Protestos em Istambul contra a lei que censura a Internet
A polícia afasta centenas de pessoas do parque Gezi e da praça Taksim, símbolos das manifestações em massa de maio de 2013
“Internet ou o Apocalipsis”, ameaçava um dos cartazes que alguns dos manifestantes mostravam desde uma barricada em chamas. Os policiais anti-motim estavam em frente a eles esta noite no centro de Istambul.
Centenas de pessoas tentaram chegar mais uma vez à Praça Taksim para protestar, nesta ocasião, contra a aprovação de uma lei que permitirá que o Governo feche sites sem autorização judicial.
“Estamos contra a censura na Internet e não temos outra forma de protestar”, disse Hassan, de 37 anos, apontando às barricadas. Hassan trabalha em um banco e não quis dar seu sobrenome por “medo à polícia” e por temor a sofrer represálias em seu trabalho.
“Ninguém nos escuta, nem sequer a Europa, e os meios de comunicação [turcos] estão do lado do Governo”, insistiu Hassan enquanto outro manifestante dizia que esta nova lei levaria o acesso à Internet na Turquia a uma situação “similar à do Irã e Coreia do Norte”.
Um grande número de policiais anti-motim isolava previamente tanto a praça como o parque Gezi, epicentro dos protestos em massa de maio de 2013. Novamente as cenas se repetiram: desde as manifestações de Gezi as manifestações não cessaram em Istambul e em outras cidades turcas.
Agentes anti-motim lançaram grandes quantidades de gás lacrimogêneo e também dispararam os manifestantes com balas de borracha, enquanto seus veículos usavam jatos de água. Do outro lado, os manifestantes, muitos deles com a cara coberta com lenços ou inclusive com máscaras anti-gás, repetiam os cantos que pediam a demissão do Governo e do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, e gritavam: “Todas as partes são Taksim, em todos lados resistência”. Embora a grande maioria eram pacíficos, algumas poucas pessoas respondiam à polícia lançando pedras.
No entanto, a rápida e contundente resposta policial dispersou os manifestantes e a situação às nove da noite (hora local) estava bem mais tranquila, apesar da grande quantidade de agentes fechando o acesso à praça Taksim e ao parque Gezi.
Trata-se do último episódio de uma série de protestos que se iniciaram no final de maio de 2013 e que se converteram em uma nova normalidade no centro de Istambul.
Uma grande quantidade de pessoas, muitas delas com aspecto de turistas estrangeiros, passeava pelos arredores da Praça Taksim sem mostrar sinais de preocupação. Postos de comida rápida turca estavam abertos entre a polícia e os manifestantes, os restos de gás não impediam que várias pessoas comessem seus típicos döner kebab a poucos metros dos gritos dos que protestavam. Havia música nos bares enquanto curiosos, pedestres e turistas observavam os confrontos e tiravam fotos e vídeos com seus celulares.
Se essa gente publicasse esse material em um site e a lei recém aprovada pelo Parlamento turco entrasse em vigor, o Governo poderia bloquear essas páginas sem necessidade de autorização judicial se considerasse que as imagens violassem a privacidade de qualquer pessoa.
Tanto os partidos turcos da oposição como organizações que defendem a liberdade de imprensa e de expressão pediram ao Presidente da República, Abdullah Gül , que não ratifique a lei e que evite sua entrada em vigor.
Na Turquia o acesso à Internet já está muito restrito pelas autoridades, que, nos últimos anos, bloquearam milhares de páginas. Desde que os manifestantes usaram as redes sociais como Facebook e Twitter durante os protestos de Gezi, o próprio Erdogan criticou publicamente este uso da Internet e vários jornalistas perderam seus trabalhos por expressar suas opiniões ou publicar informação sobre as manifestações no Twitter.
O Governo aumentou ontem a pressão para a imprensa neste sentido com a expulsão do país de Mahir Zeynalov, um jornalista de Azerbaijão que trabalhava para o Today’s Zaman, um diário turco publicado em inglês. Segundo o seu jornal, Zeynalov foi deportado por ter criticado a Erdogan em sua conta pessoal de Twitter. As autoridades confirmaram a deportação.
A expulsão de Zeynalov se enquadra também na suposta guerra política que o Governo mantém com os seguidores do clérigo islâmico Fethullah Gülen, em cuja órbita está o Today’s Zaman.
Em 17 de dezembro houve um escândalo de corrupção pelo qual três ministros foram forçados a se demitir e pelo que dezenas de pessoas próximas ao primeiro-ministro Erdogan foram presas. O Governo acusou os seguidores de Gülen de ter infiltrado os corpos de segurança do Estado e de estar por trás da investigação. Além disso, o Executivo de Erdogan também respondeu relevando mais de 5.000 policiais e de 200 promotores, entre eles os dois que iniciaram o caso.
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