Em busca da superpimenta
Cientistas mexicanos e chineses decifram os genes da planta para melhorar suas qualidades
![Pablo de Llano Neira](https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/https%3A%2F%2Fs3.amazonaws.com%2Farc-authors%2Fprisa%2F54da206b-fa41-42c8-82c2-74ee2ad5197f.jpg?auth=a032241d3c2b4915c0391add9de332ed056bbfffaff10a8bc7a2ce230552b1db&width=100&height=100&smart=true)
![A pimenta chiltepín, cujo genoma foi sequenciado no estudo.](https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/YF257X3QEPU6LCRT2UENVNQHZE.jpg?auth=a64f129ac273419480bfe9f3695aff3bd41490df5617ad6200cc47f33bb7f57c&width=414)
Um grupo de cientistas mexicanos e chineses trabalha na busca da superpimenta. Desde o ano de 2012, pesquisadores dos dois países estão sequenciando o genoma de diferentes tipos de pimentas, seu mapa genético, para conhecer melhor sua natureza e saber como criar variedades aperfeiçoadas.
A raiz do projeto está no México, no Centro de Investigação e Estudos Avançados (CINVESTAV). O doutor Rafael Rivera Bustamante, membro deste centro e da equipe sinomexicana, explica que no CINVESTAV levam mais de 15 anos estudando a pimenta. Em 2011, começaram um plano de "transcriptômica" desta planta e em um ano depois os cientistas chineses, que viram na Internet o que estavam fazendo, os chamaram para trabalhar juntos. Aí formou-se uma aliança natural entre os dois principais produtores mundiais de pimenta: o primeiro, a China (entre nove e dez milhões de toneladas ao ano), e o México, segundo com mais de dois milhões.
A investigação deve servir para fazer pimentas mais resistentes
Transcriptômica? O doutor Rivera Bustamante tem a sensibilidade de traduzi-lo: "É a análise de como se prendem os genes, de quais genes estão ativos na planta". O objetivo do projeto, portanto, é ver como funciona por dentro a maquinaria da pimenta: "Queríamos ver, por exemplo, que genes se acendem quando chega um patogênico ou um fungo, ou quais quando se vão formando a flor e o fruto".
Conhecer a informação base da pimenta deve servir, em primeiro lugar, para melhorar os cultivos comerciais. Fazê-los mais resistentes às pragas e às secas. Também manipular seu grau de picante segundo a resistência dos paladares. "No mercado norte-americano podem preferi-los menos picantes, mas no mexicano não nos vale só com que tenha bom sabor; às vezes temos saudades que piquem um pouco mais". Pessoalmente, o doutor Rivera é fã dos molhos de pimenta verde e de pimenta serrana. Também ao pozole (um misto mexicano) com a pimenta chiltepín, a pimenta estrela do projeto genômico.
Esta é a primeira pimenta que sequenciaram os genes. Buscavam uma variedade que fosse a mais silvestre possível para identificar mecanismos diferentes aos das variedades comerciais. Optaram pelo chiltepín, uma variedade recôndita do estado mexicano de Querétaro, e a compararam com uma pimenta chinês comercial, o zunla. Desde então, ao todo, sequenciaram 18 tipos.
Os chineses querem saber como a pimenta chegou na China
A indústria na que o estudo terá um impacto mais amplo é a dos alimentos, mas também a farmacêutica, segundo explica Rivera Bustamante. Diz que a pimenta serrano tem mais vitamina C que a laranja, e que a capsaicina, o componente picante da planta, é um produto excelente para sprays de defesa pessoal: "Irrita, mas não causa tantos danos como o gás lacrimogêneo que usa a polícia".
O projeto da superpimenta também pode trazer conhecimento histórico. "Surgem perguntas: como se domesticou a pimenta?, como nossos ancestrais foram selecionando os diferentes tipos?... Os chineses querem saber como a pimenta chegou à China: através da Espanha, na rota da naval da China entre a América e Ásia, ou pelos dois lados?".
Rivera Bustamante afirma que o genoma pode contribuir a desvendar incógnitas da pimenta, uma planta que tem sua origem na área andina da Bolívia e que depois foi domesticada na Mesoamérica. O cientista conta que nesta região se encontraram em grutas e em outros locais resíduos da pimenta de 6.500 anos de antiguidade. "Então, nossos ancestrais já estariam consumindo desde essa época", diz o doutor. 6.500 anos picantes.