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Lula pede a Nicolás Maduro que dialogue com a oposição

O presidente venezuelano torna pública, às vésperas da reunião da Unasul, uma carta recebida do ex-presidente brasileiro invocando a memória de Chávez para seguir “no rumo da paz”

Carla Jiménez

No dia em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seguia para uma reunião em Roma com o primeiro ministro italiano, Matteo Renzi, uma carta sua, enviada ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, tornou-se pública. Na missiva, que tinha data do dia 5 de março - aniversário de um ano da morte de Hugo Chávez -, o ex-presidente aconselha Maduro a dialogar com seus pares. Lula escreve que não tem dúvidas de que as experiências vividas pelo país “constitui um guia de conduta do seu Governo e do povo venezuelano neste delicado momento da sua história. Momento no qual é necessário um diálogo com todos os democratas que querem o melhor para o povo.” O conteúdo contrasta com as posições mornas assumidas pela presidenta Dilma Rousseff quando o assunto Venezuela entra em pauta.

A carta de Lula, publicada no blog do Maduro, na noite desta terça-feira, diz ainda que “a melhor forma de honrar a memória do comandante que foi embora é seguir adiante no rumo da paz, da justiça social e da democrarica, da integração continental e da autonomia de nossos povos. Nessa luta estaremos sempre unidos”. O conteúdo da correspondência foi publicado pelo presidente venezuelano às vésperas da reunião da União das Nações Sulamericanas (Unasur), e um dia antes de se completar um mês dos protestos em seu país.

O gesto dá espaço a diversas interpretações sobre as intenções de Maduro – desde revelar o apoio de uma personalidade forte no continenente, até o endosso à ideia do diálogo - mas também expõe a atuação de Lula nos bastidores, assumindo um papel que está sendo cobrado, na verdade, da presidenta Dilma Rousseff. Num momento de reconhecida fragilidade da Venezuela, um discurso bem colocado pode soar como um bálsamo para as tensões no país vizinho, que reconta seus mortos a cada protesto.

Reconheça-se que a presidenta brasileira não está vivendo dias tranquilos para dedicar-se a esse papel social. Rousseff está com a cabeça na rebelião em sua base governista, com seu principal partido aliado, o PMDB, que, nas últimas horas, tem aprovado projetos contrários ao Governo como forma de pressão para conseguir mais espaço nos meses que lhe restam antes do final do mandato neste ano. Mas, Maduro, sem perceber, divulga lá fora o que no Brasil é evidenciado o tempo todo pelos desafetos de Rousseff. Lula tem um papel preponderante, que faz sombra a sua sucessora, e desperta saudades do tempo em que ele lograva colocar seu carisma a serviço da paz nas relações externas ou para as questões domésticas.

Não foi sempre assim, uma vez que nos primeiros dois anos de Governo, Rousseff ganhou o apoio do setor privado e de seus pares por ter mostrado uma postura obstinada para resolver o nó da infraestrutura, por exemplo, e da redução de juros (uma batalha perdida, neste último caso, mas isso é outra história…).

A luta agora é outra. A Venezuela precisa de apoio, num momento em que a temperatura do caldeirão diplomático de Maduro tem subido às alturas. Segundo informa a correspondente Eva Saiz, de Washington, o secretário do Estado americano, John Kerry, já fala em sanções ao país bolivariano. “Estamos preparados, caso necessário, para invocar a Carta Democrática Interamericana da OEA e envolver-nos de várias formas, com sanções ou outro caminho”, assinalou Kerry nesta quarta-feira.

Sanções para a Venezuela impactariam a economia brasileira, e trariam ao continente uma intranquilidade indesejada logo agora que o Brasil se esforça para manter os ganhos sociais dos últimos anos. Por isso, a batalha venezuelana tem seus efeitos colaterais no aqui. A população venezuelana não esconde um desejo de apoio das demais nações a um processo de diálogo. Partiu de Lula, que está fazendo as vezes de embaixador informal do Brasil, essa ponderação. Mas, é de Rousseff que se esperava essa atitude.

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