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CRISE NA UCRÂNIA

Os combates ao redor do aeroporto de Donetsk deixam ao menos 40 mortos

O exército ucraniano assegura ter o aeródromo sob controle A Organização pela Segurança e Cooperação na Europa diz que perdeu o contato com uma equipe de observadores na zona

M. A. Sánchez-Vallejo (enviada especial)
Um soldado ucraniano é levado ao hospital depois de ser ferido durante conflito nas proximidades do aeroporto internacional de Donetsk.
Um soldado ucraniano é levado ao hospital depois de ser ferido durante conflito nas proximidades do aeroporto internacional de Donetsk.Brendan Hoffman (Getty Images)

Os combates entre as forças armadas da Ucrânia e os milicianos pró-Rússia ao redor do aeroporto internacional de Donetsk, que começaram na madrugada de segunda e se prolongaram por mais de 24 horas, resultaram em pelo menos 40 mortos, na sua maioria rebelde, confirmou o prefeito da cidade, Alexander Lukyanchenko. Fontes da auto-proclamada República de Donetsk, entretanto, reduzem as perdas em suas fileiras para 30 mortos, enquanto que o porta-voz do Exército ucraniano, Alexéi Dmitrashkovsky, estima em “mais de 150 terroristas” mortos nos enfrentamentos, uma informação que não pôde ser aferida.

Enquanto a Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) informou nesta terça que sua missão especial na Ucrânia perdeu o contato ontem à tarde com uma de suas equipes – formada por quatro especialistas – locada nos arredores de Donetsk. “A equipe encontrava-se em patrulha de rotina no leste de Donetsk quando o contato se perdeu. Não conseguimos restabelecer a comunicação até agora”, informou a OSCE em um comunicado retransmitido pela agência EFE.

A confusão em torno do número de vítimas após mais de 36 horas de combates segue sendo total. O departamento de saúde regional, responsável pela gestão dos hospitais, constatou a chegada de 35 feridos nos combates, enquanto Oleg Dimitrov, parlamentar da República de Donetsk, declarou para este diário que “ainda existem muitos mortos e feridos que não puderam ser evacuados” do recinto aeroportuário. O Exército da Ucrânia assegura ter sob seu controle o aeroporto desde as dez horas da manhã, horário local (16h de Brasília).

De qualquer forma, o confronto do aeroporto internacional de Donetsk trata-se não somente da batalha mais mortífera entre os dois lados em quase um mês de ofensiva militar contra os rebeldes, mas também a mais espetacular e significativa, pois golpeou o coração da cidade, de um milhão de habitantes e capital da República rebelde.

Na segunda, apenas uma hora depois da vitória de Petro Poroshenko em eleições tachadas de ilegais pelas autoridades separatistas, o início dos combates às portas da cidade – o aeroporto fica a somente 10 quilômetros do centro urbano – deixou a sensação de que ninguém está a salvo de um conflito que desde 2 de maio ceifou por volta de 200 vidas, entre militares e civis. O tráfego lento nas ruas, sacudidas pelo estrondoso sobrevôo dos caças, testemunhava o medo frente ao que muitos consideram o prólogo da ofensiva final contra os rebeldes.

Após uma trégua oficial dos combates durante a jornada eleitoral, a primeira tentativa dos rebeldes em tomar o aeroporto internacional Serguéi Prokofiev de Donetsk se deu as três da madrugada desta segunda (9h de Brasília), quando um grupo de homens armados irrompeu no recinto, custodiado por militares ucranianos. As 10h (16h de Brasília), dentro de três caminhões com a capota descoberta, dezenas de rebeldes em uniformes de campanha portando fuzis de assalto, membros do Batalhão Vostok (Leste) – o mais bem armado dos insurgentes – tomaram o recinto.

Uma hora da tarde (19h de Brasília) começou a ofensiva do Exército, que utilizou três aviões, dois Sukhoi Su-25 e um MiG-29, e três helicópteros de combate, assim como um número indeterminado de pára-quedistas. Vladimir Selivnoz, porta-voz da operação, da qual participaram o Exército, a Guarda Nacional e forças especiais do Ministério do Interior, confirmou a destruição de uma plataforma antiaérea rebelde nos bombardeios.

Após mais de duas horas de troca de tiros e algumas explosões que deixaram uma grande nuvem de fumaça negra, a Guarda Nacional conseguiu expulsar os rebeldes para um centro comercial próximo, um eixo vital de estradas e uma zona residencial vizinha no meio das zonas verdes, da qual numerosos civis fugiram apressadamente. Os combates alcançaram o estacionamento da nova estação ferroviária, aonde foi registrada uma vítima mortal.

O aeroporto internacional de Donetsk, cujo moderno terminal foi construído para a Eurocopa de 2012, sofre desde o início do conflito com a diminuição do número de passageiros; não são poucos os vôos internacionais que pousam quase vazios. Na segunda o aeroporto esteve fechado por conta da ofensiva militar. “Existem homens armados no interior do recinto”, disse o porta-voz do local, Dmitro Kosinov, referindo-se aos rebeldes; “razão mais do que justificada para ordenar o fechamento do mesmo e o cancelamento de todos os vôos”.

Aos combates do aeroporto somam-se outros enfrentamentos igualmente graves – na quinta passada, uma vintena de soldados morreu em Donetsk e Lugansk, e na sexta morreu em Karlovka um número indeterminado de voluntários do Batalhão Donbás – e demonstram, após uma semana de impasse, a determinação de Kiev em acabar “em questão de horas” com a revolta em uma ofensiva mais enérgica, como prometeu o presidente eleito. Para “reconquistar” a capital, o Exército é obrigado a assegurar o aeroporto, visto que os principais acessos terrestres estão em poder dos separatistas. A pouco menos de um quilômetro em linha reta, um posto de controle fortificado rebelde regula a entrada e saída de Donetsk pelo noroeste. É a principal via até Dnipropetrovsk, província vizinha e local de início da “operação antiterrorista”, que desde segunda parece ter entrado em uma nova, e talvez definitiva, fase: a batalha de Donetsk.

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