à sua “incontrolável inflação, elevadas taxas de juros e difícil situação de recessão”. Além disso, acredita que as reformas estruturais conduzidas pelo México e pela Colômbia terão efeitos positivos sobre o crescimento econômico no longo prazo.

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