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Erdogan cumpre sua ameaça e bloqueia o Twitter na Turquia

O primeiro-ministro turco impediu o acesso à rede social, que é chave em revelar a corrupção Turquía alinha-se, quanto a liberdade em internet, junto a países como Coreia do Norte, China, Iran, Rússia e Arábia Saudita segundo o colunista Yavuz Baydar O presidente Abdullah Gül rechaça a decisão e se desvincula de seu velho aliado

Jovens protestam nesta sexta-feira em Ancara contra o bloqueio do Governo ao Twitter.
Jovens protestam nesta sexta-feira em Ancara contra o bloqueio do Governo ao Twitter.A. A.

O Governo turco, cuja imagem internacional sofre com um descrédito crescente devido às acusações de corrupção, mira no Twitter para aliviar a pressão. A rede social foi bloqueada no país na noite da quinta-feira, poucas horas após o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, afirmar em uma manifestação: “Limparemos o Twitter, não me importo o que diga a comunidade internacional a respeito.” A agência de notícias turca Anatolia afirma que as autoridades impediram o acesso ao Twitter por que o serviço ignorou várias ordens judiciais turcas para eliminar alguns links considerados ilegais. Pouco depois do anúncio, milhares de mensagens com críticas contra a proibição do Governo começaram a aparecer no Twitter.  A rede social respondeu informando aos seus usuários na Turquia que eles podem burlar o bloqueio usando seus celulares e tuitando com  mensagens de texto.

As razões do BTK

A Instituição de Tecnologias da Comunicação (BTK) anunciou nesta sexta-feira por meio de um comunicado que a razão do bloqueio do Twitter na Turquia é a negativa da companhia em cumprir com as demandas dos tribunais depois de várias denúncias por violação da privacidade formulada por vários usuários.

"As queixas de nossos cidadãos sobre seus direitos pessoais e de privacidade levaram os tribunais à decisão de bloquear o acesso (ao Twitter). As decisões chegaram à Presidencia, que pediu a retirada do conteúdo", diz o comunicado.

O escritório do primeiro-ministro emitiu um comunicado em que acusa a rede social de permanecer “indiferente” às decisões judiciais turcas. A agência estatal de telecomunicações qualifica o bloqueio de “medida de proteção”.

Um dos que se recusou a apoiar o bloqueio foi o presidente turco, Abdullah Gül, que mostrou seu mal-estar por meio de uma série de mensagens enviadas de sua própria conta no Twitter. "Não estou de acordo com o fechamento total das plataformas sociais", afirma um dos 'tuites' do mandatário.

"Além disso, já foi evidenciado várias vezes que tecnicamente nem sequer é possível fechar completamente plataformas como Twitter, que são utilizadas em todo mundo", afirma em uma clara amostra de que, efetivamente, o bloqueio não afetava o seu próprio computador. "Espero que esta situação não dure", conclui o presidente turco, que se está desvinculando cada vez mais de seu velho aliado, Erdogan.

Enquanto, o vice-primeriro ministro, Bülent Arinç, pareceu não ter se dado conta do fechamento, ao enviar nesta quinta-feira um breve 'tuíte' em que anunciava sua agenda do dia, e também outros altos funcionários do partido governamental que continuaram usando a rede social.

A Promotoria turca desmentiu seu envolvimento no polêmico fechamento do Twitter. "Nós não tomamos esta decisão. Foi uma decisão administrativa", disse o promotor-chefe de Istambul, Hadi Salihoglu, ao jornal Radikal.

A comissária da Agenda Digital da União Europeia, Neelie Kroes, qualificou a decisão turca de “infundada, inútil e covarde” mediante uma mensagem em sua conta do Twitter. “A população turca e a comunidade internacional verão como censura, e é isto.” A comunidade internacional, além disso, apressou-se a condenar esta nova medida restritiva de Erdogan. Os EUA expressaram uma "profunda preocupação" com as liberdades e a proibição do uso de redes sociais.

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"Estamos muito preocupados com qualquer indício que indique o fechamento das redes sociais. A diversidade de vozes e de opiniões públicas reforçam a Democracia", declarou na quinta-feira passada o porta-voz do departamento de Estado dos EUA, Jen Psakis. "Os meios independentes são elementos essenciais das sociedades abertas e democráticas e são cruciais para a transparência e a prestação de contas para os cidadãos".

A principal formação de oposição da Turquia, o Partido Popular Republicano, pedirá aos tribunais uma ordem para restabelecer o acesso à rede social Twitter, segundo o vice-presidente do bloco parlamentar do partido, Akif Hamzacebi. Já Ali Babacan, vice primeiro-ministro, anunciou nesta sexta-feira que espera que a proibição ao Twitter seja "temporária" e espera chegar a um acordo com a rede social. "Não acho que esta situação dure muito tempo. Temos que encontrar uma solução comum."

Erdogan, que lidera o país desde 2003, enfrenta uma constante pressão social desde que gravações em que ele aparece no centro de um grande escândalo de corrupção foram difundidas por meio do Twitter. A maior parte da informação sobre o primeiro-ministro e seu filho procede da conta Haramzadeler (Filhos dos ladrões), que obteve acesso a uma grande quantidade de documentos secretos e investigações policiais.

Porta-voz do departamento de Estado dos EUA, Jen Psakis

"Com esta proibição, a Turquia alinha-se junto a países como a Coreia do Norte, China, Arábia Saudita, Iran e Rússia em relação à liberdade de internet", diz o colunista Yavuz Baydar.

O primeiro-ministro disse há duas semanas que estava considerando uma proibição total do acesso a páginas como Facebook e YouTube. Embora o presidente turco, Abdullah Gul, se mostre contrário à medida, o bloqueio converteu-se em uma realidade.

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