Putin reafirma seu poder na Crimeia anexada enquanto Kiev ataca Donetsk
Dois civis morreram pelo impacto de um obus na cidade bastião dos pró-russos
O presidente russo, Vladimir Putin, exibiu seu poder nesta quinta-feira na Crimeia, a península anexada pela Rússia em março. Diante dos principais dirigentes russos e parlamentares da Crimeia, que se reuniram na cidade de Yalta, Putin destacou que a Rússia deve seguir se desenvolvendo, ainda que sem se isolar. “Devemos construir nosso país tranquilamente, com dignidade e eficácia, sem nos isolarmos do mundo exterior e sem romper as relações com nossos parceiros; mas sem permitir que nos tratem depreciativamente”, assegurou o mandatário russo.
A viagem de Putin para a Crimeia – a segunda que realiza à península desde a anexação – tem um grande componente simbólico, como demonstrou o grande desembarque de ministros, parlamentares e altos funcionários russos em um território que, para a União Europeia, Estados Unidos e muitos outros países, segue sendo parte da Ucrânia. O Ocidente impôs sanções para a Rússia por esta anexação, que foram contestadas pelo Kremlin há uma semana com o veto de grande parte das importações de alimentos desses países para a Rússia.
A visita de Putin coincidiu também com vários ataques com artilharia pesada à cidade de Donetsk, um dos bastiões dos rebeldes pró-russo, que lutam há meses com o exército ucraniano. Pelo menos dois civis morreram e outros ficaram feridos pelo impacto de uma granada que caiu em uma universidade desta cidade, da autoproclamada República Popular de Donetsk (no leste da Ucrânia). Nos últimos três dias morreram 74 civis na região, de acordo com as autoridades regionais.
O mandatário russo, que assegurou que seu país fará tudo o que estiver em suas mãos para que o conflito na Ucrânia termine “o mais cedo possível”, se defendeu das acusações de intervir na anexação da Península da Crimeia. Putin reconheceu entretanto que o Exército russo interveio na região para “garantir” a realização do referendo que causou a anexação. “Realmente utilizamos nossas forças armadas, mas somente para dar às pessoas que vivem nesse território a possibilidade de expressar sua opinião sobre seu futuro”, afirmou o presidente russo, que destacou que a Crimeia é um território “historicamente russo” que se integrou a Ucrânia em 1954. Para Putin, a Crimeia “pode desempenhar um papel unificador único para a Rússia, convertendo-se em uma espécie de fonte espiritual; outra linha de reconciliação entre vermelhos e brancos”.
Em um discurso de tom conciliador mas também firme, Putin advertiu que continuará defendendo os interesses nacionais. “Todos os nossos parceiros no mundo deveriam entender que a Rússia, como qualquer outro poderoso país soberano, tem várias vias e meios para defender seus interesses nacionais, e que esses meios incluem as forças armadas. Mas isso não é uma panaceia e não pretendemos, como outros, ir correndo pelo mundo com uma faca agitando-a em todos os lugares. Mas todos devem entender que nós também temos estas coisas em nosso arsenal”, disse. O presidente russo disse também que a Rússia deverá vender seu petróleo e seu gás em euros, para evitar que o “monopólio” do dólar prejudique a economia russa. “Estamos negociando com alguns países a mudança de divisa no comércio”, disse em Yalta. Essa iniciativa implica que os Estados que comprarem esses produtos terão de trocar os dólares ou euros, por exemplo, por rublos, o que poderá facilitar que o valor da moeda russa se mantenha.
Comboio humanitário
Putin assegurou que segue com imensa atenção os acontecimentos na Ucrânia, um país, disse, que “afundou em um caos sangrento”, e aonde “se desatou uma enorme catástrofe humanitária”. O Governo russo enviou para a região um comboio com ajuda humanitária composto, afirmam, por 2.000 toneladas de alimentos (açúcares, cereais, conservas de carne, alimentos para bebês), remédios, geradores elétricos e sacos de dormir. O envio, composto por 280 caminhões, suscitou receios, tanto na Ucrânia – que pede que inspetores internacionais inspecionem o conteúdo dos caminhões – como na comunidade internacional. A coluna de veículos iria cruzar na quarta-feira a fronteira na província de Carcóvia, mas não o fez. Se desconhece o paradeiro do comboio, no momento, ainda que pelo menos cem caminhões tenham passado a noite na cidade russa de Voronej.
As autoridades ucranianas advertiram que a ajuda não poderá entrar no país a bordo de caminhões russos, levar escolta russa nem ser acompanhada por pessoal do Ministério de Situações de Emergência, que Kiev não considera uma instituição civil, e sim militar. Ainda que o porta-voz do presidente ucraniano Piotr Poroshenko, Sviatoslav Tsegolko, tenha declarado que o Governo da Ucrânia decidiu, após uma reunião, aceitar a ajuda destinada a Lugansk.
Um alto funcionário da Cruz Vermelha Internacional viajará para Kiev e Moscou para negociar com as autoridades a distribuição da ajuda humanitária. “Os procedimentos para cruzar a fronteira e os trâmites aduaneiros ainda precisam ser esclarecidos entre ambas as partes”, declarou nesta quinta-feira para a Reuters a porta-voz dessa organização, Anastasia Isyuk.
Além disso, o Parlamento ucraniano aprovou nesta quinta-feira a lei de sanções contra a Rússia. A norma outorga ao Conselho de Segurança Nacional e Defesa a capacidade de bloquear ativos, limitar operações comerciais, limitar ou suspender o trânsito de mercadorias e aviões, impedir a fuga de capitais, suspender o cumprimento de compromissos econômicos e financeiros, anular licenças, limitar ou suspender os serviços de correios.
A lei contempla também a possibilidade de limitar ou fechar meios de comunicação – incluindo online – limitar ou proibir a entrada de barcos em águas territoriais e portos ucranianos, e de aviões no espaço aéreo nacional, assim como sua aterrissagem na Ucrânia; o cessar da vigência de acordos comerciais, projetos conjuntos e programas industriais; a suspensão dos intercâmbios culturais, a colaboração científica, os contratos nas esferas da educação e esporte, e outras sanções.
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