O controle da velocidade da divisão celular, a chave para o câncer
A falta de uma proteína acelera o processo e dispara os tumores
Todos temos a ideia do câncer como um processo de divisão celular acelerado e incontrolado. Por isso, o achado de uma proteína envolvida no processo básico (a mitose que faz com que de uma célula se obtenham duas com um cromossomo cada com 23 pares), a Mad1, é uma possibilidade de cura dos tumores. Isso foi pesquisado pela equipe dirigida por Verónica Rodríguez Bravo, do Instituto Sloan-Kettering, e publicado em Cell.
A divisão celular, ou seja, a mitose, é o processo mais complexo que uma célula pode sofrer. O núcleo desaparece e os cromossomos têm de se alinhar para depois se separar e cada ir um a uma das filhas, explica Rodríguez Bravo. O que ela e sua equipe viram é que quando falta a Mad1, tudo vai tão depressa são cometidos erros. E dessas falhas surgem células com potencial tumoral.
“Quando um motorista dirige rápido por uma estrada, não consegue frear e se choca com outro motorista, ou quando escrevemos muito rápido, cometemos erros que não nos dá tempo de corrigir. Da mesma maneira, as células sem Mad1 aceleram-se e dividem-se muito rápido, sem poder frear se algo inesperado ocorre, e aumentam a frequência de erros ao separar seus cromossomos na divisão celular. Isso é literalmente uma má notícia para a saúde de uma célula. De fato, o número errôneo de cromossomos ou as alterações estruturais deles estão ligadas diretamente ao câncer (há quem defenda que esta é a causa da gênese dos tumores) e problemas de desenvolvimento (como o Síndrome de Down, em que ocorrem três cópias do cromossomo 21)”, explica a pesquisadora.
Na pesquisa foram utilizadas células humanas knock out, isto é, com mutações genéticos para que não tenham a proteína Mad1. Até agora se sabia que essa proteína estava na membrana que separa o núcleo da célula (a parte mais delicada e mais protegida) do resto, o citoplasma. Ela se associa aos poros necessários para que sua parte central não seja um reduto completamente isolado. Foram empregadas células de retina e de câncer de cólon e ambas se comportaram da mesma maneira.
Com esses resultados, o passo seguinte será buscar aplicações práticas. “Buscar medicamentos que prolonguem a mitose e ganhem tempo”, explica Rodríguez Bravo. “Trata-se de não bloqueá-lo por completo por que assim não há divisão celular” (e o organismo está sempre se renovando), mas se você consegue manipular a velocidade, estaria perto de uma aplicação farmacológica, se.
Controle da metástase
Este artigo foi publicado junto com outro, também de um espanhol, Joan Massagué, do Sloan-Kettering. Mas o de Massagué não se centra na origem de um tumor, mas em suas últimas fases: o momento em que ele se propaga e coloniza outros órgãos.
Massagué estudou como colonizar os tumores de mama e cólon, o cérebro, e descobriu que no processo intervém uma enzima, a plasmina, que tem uma dupla proteção: por um lado, impede que as células cancerosas se colem à parede externa dos copos sanguíneos e, a partir daí, possam proliferar e formar um novo tumor. Seria como se impedisse a saída dos novos colonizadores. Por outro, provoca a autodestruição das células com tumores.
Assim como González Bravo, Massagué adverte que seu trabalho é um passo. Ele espera poder resolver assim todas as metástases, e, depois, atuar contra elas. É um processo que levará décadas.
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