A maldição do quinto jogo
O México enfrenta a Holanda com o peso histórico de nunca ter se classificado para as quartas de final em uma Copa do Mundo em outro país
O México pode entrar neste domingo em um território desconhecido. A seleção dirigida por Miguel Piojo Herrera nunca chegou a disputar as quartas de final em uma Copa do Mundo organizada fora de seu país. A única vez que a seleção Tri alcançou o quinto jogo foi no México-1986. Desde então, somente decepções. São mais derrotas do que alegrias. Nesse sentido, a Copa do Mundo no Brasil pode ser um ponto de mudança histórico. A Holanda de Van Gaal, com os magníficos Robben e Van Persie, é o último obstáculo para acabar uma vez por todas com a maldição do quinto jogo que tanto assombra o futebol mexicano.
Os adversários da Holanda não jogam em um campo de flores, mas sim em um terreno minado. Van Gaal continua o caminho de Van Marwijk, o antigo treinador, que levou a Holanda à final da Copa da África do Sul, tendo como base um futebol simples e direto. Em 2010, eles perderam contra a Espanha, mas ficaram a um passo de conseguir o título inédito. Na primeira fase da Copa-2014, a Holanda foi a equipe que mais fez faltas, 69. Há algo de justiça poética nesta nova forma que eles têm de entender o jogo. A Laranja Mecânica liderada por Johan Cruyff perdeu duas finais consecutivas com uma proposta alegre e despreocupada. Os De Guzmán e De Jong atuais parecem fazer o contrário, com a ânsia de quem persegue os fantasmas que bateram nas feridas de Cruyff e Neeskens.
O time de Herrera não parece ser do tipo que se contrai. Diante de proposta de jogo duro do Brasil na segunda partida da fase de grupos, o México respondeu com a faca entre os dentes. Há uma jogada daquele duelo que resume o jogo e é uma extensão da atuação mexicana na Copa até agora: o ponta Marco Fabián subindo no corpo do brasileiro William. O jogador de Jalisco parecia escalar uma escada invisível que não o levava a lugar nenhum, o lance tinha um ponto absurdo, mas mandava a mensagem aos rivais: os mexicanos só irão embora do Brasil depois de darem o último suspiro, derrotados como os cavalos que morrem de cansaço.
A Holanda é a última armadilha para acabar de uma vez por todas com a maldição do quinto jogo
Herrera, considerado por suas excentricidades à beira do campo e pelo comportamento no comando do time um dos personagens mais importantes da Copa, é uma dessas pessoas que pensa que, no time que está ganhando não se mexe. Ele não é muito dado a mudanças. Desta vez, ele não tem alternativa. O treinador terá de introduzir uma variação tática na escalação, pela primeira vez no torneio. A suspensão de José Gallito Vázquez, o homem de contenção no meio-campo, o obriga a buscar opções. O Piolho vinha dizendo que Vázquez, um avião que sobrevoa o meio-campo apagando incêndios, era a peça principal de seu desenho. O mais provável é que o veterano Caros Salcido faça esta função de camisa 5. O veterano defensor que entrou tardiamente na lista de convocados acabará sendo importante. O treinador havia pensado em recuar Guardado para esta posição e colocar Hector Fabián no lado esquerdo, mas isso significaria mudar o esquema. Carlos Peña também poderia fazer este papel, mas sua tendência de ir ao ataque e perder o posicionamento acabaram fazendo o treinador descartá-lo.
O México tem um bom retrospecto de chegar seis vezes consecutivas para as oitavas de final, o que significa todas as Copas desde a de 1994, nos Estados Unidos, mas tem também o duvidoso recorde de nunca haver passado desta fase desde então. Parece uma barreira psicológica, algo que também atrapalhou a Espanha durante décadas, e que acontecia nas quartas de final. Passado esse trauma, a Espanha conseguiu ser campeã da Europa do mundo. Se um advogado tivesse que defender o México em um julgamento, poderia usar este precedente para convencer o jurados. Herrera não está alheio a esta verdade histórica: “Tirando 2006, na Alemanha, nas outras partidas [de oitavas de final] nos faltaram ideias. Surpreender o rival, atitude... Podemos falar muitas coisas que vimos com torcedores”. No entanto, ele não acha que neste domingo isso fará pesar as pernas e o psicológico dos jogadores. “Seguramente isso não pesará no meu time. A atitude e a determinação são preponderantes. E isso começa com a essência. Se você tem a essência, não pode mudá-la quando chega o momento mais importante”. Esse momento é agora.
A Tri deixou na sexta-feira a cidade de Santos para viajar até Fortaleza, onde enfrentará a Holanda. Mais de uma centena de torcedores cantaram para os jogadores a canção Cielito Lindo, na saída do hotel. No meio da serenata, pediram um prognóstico para Herrera. “Que eles nos esperam no México, no dia 15 de julho”, disse, referindo-se à data de dois dias depois da final no Maracanã. O Piolho não acredita em história maior do que esta que ele está escrevendo.
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