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“O Brasil é crucial para o futuro político do continente”

Luis Prados, responsável pelo EL PAÍS América, responde aos leitores

P. É evidente para todo mundo a política tendenciosa que EL PAÍS adota contra os governos da esquerda bolivariana. Essa política de má vontade será mantida?

R. Antes de mais nada, não existe nenhuma política de má vontade contra esses governos nem obviamente eu compartilho dessa sua premissa de que “é evidente para todo mundo” o caráter tendencioso das informações de EL PAÍS. Este jornal tem, desde a sua fundação, um ideário muito claro em favor da democracia e das liberdades, ou seja, da separação dos poderes e modernização e fortalecimento da sociedade civil. Esses governos aos quais se refere, alguns, não todos, tiveram certo sucesso na inclusão social, mas fomentam a exclusão política. Coisa com a qual EL PAÍS não pode concordar. De qualquer forma, condenar os erros ou os excessos de um governo não é sinônimo de apoiar a sua oposição.

P. Você, que já se batizou no Brasil ao criar aqui a Edição de EL PAÍS em português, como vê o posicionamento e a importância deste país no conjunto da América Latina?

R. O Brasil é um gigante no contexto latino-americano e, portanto, crucial para o futuro político, social e econômico do continente. Mas também é diferente pela língua, pela geografia e pela história. Acredito, entretanto, que a atuação exterior do Brasil não corresponde atualmente à sua potência econômica.

P. Qual é o público de EL PAÍS América? O objetivo é informar os leitores de cada país, os leitores da América em geral, os espanhóis? Para quem escrevem?

R. É um público geralmente mais jovem do que o da Espanha e com uma proporção mais igualitária entre mulheres e homens. EL PAÍS América dirige-se àqueles leitores do continente que querem estar informados das principais tendências globais. Fazemos um jornal digital que trata de descobrir a cada dia essas tendências, ao mesmo tempo em que oferecemos nossa visão, com voz própria, dos principais acontecimentos mundiais, sejam culturais, científicos ou esportivos. É um verdadeiro desafio tentar ser útil a uma audiência tão diversificada, mas que cada vez mais enfrenta problemas e dilemas comuns.

P. O que mais o impactou em sua estada no México?

R. Principalmente as pessoas, a “raça” como dizem ali. Adoro o México pinche pais chingón!

P. Bom dia. Acha que o jornal perdeu objetividade e essa parte progressista que sempre representou? Sou leitor do jornal. Obrigado.

R. Não acho que EL PAÍS tenha perdido objetividade, talvez tenha havido certo sectarismo no tratamento de alguns fatos, mas fundamentalmente este jornal continua fiel ao seu ideário que já tem 38 anos e aí estão os editoriais para demonstrá-lo.

P. Olá Luis. Compreendo o interesse, o carinho e a proximidade dos espanhóis com o México, além da questão de mercado, mas será que não há às vezes um excesso de informações sobre o México em EL PAÍS, em detrimento do que acontece, por exemplo, na América do Sul. Um abraço e saudações.

R. Talvez isso seja inevitável porque temos uma ampla redação no México, com jornalistas cobrindo a atualidade desse país diariamente, mas tenho em conta sua preocupação para melhorar de agora em diante a cobertura de todo o continente.

P. Quais as vantagens em abrir sucursais em outros países e quais os problemas encontrados?

R. Os problemas são de cunho burocrático, mas nada especial. As vantagens são óbvias, começando pela proximidade, o que permite informar sobre os fatos com maior conhecimento e precisão; e, finalmente, porque o jornal tem acesso a um universo cultural de leitores de fala espanhola e portuguesa cheio de possibilidades.

P. Na matéria de 21 de abril de 2014 publicada no El Pais on line intitulada "Rejeição incandescente do Brasil à Copa do Mundo" Alejandro Ciriza escreve: "Até a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República, há 11 anos, o Brasil era um gigante dormente imerso na pobreza". Esta imagem deturpada de que o Brasil só melhorou com Lula da Silva é mesmo uma bobagem, com perdão da expressão. As mudanças que tivemos começaram a ocorrer com Fernando Henrique em 1994 com o Plano Real.

R. Acho que você tem razão. A maior época de prosperidade e bem estar do Brasil se deu nos últimos 25 anos e sem dúvida essa etapa começou com o Plano Real e, pouco depois, sob o mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

P. Senhor Prados, a Copa do Mundo pode ser qualificada como o evento do ano na América Latina, região na qual EL PAÍS diz estar muito interessado. Pensam cobrir a atividade da seleção Tricolor (mexicana) e da seleção canarinho da mesma forma que vão cobrir a espanhola?

R. Cobriremos as três seleções com o maior interesse e a melhor disposição. Depois, logicamente, como se costuma dizer falando de futebol, os resultados é que vão mandar.

P. Luís, a projeção é de que o grupo Prisa entre plenamente no México em quantos anos? Nós, mexicanos, podemos aspirar ter um jornalismo sério, objetivo e profissional algum dia? De fato, é abismal a qualidade de redação e de informação que EL PAÍS dá aos seus leitores em comparação com qualquer jornal do México.

R. O Grupo Prisa e EL PAÍS vêm trabalhando há muitos anos no México e acho que não exagero se disser que integrado com esse país. A vocação americana deste jornal não é uma inspiração repentina nem um capricho, vem de muito tempo e irá bem além. Esse jornalismo de qualidade ao qual se refere pode ser encontrado a cada dia na web de EL PAÍS América.

P. Falemos claramente: Existe algum motivo para que seu jornal não se interesse em mencionar a tortura e o assassinato sistemático de crianças em Honduras? Apenas na semana passada houve doze torturados e assassinados...!

R. Absolutamente nenhum. Simplesmente não tínhamos essa informação no momento oportuno porque Honduras, lamentavelmente, junto com o Canadá e algumas nações do Caribe, é dos poucos países do continente em que este jornal não tem correspondente.

P. Boa tarde, mais que perguntar eu quero agradecer como venezuelano a cobertura que seu jornal deu à crise no meu país. Feito isso, quero saber qual a sua impressão sobre se este conflito cairá, como tantos outros, por desgaste, no esquecimento piedoso das coisas que já não são notícia. Saudações.

R. Minha opinião pessoal é que nem o conflito que a Venezuela está vivendo há mais de dois meses, nem suas mais de 40 vítimas não cairão no esquecimento. Obviamente, não posso adivinhar qual será seu desenlace, mas confio que, antes que seja demasiado tarde, se consiga um consenso político e deixe de se agravar a situação econômica dos venezuelanos.

Mensagem de despedida

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