A chegada de Uribe ao Congresso marca as eleições na Colômbia
As pesquisas preveem uma perda de poder parlamentar para o presidente Juan Manuel Santos após seu antecessor chegar ao Parlamento
Uma significativa perda de poder parlamentar espera previsivelmente o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, depois das eleições legislativas que acontecem neste domingo. Assim indicam as pesquisas, que refletem um enfraquecimento da chamada Unidade Nacional, a coalizão com a que o presidente Santos governou com maiorias durante quatro anos. O país espera um novo Congresso em que o Centro Democrático, liderado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, fortemente enfrentando seu sucessor, tomará as bandeiras da oposição.
A irrupção do uribismo no Capitólio Nacional preocupa aos santistas, que fazem as contas nestes dias sobre o número de cadeiras que o ex-presidente alcançará, já que as pesquisas preveem que Uribe será o ganhador da disputa eleitoral. O afã do Governo é garantir a maioria parlamentar da Unidade Nacional que hoje integram três partidos: o partido Liberal, Cambio Radical e La U.
Embora as pesquisas não acertem tudo, para o analista e colunista do diário El Tiempo Mauricio Vargas a única predição que se tornará realidade é que a grande porcentagem do Congresso que Santos teve será muito menor. “A chegada do uribismo arrasta votos de centro e centro direita que antes eram pela Unidade Nacional”, diz Vargas.
Soma-se, segundo o analista, um grande retrocesso do partido de La U, um agrupamento com a que Santos saiu eleito em 2010 e que o aclamou novamente como seu candidato para as próximas eleições presidenciais de 25 de maio. “Esse retrocesso não se verá compensado se avançarem o partido Liberal e o Cambio Radical, os outros dois da coalizão, pelo que para Santos será um retrocesso”. E o Partido Conservador também porá seu grão de areia na contramão do presidente. Apesar de que há senadores conservadores que quisessem estar com Santos, a verdade é que essa coletividade não se integrará ao oficialismo.
Até agora, as pesquisas coincidem com que o uribismo possa alcançar entre 15 e 20 das 102 cadeiras do Senado, o que é significativo mas bem longe de alcançar as maiorias que se requerem para o controlar. “O novo Congresso vai combinar com o suficiente uribismo como para fazer uma oposição de importância, mas não para bloquear ao Governo”, diz a cientista política Laura Gil. No entanto, com sua chegada terá mais debate e serão debates duros. “Uribe vai perturbar muitíssimo o Governo”, acrescenta Vargas. Por sua vez, Gil acha que “é muito melhor ter uma oposição institucionalizada, que um boicote constante às políticas de governo através do Twitter”, já que a rede social é a tribuna de Uribe.
Mas, além de Uribe, espera-se que sejam eleitos candidatos de renome e trajetória de outros partidos, como o liberal Horacio Serpa ou o ex-guerrilheiro do M19 Antonio Navarro Wolf, que com sua presença seguramente elevem o nível de debate e refresquem, em algo, a imagem de uma instituição submetida ao Executivo. “Isto pode ser bom para o Congresso porque nestes anos foram de uma pobreza no debate”, diz Vargas, esclarecendo que há exceções como a do senador de esquerda Jorge Enrique Robledo, que busca a reeleição.
A disputa pelo Congresso se acentuou nestas eleições porque é ali onde Santos, em caso de ser reeleito, terá que tramitar as leis que permitam materializar os eventuais acordos de paz que estão negociando em Havana com a guerrilha das FARC. Com a irrupção parlamentar de Uribe, o principal crítico da negociação com o grupo armado, este tema não será nada fácil.
No entanto, Gil acha que uma vez se firme um acordo de paz, as coisas poderiam mudar para Uribe. “É muito diferente que o acordo não esteja assinado e Uribe esteja montado no discurso da incerteza e representando a voz daqueles que temem o que possa sair do acordo, e outra quando já seja uma realidade e os colombianos o aprovem”. As recentes pesquisas das empresas Cifras e Conceptos e Datexco vaticinam uma percentagem de votação entre 20% e 23% para o uribismo e um máximo de 10% para o Polo Democrático (de esquerda), que é o partido que atualmente faz oposição a Santos, embora apoia o processo de paz. Segundo Cifras e Conceptos, os três partidos da Unidade Nacional conseguiriam 33% dos votos. Os conservadores, que recém abandonam a coalizão de governo, alcançariam 8% das cadeiras, e outros partidos menores dividirão 9%.
Na atualidade, o Senado é controlado pelo liberalismo em aliança com os conservadores, o partido de La U e Cambio Radical, enquanto os partidos que se mantiveram em oposição foram o Polo, um setor minoritário de La U e dos conservadores que mantêm proximidade com o uribismo. Os analistas coincidem que, apesar da entrada de Uribe, em termos gerais não terá renovação no novo Congresso. “O único inovador é que vai ter mais debate já que Santos vai estar enfrentado um flanco da esquerda e outro da direita”, agrega Vargas.
Neste domingo se esclarecerão as dúvidas. Entre as principais, qual será a percentagem dos que votem em branco, uma opção que também tem força segundo os inquéritos e que evidencia a desconfiança cidadã nos políticos. Isto não é gratuito: por dar só um exemplo, segundo uma contagem dos meios colombianos, 35 dos candidatos que aspiram a uma cadeira estão sendo investigados por nexos com paramilitares.
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