Strauss-Kahn denunciará Abel Ferrara por difamação
O advogado do ex-diretor do Fundo Monetário Internacional considera normal que o filme não seja distribuído em cinemas, porque "é uma merda"
Na coletiva de imprensa depois do filme, o produtor de Welcome to New York sugeriu que talvez Dominique Strauss-Khan já tivesse visto o filme. Dizia isso, claro, porque desde a sua estreia em Cannes o novo longa metragem de Abel Ferrara sobre a queda em 2011 do ex-diretor do Fundo Monetário Internacional está disponível na Internet para metade da Europa. Para além da piada, parece que DSK não viu o filme, seus advogados sim. E não gostaram nada. Tanto que, nesta terça-feira, se tornou pública a notícia de que Strauss-Khan quer denunciar Ferrara por difamação.
O diretor, durante uma entrevista ao EL PAÍS e a outros meios internacionais, a qual chegou falando no celular com seu advogado, explicou que "algo assim não aconteceria nos Estados Unidos onde há liberdade de expressão". E na França há? “Descobriremos”. Depois, negou conhecer Dominique Strauss-Khan, embora, na sequência, acrescentou: "Não deveria pronunciar seu nome. Meus advogados me aconselharam a não falar sobre esse assunto".
“Meu cliente me deu instruções para apresentar uma denúncia por difamação pelas insinuações que o filme faz", declarou o advogado de Strauss-Khan, Jean Veil, para a emissora Europe 1. O jurista lembrou que seu cliente “foi declarado inocente muito rapidamente” e que “passaram três anos daqueles acontecimentos”, e por isso, considera a situação “intolerável".
É um filme antissemita e as pessoas que o difundem têm responsabilidade no antissemitismo",
disse o advogado
O que Veil não tem rememorado é que enquanto o julgamento penal contra DSK por agressão sexual acabou em nada, o processo civil se fechou com uma indenização milionária a favor de Nafissatou Diallo, a camareira que fez a acusação por violação. Por certo, a equipe de Welcome to New York, durante a coletiva de imprensa cheia de expectativa que ocorreu há dois dias em Cannes depois da projeção do filme, contou que os advogados da produtora, Wild Bunch, também assistiram ao filme. “Só por precaução”, dizim. Uma eventualidade que se tornou real.
O filme, com Depardieu na pele de Strauss-Khan embora o chame de “Deveraux”, retrata o incansável desejo sexual do protagonista. Em uma cena, ela chega em um hotel de Nova York e três prostitutas o esperam em sua suíte, e que depois são substituídas por outras duas. Depois de uma noite de paixão, na manhã seguinte, Deveraux dá em cima da camareira que vai a limpar o seu quarto e tenta abusar dela.
Segundo Jean Veil, Strauss-Kahn não viu o filme Welcome to New York, mas está "assustado e enojado" pela repercussão do lançamento no sábado passado à margem do Festival de Cannes. Diferentemente de de sua ex-mulher, Anne Sinclair, que assegurou que não dará aos responsáveis pelo filme "o prazer" de levá-los aos tribunais, Strauss-Kahn deu instruções a seus advogados de apresentar uma denúncia, informou Veil. O jurista indicou que o filme dá a entender que o ex-diretor do FMI violou uma empregada do hotel Sofitel de Nova York no dia 14 de maio de 2011, uma acusação que a justiça norte-americana acabou recusando.
"O fundamento da denúncia será a difamação e se baseará no conjunto de indícios sobre a violação e a maneira com que Dominique Strauss-Kahn é tratado", assinalou o advogado. Veil indicou que "não há dúvida" de que o filme está baseado na vida de seu cliente, como demonstram também as entrevistas concedidas por seus responsáveis. O advogado indicou que seu cliente não viu o filme "e não o verá" porque assim aconselharam pessoas próximas que viram e que o consideraram "abominável". O ex-responsável do FMI não pedirá, no entanto, a proibição do filme, porque os procedimentos são muito longos.
Próxima estação: 'Pasolini'
Todo mundo fala nestes dias de Abel Ferrara por 'Welcome to New York'. Mas o diretor quer falar de outra coisa, de seu novo projeto. Pasolini, seu filme sobre o cineasta, escritor e poeta italiano, "está sendo terminado e estará em Veneza". Ainda não se sabe se competindo ou talvez abrindo o festival.
"É uma fonte de inspiração para mim. entrevistamos mais de 100 pessoas e nenhuma disse nem uma só palavra negativa sobre ele, muito pelo contrário", relatou o diretor. E, de passagem, voltou à atualidade: "Não acho que ele me denuncie".
Veil considerou normal que o filme não seja distribuído em cinemas, mas não pela suposta censura que alegam seus responsáveis, e sim porque "é uma merda". "Acho que é porque o filme é muito ruim e por isso os dirigentes de Cannes o recusaram", disse. Afirmou que seu produtor, Vincent Maraval, "se apresentou como um cornudo cinematográfico por tentar se aproveitar do Festival de Cannes fazendo achar que era um filme maldito, mas na realidade é como um coco de cachorro, todo mundo desvia para não pisar em cima".
Veil coincidiu com Sinclair no caráter antissemita do filme. "É um filme antissemita e os atores, e inclusive o produtor, trataram de se desculpar (...) Mas os que participaram nos diálogos, os que filmaram, os que o produziram e os que a difundem, têm responsabilidade no antissemitismo", disse. Para responder a esta acusação, em sua conversa com o EL PAÍS e outros meios, Ferrara leu um email de seu montador: “Sou judeu e em nenhum momento me senti insultado. Sinclair deveria se olhar no espelho e pensar nas verdades deste filme”.
A reação do advogado de Strauss-Kahn ocorre um dia depois que Anne Sinclair, na edição francesa do Huffington Post que dirige, mostrasse seu "asco" pelo filme e criticasse duramente seus responsáveis. Welcome to New York, com Gérard Depardieu no papel de Strauss-Kahn e Jacqueline Bisset no de Sinclair, estreou no sábado passado em Cannes, à margem do Festival de Cinema que ocorre nestes dias na cidade mediterrânea francesa.
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