_
_
_
_
_

Panamenhos votam em paz e sem incidentes em uma disputa apertada

Os resultados serão conhecidos aproximadamente às 19 horas deste domingo, anunciou o Tribunal Eleitoral

O arcebispo do Panamá com os candidatos à Presidência e suas mulheres.
O arcebispo do Panamá com os candidatos à Presidência e suas mulheres.EFE

Em um dia de festa, confusão e alvoroço, que começou sem incidentes e em ordem, centenas de milhares de panamenhos compareceram pacificamente neste domingo para votar em 6.330 seções eleitorais em 2.700 centros educacionais de todo o país, das 07 às 16 horas, em uma das mais disputadas eleições presidenciais, legislativas e municipais da história do Panamá.

O magistrado Erasmo Pinilla, presidente do Tribunal Eleitoral (TE) pediu nesta manhã que a votação transcorresse “em paz, com transparência e sem nenhum trauma” e anunciou que espera que “a projeção extraoficial dos resultados” seja anunciada antes das 19 horas de hoje, para informar “quem é o novo Presidente eleito da República”. Para vencer é preciso de maioria simples.

Depois de passadas 72 horas do fechamento das urnas, espera-se que a Junta Nacional de Apuração proclame oficialmente os resultados da eleição do Presidente, por isso Pinilla alertou que “ninguém pode proclamar-se ganhador ou proclamar um resultado antes que o Tribunal o faça”.

Com um total de 2 milhões, 457 mil e 401 panamenhos com direito a votar, os eleitores começaram a fluir cada vez em maior número até os centros de votação, enquanto ocorriam pequenos atrasos e inconvenientes na abertura das seções e outros problemas que, no entanto, não alteraram a normalidade do processo.

“O Panamá põe em jogo hoje o futuro de muitas gerações”, disse a El País o panamenho Orlando Macafone, de 50 anos, ao sair da seção eleitoral esta amanhã, depois de depositar seu voto na escola República da Venezuela, no distrito de Calidonia, no coração da capital. “Não podemos deixar de pensar em países que, como Espanha e Grécia, viveram no auge econômico durante muitos anos, depois caíram numa grave crise por situações semelhantes às que ocorreram no Panamá: aqui se gastou o dinheiro do Estado em obras desnecessárias e com custos extras, comprometendo a sobrevivência das futuras gerações”, acrescentou.

Já América Quirós, de 59 anos, afirmou a este jornal em tom irônico, depois de votar esta manhã na mesma escola, que “os três candidatos principais prometeram que vamos ter um belo Panamá. Ou seja, dizemos adeus à pobreza, aos problemas de moradia e de educação, e todos os panamenhos terão água potável. Mas essas são só promessas. Se os grandes compromissos feitos pelos três candidatos forem cumpridos, ora, vamos ter um país que será uma maravilha... Quanto a isso, será preciso ver se cumprem.”

Com um total de 6.711 eleitores distribuídos em 14 juntas receptoras de votos, o fluxo de votantes “foi normal, sem incidentes. Já às 7 da manhã havia pessoas fazendo fila para votar”, disse a panamenha Irania Hurtado, supervisora do TE na mesma escola. “Isto está transcorrendo com bastante fluidez”, afirmou.

Embora haja sete candidatos presidenciais, somente três parecem ter condições reais de triunfo: o governista José Domingo Arias, do partido Mudança Democrática (CD), e os oposicionistas Juan Carlos Navarro, do Partido Revolucionário Democrático (PRD), e Juan Carlos Varela, da coalizão dos partidos Panamense e Popular.

“Este é um dia em que todos, com muita alegria, com muita fé em Deus, vamos ter uma jornada extraordinária”, disse Arias, enquanto se apressava a votar em um centro educacional da capital e aproveitava para expressar sua confiança no TE como árbitro da apertada disputa. “O Tribunal demonstrou capacidade”, afirmou.

Por sua vez, e momentos antes de votar em outra seção desta cidade, Varela declarou estar “muito otimista” porque “encerramos (a campanha) com muita força, com muita fé em Deus e no povo panamenho”.

Navarro, porém, afirmou ao aproximar-se da seção em que iria votar nesta capital, que visitará centros de votação “para assegurar-me de que o processo seja normal, com respeito e civismo, que é o que queremos para o Panamá”.

Em meio a queixas de oposicionistas, um dos políticos mais ativos tem sido o presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, apesar de as normas constitucionais o impedirem de envolver-se na campanha eleitoral. Com um boné com o nome de Arias e as cores do partido governista, Martinelli se apresentou à imprensa na abertura das urnas e pediu que os que forem derrotados reconheçam a vitória do vencedor “com nobreza”.

“Que aquele que perder aceite que vai converter-se em chefe da oposição. E o que não aceitar vai ficar tão isolado como (se estivesse) falando com as pedras”, alertou.

“Parecia que aqui ninguém iria ter um apoio contundente nem uma maioria absoluta. Eu não as vejo (as eleições) tão apertadas. Vai haver um candidato que vai ganhar por uma ampla maioria, mas vejo, sim, que na Assembleia Legislativa nenhum partido vai ter maioria.”

Quando lhe perguntaram se confia no Tribunal, cujo dirigente teve fortes atritos com o governante e com a CD, ele respondeu: “Sempre tive confiança no Tribunal.

Aqueles dias de tormenta

O Panamá, que há apenas 20 anos realiza eleições livres, honestas e transparentes, registrou em 1989 a votação mais turbulenta, sangrenta e violenta de sua história, com um Tribunal Eleitoral manipulado pelo regime militar instalado em 1968 pelo general Omar Torrijos (1929—1981), fundador também do agora oposicionista Partido Revolucionário Democrático (PRD). As eleições se realizaram em 7 de maio de 1989, mas o general Manuel Noriega, sucessor de Torrijos e na época o “homem forte” do Panamá, ordenou sua anulação depois de vários dias de distúrbios e caos, e na qual o também falecido Guillermo Endara, candidato da oposição, se proclamara vencedor e legítimo presidente eleito.

Os militares responderam com uma cruel repressão nas ruas e o Panamá teve agravada a sua paralisia e derrocada institucional, que terminou em dezembro de 1989 com a invasão armada dos Estados Unidos ao país. Em uma das bases militares norte-americanas que ainda existiam em solo panamenho, Endara fez o juramento do cargo enquanto as tropas iniciavam a ocupação. Endara cumpriu seu mandato no governo e as tropas se retiraram gradativamente. Já com a democracia, os panamenhos foram novamente às urnas em 8 de maio de 1994 e, com Ernesto Pérez Balladares, o PRD venceu e retornou ao poder, do qual havia sido desalojado pelas armas.

As eleições de 1999, 2004 e 2009 se realizaram com normalidade enquanto o fantasma da fraude urdido por militares e políticos dóceis se distanciava, ficando como parte de uma turbulenta história.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_