_
_
_
_

“Mamá Rosa é inocente”

O ex-presidente Fox e conhecidos da detida pelo escândalo da Grande Família saem em sua defesa, enquanto a Procuradoria encontra novos abusos

Jan Martínez Ahrens
Um dos dormitórios do internato.
Um dos dormitórios do internato.PGR

A detenção de Rosa del Carmen Verduzco, de 79 anos, por supostos abusos cometidos em seu internato de Zamora (no estado mexicano de Michoacán), geraram uma onda de adesões. Familiares, conhecidos, intelectuais e até o ex-presidente Vicente Fox vieram em sua defesa. “Mamá Rosa, sou solidário contigo. Sei todo o bem que fez a milhares de crianças e jovens, ânimo, te mando um forte abraço”, expressou Fox em uma mensagem do Twitter. Sua esposa, Marta Sahagún, foi mais incisiva, ao qualificar a prisão como “injustiça brutal contra uma mulher boa, generosa e conhecidíssima”.

Contra a versão da promotoria que investiga o lugar, chamado de A Grande Família, como um centro de horrores onde centenas de menores viviam amontoados e semi-escravizados, conhecidos e parentes afirmam que ela não cometeu nenhuma violência nem a consentiu. “Ela é inocente, e o ocorrido é uma vergonha. Pode ser que algum abuso possa ter acontecido em um centro com 500 internos, pode ser que algum funcionário tenha se excedido, mas ela não tinha consciência nem promoveu ou quis nada disso. É uma mentira”, afirmou o sacerdote Alfonso Verduzco, parente da presa.

Para esse religioso, o Governo fez uma exibição de força desmedida, buscando ocultar outros problemas. “Trazer o Exército é um exagero. Quem vão enfrentar? Ela tem 80 anos. E isso sobre a miséria: dona Rosa come e vive aqui como um deles. Não há dinheiro, e muita comida é doada, mas não se oferece nada podre. Essa é outra mentira”, disse o sacerdote, insistindo que a diretora do internato foi alvo de muito ódio ao longo dos anos: “Com os pais sempre houve conflitos, porque entregam seus filhos quando são bebês e quando chegam a oito ou nove anos querem tirá-los de lá para colocá-los para trabalhar ou mendigar. E dona Rosa se nega a devolvê-los se ainda não terminaram seu plano de estudos”.

O historiador Jean Meyer, bom conhecedor do centro, expressou-se na mesma linha. “O que ocorre aqui é um linchamento. Ela está sendo tratada como uma narcotraficante. Pode ser que tenham sido registradas irregularidades, mas o lar não está podre. É uma mulher que fez tudo por si própria e da maneira que pôde. São décadas de luta por crianças desamparadas, que ninguém cuidava”, disse Meyer.

Contra esses protestos, apoiados por intelectuais da classe de Enrique Krauze, o procurador geral, Jesús Murillo Karam, insistiu na quarta-feira em sua versão e, para fortalecê-la, revelou novos horrores. “Interrogamos mais de 12 vítimas, e o relato é ainda mais amplo, o que nos gera uma terrível inquietação. Os primeiros surpreendidos pelo tamanho do problema fomos nós mesmos, junto com organizações nacionais e internacionais. Todos considerávamos que era um centro no qual podia-se confiar, que tinha prestígio”. Ainda assim, Karam deixou no ar a responsabilidade maior sobre os abusos. “Temos que ser cuidadosos na hora de determinar quem são os responsáveis, porque também existem heróis dentro desse caso terrível e escandaloso”, afirmou.

Os investigadores levaram a público os abusos, muitos de caráter sexual, revelados por seis vítimas. Entre essas declarações, destaca-se uma mulher que narrou como havia sido retida no albergue contra sua vontade desde os 18 anos e, após ficar grávida pelo estupro de “um dos administradores”, foi espancada brutalmente para que abortasse. Outra vítima revelou a existência de um cubículo denominado ‘Pinóquio’, de apenas três metros cúbicos, onde eram presos os castigados durante longos períodos de tempo sem água nem comida. A Procuradoria também detalhou que no lar, além da "fauna nociva", foram retiradas 20 toneladas de lixo dos espaços comunais. O relato, repleto de casos de abusos físicos e comida podre, finalizou com um golpe direto em Mamá Rosa: “Outra das vítimas diz que foi para lá enganada, pois a fundadora ofereceu liberar sua prima em troca de sua permanência, mas quando entrou, não deixou nenhuma das duas sair”.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_