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O fantasma da recessão começa a rondar a economia brasileira

Economistas projetam um aumento de demissões para este ano e um quadro de ‘estagflação’ até 2015

Carla Jiménez
Dilma Rousseff no ultimo dia 17 no Palácio de Itamaraty.
Dilma Rousseff no ultimo dia 17 no Palácio de Itamaraty. UESLEI MARCELINO (REUTERS)

Havia tempo que a palavra recessão estava descartada do dicionário brasileiro. Mas, os últimos indicadores divulgados nesta semana, como a prévia da inflação acima da meta estabelecida pelo Banco Central, e uma redução dos ganhos salariais em grandes capitais, fizeram os economistas perderem a timidez para falar sobre o assunto. “Já estamos entrando em uma recessão, num ligeira recessão”, diz o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos interlocutores da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula.

“O desempenho da economia no segundo trimestre será negativo”, diz Belluzzo que prevê demissões nas empresas até o final do ano, o que pode promover um terceiro trimestre estagnado, portanto, dentro do que o mercado costuma chamar de “recessão técnica”, quando a economia não cresce por dois trimestres seguidos. No caso de três consecutivos, se configura a recessão clássica.

O setor industrial já vem registrando saldo negativo de emprego (mais demissões que contratações) há três meses. A construção civil também começou a contabilizar cortes de pessoal no mês de junho, segundo o último levantamento do Ministério do Trabalho

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Ao todo, foram criadas 25.300 vagas, a menor geração de vagas formais registrado para o mês desde 1998, observa o Departamento de Estudos Econômicos do banco Bradesco.

Nesta quinta-feira, dia 24, a pesquisa mensal de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou, ainda, um recuo nos salários em quatro grandes capitais entre maio e junho: em Recife, por exemplo, houve queda de 1%, em Belo Horizonte, -2,2%, no Rio de Janeiro, -0,5%, e em São Paulo,-1,6%. 

Alessandra Ribeiro, sócia da consultoria Tendências, diz que o cenário vai ficar bastante delicado a partir de agora. “Além de um PIB negativo no segundo trimestre, os dados dos primeiros três meses do ano podem ser revisados para baixo, o que já nos colocaria em recessão técnica”, afirma. Entre janeiro e março deste ano, o país cresceu 0,2%, mas se o dado for revisto para baixo, o desempenho será negativo.

Ribeiro lembra que os números ruins de junho levaram todas as consultorias a revisarem para baixo o crescimento do PIB do país neste ano. A Tendência, por exemplo, passou de 1,3% para 0,6%. O próprio Governo já havia reduzido sua expectativa, de 2,5% para 1,8%, conforme projeção do Ministério do Planejamento.

A inflação persistente, acima da meta de 6,5%, já pesa nos custos das empresas, que devem promover novas demissões. O Bradesco projeta um cenário de elevação gradual da taxa de desemprego ao longo do segundo semestre, com uma taxa média de desemprego de 5,2% neste ano e de 5,7% em 2015.

Os números revelam que o setor empresarial se mantém em compasso de espera, um quadro típico dos anos eleitorais. Quem tem investimentos a fazer, prefere esperar a troca de comando para definir sua estratégia de atuação.

Estagflação

A economia estagnada com inflação em alta cria um círculo vicioso que é o pesadelo de todo governante. Com preços mais altos, o consumidor adia a compra. Sem vender, os empresários adiam seus planos de investir. Sem investimento, não há incentivo para novas contratações. E diante dessa perspectiva, o trabalhador fica mais cauteloso, portanto, menos animado para se endividar.

Na terça-feira, dia 22, o IBGE divulgou a prévia da inflação de julho que se mantém nos 6,51% em 12 meses, embora apontando para uma desaceleração.

Para aumentar o labirinto, a inflação alta faz o Banco Central manter os juros altos, o que encarece o custo do dinheiro para o empresário e o consumidor. Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta quinta-feira, o BC assegurou que manterá a taxa básica de juros em 11%, admitindo uma inflação persistente neste ano e no ano que vem, maior inclusive do que havia sido projetada no mês passado.

A margem de manobra para virar esse jogo, no curto e médio prazo, é mínima e o quadro de estagnação com inflação, ou estagflação se torna inexorável. “Esse quadro de estagflação pode durar por seis meses. Mesmo com a entrada de um novo presidente”, diz Fabio Silveira, da GO Associados, que não dá tanta importância ao eventual status de recessão. “É só um nome. O fato é que a economia está parada”, completa.

Se houver alguma injeção de ânimo importante, os resultados econômicos mais positivos só vão aparecer em 2016, calcula Silveira, que prevê uma expansão de apenas 0,5% para o PIB deste ano. Mas para isso, é preciso oferecer um farto leque de opções para o crescimento do setor produtivo, que garanta o aumento da oferta e das exportações, que perderam o vigor de outrora com o fim do ciclo de valorização das commodities. Leia-se facilidades para investir, redução de burocracias, e apoio na busca de novos mercados para exportar. Medidas que são colocadas de pé apenas no longo prazo.

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