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A Europa se mobiliza para salvar as eleições ucranianas

A Rússia acha que as eleições não fazem sentido no atual quadro de violência

Lucía Abellán
Andrii Deshchitsa, no Comitê de Ministros do Conselho da Europa.
Andrii Deshchitsa, no Comitê de Ministros do Conselho da Europa.EFE

A violência que se propaga com rapidez pela Ucrânia ameaça seriamente as eleições presidenciais, previstas, como as da União Europeia, para o dia 25 de maio. A diplomacia do continente intensifica seus contatos para manter o dia das eleições no calendário. Representantes de todos os Estados europeus —salvo a Rússia—, membros da OSCE (a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa, que realiza tarefas de observação na Ucrânia) e destacados mandatários dos Vinte e Oito defenderam na segunda-feira essas eleições como antídoto contra o abismo na Ucrânia.

Os ministros das Relações Exteriores destacaram a necessidade de se respeitar os direitos das minorias no país, em clara alusão aos russos

“Se não ocorrerem, será o caos e haverá risco de guerra civil”, advertiu o presidente francês, François Hollande, em Paris. Uma “grande maioria de países europeus”, em palavras do ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, defende por garantir o voto dos ucranianos no próximo dia 25. Tanto Hague como o restante dos ministros do Conselho da Europa (a organização que vela pelos direitos humanos no continente, com 47 países associados) subscreveram um comunicado que sublinha a “importância essencial de eleições presidenciais livres e justas”. E também o “importante passo” que representam na “consolidação do progresso democrático do país”. Só a Rússia, também membro desta organização, se negou a respaldar a realização das eleições.

Como contrapartida a esse apoio eleitoral, os titulares das Relações Exteriores destacaram também a necessidade de respeitar os direitos das minorias no país, em clara alusão aos russos. Foi a principal conclusão do encontro que o Conselho da Europa realizou em Viena, com os olhos voltados para a Rússia.

As eleições precisam de mais segurança para que as pessoas possam votar Didier Burkhalter, presidente de turno da OSCE e ministro das Relações Exteriores suíço

Fora da reunião, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguéi Lavrov, expressou as suas objeções. “Realizar as eleições em um momento em que o Exército está dispersado contra uma parte da população é bastante incomum”, ironizou em uma coletiva de imprensa. O encontro de Viena encenou com clareza a falta de entendimento entre russos e ucranianos, apesar de que ambas delegações se escutaram mutuamente na reunião conjunta. O chefe da diplomacia ucraniana, Andréi Deschitsa, se mostrou a favor de realizar outra rodada de diálogo (depois da estagnação dos acordos de Genebra, impulsionados pelos Estados Unidos e a UE) se Moscou apoiar as eleições. Lavrov condicionou esse diálogo à permissão da participação de representantes das zonas pertencentes à Rússia. E o ministro ucraniano descartou essa possibilidade de imediato com o argumento de que seu Governo já representa todo o país e que tampouco o resto de interlocutores envia porta-vozes de suas minorias.

Enquanto isso, a diplomacia europeia tenta conseguir o apoio da Rússia às eleições ucranianas com uma contrapartida: potencializar a maior autonomia das zonas de influência russa acelerando as mudanças na Constituição. A oferta, por enquanto, não suscita o entusiasmo de Moscou, peça-chave para que as eleições possam ocorrer.

Consciente de que a situação no terreno não favorece a via democrática, o presidente de turno da OSCE e ministro das Relações Exteriores suíço, Didier Burkhalter, pediu o cessar fogo. “As eleições precisam de mais segurança para que as pessoas possam votar”. Bulkhalter viajará na quarta-feira para Moscou para se reunir com Lavrov.

As turbulências na Ucrânia preocupam também o Ocidente pelo impacto no fornecimento energético. Os ministros do ramo do G-7 (os sete países mais industrializados do mundo) mostraram-se nesta segunda-feira “extremamente preocupados” com essas consequências e pediram que a energia “não seja usada como forma de coação política nem como ameaça à segurança”.

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