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O genoma da ovelha: os segredos da barriga e da lã

O DNA completo destes animais ilumina a teoria sobre a evolução dos ruminantes

Javier Sampedro
Ovelhas da raça Texel utilizadas para obter o genoma da espécie.
Ovelhas da raça Texel utilizadas para obter o genoma da espécie.CORDON PRESS

Um consórcio científico de oito países leu o genoma da ovelha, um dos primeiros animais domesticados na revolução neolítica, em uma tentativa de melhorar e racionalizar a produção de lã. E também de compreender os segredos do estômago dos ruminantes, cuja eficácia para digerir a grama –um dos alimentos mais pobres e úmido que existe— seria muito bem recebida pela indústria para gerar biocombustíveis mais sustentáveis, baseados nos resíduos da agricultura de alimentos convencional.

O genoma da ovelha, que levou oito anos de trabalho a 73 cientistas de 26 instituições do mundo inteiro, revela, segundo os autores, “os eventos genômicos e transcriptômicos” –isto é, as mudanças na estrutura dos genes e as variações em seus níveis e locais de ativação— que estão associados à evolução do rúmen (ou barriga, a primeira câmera do sistema digestivo dos ruminantes) e com a do metabolismo peculiar das gorduras destes animais, imprescindível para a produção de sua lã. O trabalho foi divulgado na revista científica Science.

A comparação do genoma da ovelha com o dos outros dois ruminantes sequenciados, a cabra e a vaca, foi uma luz, porque as mudanças no DNA compartilhadas por estas três espécies –e que nenhum compartilha com os demais mamíferos— despertaram o interesse sobre os processos evolutivos que criaram o estômago de quatro câmeras, que lhes permite se alimentar da grama. Estas mudanças genômicas não têm nada a ver com a domesticação destes animais, que ocorreu há apenas alguns milênios atrás. Sua evolução ocorreu, em realidade, entre 35 e 40 milhões de anos atrás, coincidindo com a diversificação da grama e das demais gramíneas terrestres. Primeiro foi o pasto, depois a barriga.

O rúmen, ou barriga, é a primeira câmera do estômago ruminante, e é a que possui a capacidade de converter a lignocelulose, a parte mais resistente e indigesta das plantas, em produtos utilizáveis pelas células do ruminante, e em último lugar a proteína animal que nós consumimos em forma de bistecas.

Os cientistas sequenciaram (lido) o genoma de duas ovelhas da raça Texel. A sequência do DNA resultou de 2,6 bilhões de bases (as letras a, g, t, c do DNA). Também analisaram a atividade dos genes em 94 amostras de 40 tecidos diferentes (como tecido muscular, nervoso, hepático e demais). A comparação deste genoma ovino com o de cabra, vaca, porco, camelo, cavalo, rato, humano e um marsupial definiu 4.850 genes ortólogos, isto é, que não só existem em todas essas espécies, como também são o mesmo gene em todas elas. Este é um material muito valioso para reconstruir de forma fiável a árvore filo-genética (ou genealógica) dos mamíferos.

Um genoma é mais o princípio que o final de uma investigação. Os cientistas predizem que o genoma da ovelha abrirá caminho para um brote de novos estudos sobre este animal que foi essencial durante milênios para alimentar e vestir a espécie humana.

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