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Um míssil derruba um avião malásio com 298 ocupantes no leste da Ucrânia

A aeronave fazia a rota entre Amsterdã e Kuala Lumpur. As agências de inteligência dos Estados Unidos concluíram que o avião foi derrubado por um míssil terra-ar

Equipes de emergência entre os corpos.Foto: reuters_live | Vídeo: Reuters-LIVE! / Reuters
Pilar Bonet

Um Boeing 777 da companhia aérea da Malásia (Malaysia Airlines), em trânsito de Amsterdã a Kuala-Lumpur, caiu nesta quinta-feira na região ucraniana de Donetsk, na zona de conflito armado entre as autoridades centrais de Kiev e os rebeldes independentistas. No avião viajavam 298 pessoas – 283 passageiros (entre eles, várias crianças) e 15 membros da tripulação. Ninguém sobreviveu.

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Entre os falecidos, 173 eram holandeses; 28 da Austrália; e 28 da Malásia (incluindo os 15 tripulantes e dois bebês). As demais vítimas são da Indonésia (12, incluindo outro bebê), do Reino Unido (9), Alemanha (4), Bélgica (4), Filipinas (3), Nova Zelândia (1) e Canadá (1), segundo explicou um porta-voz da companhia no aeroporto de Amsterdã, informa Isabel Ferrer. Há 35 pessoas cujas nacionalidades ainda permanecem desconhecidas.

As equipes de resgate conseguiram recuperar 181 cadáveres, que serão levados provavelmente à cidade de Karkiv, atualmente sob controle do Governo central, segundo anunciou um porta-voz ucraniano de Relações Exteriores. Os separatistas pró-russos asseguraram que, depois do ocorrido, encontraram uma das caixas pretas do avião, e esta manhã a equipe de resgate ucraniana recuperou a segunda, segundo confirmou um cinegrafista da agência Reuters que esteve no local do impacto.

O presidente ucraniano não hesitou em chamar a tragédia de "ato terrorista", enquanto seu colega russo, Vladimir Putin, atribuiu a responsabilidade a Kiev por ter renovado a ofensiva no leste do país. Na quinta-feira, o presidente russo insistiu que o fato demonstra a necessidade de que se chegue o quanto antes a um acordo de paz no conflito no leste da Ucrânia, segundo o Kremlin. Putin destacou, além disso, que o acidente exige uma investigação "escrupulosa e objetiva".

"Pelas famílias dos mortos devemos descobrir o que aconteceu exatamente e quem é responsável", enfatizou o primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, para quem a resposta inicial da Rússia sobre a tragédia na qual 27 cidadãos australianos morreram, foi "profundamente insatisfatória" por se limitar a culpar a Ucrânia sobre o sucedido, informa France Press. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, convocou para hoje um gabinete interministerial de crise para analisar a situação, anunciou Downing Street em um comunicado.

A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) informou que um grupo de especialistas irá nesta sexta-feira ao local do impacto do avião da Malaysia Airlaines, depois que os rebeldes russos que controlam a zona garantissem a segurança dos observadores e dos investigadores internacionais. A OSCE, além disso, anunciou que fará uma reunião extraordinária nesta sexta-feira para analisar o fato.

Entre as vítimas há um grupo de passageiros – quase cem, segundo Interfax Media – que se dirigiam à conferência internacional sobre a Aids, que estava prevista para começar no domingo na cidade australiana de Melbourne. Um dos mortos é o holandês Joep Lange, um dos especialistas mais reconhecidos no mundo sobre Aids.

As agências de inteligência dos Estados Unidos chegaram à conclusão de que o avião foi derrubado por um míssil terra-ar, mas ainda não conseguiram averiguar quem o lançou, informa Sílvia Ayuso de Washigton. Uma fonte de um organismo de segurança disse à CNN que um radar tinha registrado como um sistema de míssil terra-ar rastreava um avião justo antes de do desastre do Boeing. "Essa é uma zona em disputa. Vai demorar para reunir informação sobre as intenções de quem estiver envolvido", declarou outra fonte ao Washington Post.

Sem chegar a confirmar as acusações, o vice-presidente Joe Biden deixou claro que o Governo norte-americano não acredita que o desastre tenha acontecido por acidente. O avião "aparentemente foi derrubado, não foi um acidente", disse o número dois do Governo em Detroit. Biden falou um pouco antes com o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, a quem reforçou a oferta de ajuda feita por Barack Obama, de colaborar no que seja necessário para averiguar "o que aconteceu e por quê".

Tragédia aérea na Ucrânia (leia em espanhol). Fonte: Flightradar24.com, Malaysia Airlines e agências. / EL PAÍS
Tragédia aérea na Ucrânia (leia em espanhol). Fonte: Flightradar24.com, Malaysia Airlines e agências. / EL PAÍS

Míssil Buk

A aeronave voava a 10.600 metros de altura e se encontrava a 60 quilômetros da fronteira russa quando caiu envolvida em uma enorme e densa nuvem de fumaça negra, em um campo próximo à localidade de Shajtersk, a 80 quilômetros de Donetsk. Em torno aos restos do Boeing, em parte carbonizados e em chamas, ficaram espalhados os restos mutilados dos passageiros e seus pertences. O território do acidente está em uma zona controlada pelos rebeldes da autodenominada República Popular de Donetsk (RPD). As autoridades ucranianas em Kiev e os independentistas em Donetsk imediatamente trocaram acusações mútuas sobre a derrubada do avião.

Anton Geráschenko, o conselheiro do ministro do Interior da Ucrânia, manifestou em Kiev que o avião tinha sido derrubado por rebeldes independentistas com a ajuda de um complexo antimísseis Buk (um sistema sofisticado e moderno, segundo os especialistas russos). Geráshenko afirmou ao canal de televisão Dozhd que seu departamento tinha dezenas de testemunhas do lançamento de um míssil nas proximidades da cidade de Snezhnoe (na zona controlada pelos separatistas). Geráshenko acusou também a Rússia de ter entregado os Buk a combatentes da RPD. Os rebeldes tentaram fabricar complexos de mísseis desse tipo há aproximadamente um mês nas proximidades de Lugansk, mas seus equipamentos resultaram defeituosos, segundo afirmava o canal russo de televisão Russia-24.

Representantes da RPD declararam a este canal que carecem de meios bélicos para derrubar um avião na altura em que voava o Boeing malásio. Alexandr Baradai, o cidadão russo que dirige o governo da RPD, disse que seus lança-mísseis portáteis podiam alcançar “no máximo entre 3.000 e 4.000 metros” e acusou as Forças Aéreas da Ucrânia do acontecimento, que qualificou como “uma provocação intencionada”. Baradai disse que estava disposto a entregar a caixa preta do avião a especialistas internacionais, enquanto Andrei Purgin, presidente do Parlamento da RPD, afirmou que querem enviá-la a Moscou, um dos medos de Kiev. Por isso, Obama e Poroshenko concordaram durante conversa pelo telefone que as provas devem permanecer na Ucrânia para a investigação. Os separatistas dizem que declararam uma trégua "humanitária" na zona para facilitar.

As informações sobre os mísseis em poder dos independentistas são um pouco confusas. A agência russa Itar-Tass disse, em Lugansk, que os rebeldes não tinham sistemas Bug, mas, no fim de junho, tinham informado que os separatistas haviam conseguido o controle de uma dessas unidades. As informações dos especialistas entrevistados pelos canais russos de televisão sobre os Bug, se podiam ter alcançado o Boeing ou não, também não eram suficientemente claras. Em 2001, as forças aéreas da Ucrânia derrubaram por um equívoco, sobre o mar Negro, um avião civil da companhia russa Sibir que se dirigia de Tel Aviv a Novosibirsk com 66 pessoas a bordo. O acontecimento, sem sobreviventes, foi motivado por um erro de cálculo ao disparar um míssil com um sistema S-200.

A queda do Boeing malásio foi precedida por várias quedas de aeronaves. Na quinta-feira, o porta-voz do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, Andriy Lysenko, acusou a Rússia de derrubar um avião militar SU ucraniano na quarta-feira à noite. O piloto do avião se salvou pulando. As autoridades da Ucrânia afirmaram que os mísseis que derrubaram a aeronave foram disparados do território da Rússia. “É possível que o disparo tivesse sido realizado por meio de mísseis ar-ar das forças aéreas russas que estavam patrulhando a fronteira”, manifestou um porta-voz do ministério da Defesa da Ucrânia.

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