Um vídeo mostra a morte de dois palestinos em um tiroteio na Cisjordânia
O incidente ocorreu na quinta-feira passada quando alguns jovens protestavam diante de uma prisão
A ONG Defense For Children International distribuiu nesta terça-feira um vídeo que registra o momento em que dois adolescentes palestinos foram baleados na quinta-feira passada, dia da Nakba ou a “catástrofe” de seu povo, por forças de Israel. A gravação evidencia que nenhum deles era uma ameaça vital para a polícia, que não entraram em confronto direto com ela e que estavam desarmados. Um, inclusive, recebeu um disparo quando estava de costas às forças que tratavam de controlar o protesto que contra a prisão de Ofer, em Beitunia (Cisjordânia). O Exército de Israel, que nega o uso de munição neste ataque, fez questão de dizer que as imagens foram editadas e não mostram por completo a realidade do acontecido.
Para última hora da manhã do dia 25, as câmeras de um comércio gravaram os manifestantes que mostravam sua solidariedade com os presos palestinos que estão há quase um mês em greve de fome, protestando pelas detenções administrativas de Israel. No vídeo é possível ver Nadeem Nowarrah, de 17 anos, recebendo um tiro no peito quando se aproximava do grupo (aos 08 segundos do vídeo) e a seguir o que cai é Mohamed Abu Daher, de 16 anos, baleado quando dava as costas às forças israelenses (16 segundos). Ambos morreram. Outro menor, de 15 anos, segue no hospital com ferimentos graves.
A gravação acompanha o depoimento das testemunhas, facilitado para as agências locais como Maan, que afirmavam que o protesto estava a mais de cem metros dos agentes, sem entrar em choque com eles. A ONG compartilha este relato e por isso qualifica as mortes dos dois garotos como “assassinatos ilegítimos”, pois “não supunham uma ameaça direta ou imediata para a vida de ninguém”, indica em um comunicado seu diretor, Rifat Kassis. A Defense For Children International frisa além do ataque ter sido a distância, no tipo de munição empregada. Se fossem as balas de borracha habituais para dissolver massas, o dano não teria sido tão grave, sustentam. Apoiam-se, além disso, no relatório do doutor Samir Saliba, do hospital de Ramala onde os feridos foram atendidos, que assegura que o dano interno que eles tinham só podia ter sido causado por balas de verdade. O uso destas balas está limitado no Exército de Israel àqueles casos que apresentam risco às vidas dos seus efetivos.
Tanto a ONG que difundiu o vídeo como a Organização para a Libertação da Palestina reivindicam a Israel uma investigação “séria, imparcial e exaustiva” sobre o ocorrido com esses dois menores de idade, que a OLP qualifica como uma “execução deliberada”. “O uso excessivo e indiscriminado da violência por parte de Israel e também de balas de verdade contra manifestações palestinas não violentas constitui um crime de guerra e contra a humanidade, segundo o direito internacional”, denuncia Hanan Ashrawi, membro do Comitê Executivo da OLP.
Micky Rosenfeld, o porta-voz da Polícia israelense, fez questão de dizer que os agentes estavam “separando” os manifestantes, sem usar balas de verdade. O Exército explica que atuou com os meios de dispersão habituais, depois que o grupo de manifestantes queimou pneus e lançou pedras e coquetéis incendiários. Também fazem questão de dizer que suas unidades não lançaram balas reais, segundo a investigação inicial do caso. Não obstante, explicam que se segue investigando para esclarecer por completo o ocorrido.
O acontecimento se deu em uma jornada na qual se convocaram manifestações tanto em Gaza como na Cisjordânia e no leste de Jerusalém, lembrando a declaração de independência de Israel, a guerra posterior e o exílio de cerca de 700.000 palestinos. Um dia tradicionalmente tenso. O protesto principal deste ano ocorreu em Ramala, com réplicas menores em Ammán (Jordânia) e Beirute (Líbano), onde está uma parte dos refugiados. Essas marchas foram tranquilas mas, por outro lado, houve choques entre a equipe de segurança israelense e jovens palestinos em uma dezena de postos de controle cisjordanos. Na periferia de Jerusalém, cinco policiais israelenses ficaram feridos levemente pelas pedradas e12 palestinos foram presos.
A Anistia Internacional publicou em fevereiro passado um relatório denunciando o “gatilho fácil” das forças israelenses
Segundo os dados da Kassis, no último ano quatro menores palestinos morreram por disparos de Israel; desde o ano 2000, já foram 1.400. No último mês de fevereiro, a Anistia Internacional emitiu um relatório denunciando o “gatilho fácil” das forças israelenses, depois da morte, no ano passado, de 22 civis na Cisjordânia. Nenhum deles, assinalava, “parecia representar uma ameaça direta e imediata”, e entendiam que as mortes foram fruto de uma “cruel falta de consideração para a vida humana” e de força “desnecessária, arbitrária e brutal” que se aplica “quase com total impunidade”. O Exército disse que o relatório “ignora por completo o acréscimo substancial da violência palestina” em 2013 e não compreende “os desafios operativos que enfrentam”, ante o “forte incremento” de incidentes que “comprometem gravemente” civis e militares.
Outra ONG israelense, Yesh Din, acrescenta que de 2000 a 2012 houveram 3.600 denúncias contra soldados ou agentes por ataques a civis palestinos e só 3% culminou em uma acusação contra os autores. Nos últimos 13 anos se contabilizaram até 5.000 mortes, das quais só 16 passaram a ser acusações formais e sete acabaram em condenação.
A morte de Nowarrah e Abu Daher levou às ruas centenas de palestinos, que assistiram a um funeral de intensa emoção no distrito de Ramala. Nadeem, muito conhecido por sua torcida de basquete, foi objeto inclusive de uma campanha no Twitter, com a hashtag #OneForNadeem, na qual pedia um minuto de silêncio nas partidos finais da Euroliga.
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