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A pacificação do Rio em xeque

A cidade se debate entre continuar aprofundando uma política de segurança que começa a apresentar buracos negros ou retomar a estratégia da perseguição ao narcotráfico Nesta quinta-feira, o Governo instalará a Unidade de Polícia Pacificadora de número 38 na favela de Vila Kennedy

Batalhão de Choque na favela Árvore Seca, no Rio.
Batalhão de Choque na favela Árvore Seca, no Rio.ricardo Moraes (REUTERS)

A apenas quatro meses do começo da Copa do Mundo, Rio de Janeiro, a cidade com maior projeção turística do Brasil, se debate entre continuar aprofundando uma política de segurança que começa a apresentar buracos negros ou retomar a velha (e frustrada) estratégia da perseguição e destruição do narcotráfico armado. As notícias que aparecem diariamente na imprensa local levam inexoravelmente à conclusão de que o Rio se encontra em uma inquietante encruzilhada. As células do narcotráfico que durante os últimos anos permaneceram em letargio, encurraladas pelo avanço das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) e sem seus líderes históricos, estão se revoltando com violência contra uma polícia comunitária cujos quadros, em muitos casos, estão repletos de jovens agentes sem experiência. Tudo indica que o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, corrigirá nas próximas semanas a trajetória do processo pacificador, ocupando novas favelas, embora também reforçando as já pacificadas com novas operações de alta voltagem, protagonizadas por comandos de operações especiais e, inclusive, efetivos do Exército brasileiro.

Depois da recente onda de ataques a destacamentos e unidades de policiais pacificadores em favelas como Rocinha, Alemão ou Pavão-Pavãozinho, que deixaram um saldo de dez agentes mortos desde 2012, Beltrame deixou claro que, longe de recuar em sua estratégia, Rio de Janeiro acelerará seu processo de ocupações de comunidades. Nesta quinta-feira, comandos do BOPE (Batalhão de Operações Especiais da Policía Militar) e do Batalhão de Choque irromperão ao amanhecer no complexo de Vila Kennedy, na zona oeste da cidade, para caçar e capturar traficantes procurados e ocupar o território. Vila Kennedy está há anos imersa em um fogo cruzado entre facções criminosas que disputam os pontos de venda de droga. No último mês, a tensão aumentou na periferia, com intensos tiroteios, ônibus queimados e uma das principais vias de acesso ao Rio cortada pelos distúrbios. Mais de dois mil alunos deixaram de ir à aulas por medo de ficarem presos em meio aos tiroteios.

O responsável máximo pela polícia carioca afirma que o assédio a que os grupos de traficantes estão submetendo os agentes pacificadores em algumas favelas não é mais que a prova latente de que a política de pacificação está surtindo efeito. Segundo ele, os ataques representam uma tentativa desesperada de amedrontar e desmoralizar a tropa e a população das comunidades pacificadas, que ainda se debate entre dar as costas definitivamente aos narcotraficantes (até há poucos anos os donos e senhores dessas periferias) ou seguir dando cobertura a eles diante da eventualidade, em absoluto descartada, de que a pacificação acabe em um fiasco. O principal noticiário da Rede Globo, o “Jornal Nacional”, transmitiu uma potente cena na qual quinze homens desarmados, todos vizinhos da favela da Rocinha, rodeavam um veículo da UPP local e a atacavam com pedradas até destroçar seus vidros e encurralar os agentes que estavam dentro. Segundo as primeiras investigações, os protagonistas da cena seguiam instruções do narcotráfico que subsiste em alguns redutos da Rocinha.

A operação da Vila Kennedy culminará com a implantação da UPP número 38. Segundo o Governo do Rio, depois desta ocupação mais de um milhão e meio de habitantes se beneficiarão da presença destes agentes pacificadores em toda a cidade. A pergunta agora é o que aconteceu para que a apenas alguns meses do mundial estourem estes ataques para desestabilizar e a pôr em xeque um projeto que parecia se consolidar pouco a pouco. Alguns analistas respondem que era de esperar, pois os delinquentes nunca chegaram a abandonar totalmente as favelas ocupadas. Outros asseguram que não é mais que o resultado de uma política frustrada, ancorada em ocupações policiais e que, uma vez mais, deixou de lado o mais importante: levar serviços públicos de qualidade aos locais que historicamente não fizeram parte do mapa oficial da cidade.

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