Aumenta a perseguição política na Venezuela depois dos protestos
A justiça convoca os líderes opositores e a Assembleia pede a cassação da deputada María Corina Machado
Nesta quinta-feira 20, durante a primeira noite de relativa calmaria em Caracas depois de oito dias de protestos, os principais canais estatais de televisão promoviam entre os adeptos do Governo a hashtag no Twitter #FueraCNNdeVenezuela (Fora CNN da Venezuela). Alguns minutos antes, em uma corrente nacional de rádio e TV, o presidente Nicolás Maduro solicitava à ministra de Comunicação e Informação (MinCI), Delcy Rodríguez, que iniciasse os procedimentos administrativos para suspender as transmissões do canal CNN em espanhol –a versão para América Latina do gigante informativo de Atlanta, Georgia - a menos “que se retifique”.
Depois de consolidar seu já estendido controle sobre as estações de rádio venezuelanas, o Governo chavista não teve dúvida em calar as transmissões internacionais que - por rádio, televisão ou internet - desafiarem a versão oficial sobre os fatos ou interfiram cobrindo situações que Caracas não espera que se difundam.
Durante a crise desatada na semana passada com protestos estudantis que se estenderam a várias cidades do país, o Governo de Maduro já tirou do ar, “por uma decisão de Estado” e sem mais explicações, o canalcolombiano NTN 24. Agora, a revolução bolivariana se sente suficientemente confiante em si mesma, e desconfortável em relação às emissões da CNN em espanhol, para propor a proibição do sinal, que vem prestando especial atenção aos acontecimentos na Venezuela. Na quarta-feira chegou a Caracas a principal âncora do canal, a jornalista colombiana Patricia Janiot, para informar ao vivo. A ministra Rodríguez referiu-se a Janiot como “uma senhora especialista em manipulação psicológica e em manipular a verdade”.
Na terça-feira, uma equipe de CNN foi assaltada por um grupo armado que levaram seus pertences no bairro El Valle, no sudoeste de Caracas.
O assédio à CNN não está sozinho na contraofensiva governamental contra a revolta estudantil. A justiça venezuelana mandou capturar o dirigente opositor Leopoldo López, a quem atribui a autoria das desordens. Na quinta-feira pela madrugada, a juíza Raleyns Tovar informou López sobre as acusações que se lhe fazem, que incluem conspiração para delinquir e incêndio de propriedade pública. A audiência aconteceu na penitenciária militar de Ramo Verde, na cidade de Los Teques, onde o líder opositor permanece preso.
O Governo aproveita para apertar outras porcas. Diversos ataques foram praticados em Caracas para tentar prender Antonio Rivero, também dirigente do partido de López, Voluntad Popular (VP). Rivero é um ex-general do Exército que fez parte do Governo de Hugo Chávez e que pediu seu saída depois de denunciar o que considerava uma interferência cubana nas forças armadas. O ex-oficial já esteve preso durante um mês em 2013. Então, o Governo o acusou de ter organizado os protestos opositores do dia 15 de abril do ano passado, um dia depois que as eleições presidenciais dessem a vitória, com uma vantagem de um por cento, ao hoje presidente Maduro. Seu adversário, o ex-candidato presidencial e governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles Radonski, se negou a reconhecer o resultado, alegando diversas irregularidades no processo eleitoral.
A breve prisão de Rivero foi encerrada quando um tribunal lhe concedeu uma medida cautelar por razões de saúde. Agora, a medida foi suspensa, pois o Governo aponta Rivero como coordenador dos grupos de manifestantes que bloquearam ruas e causado estragos. “Você é quem treinou esses grupos, agora vai ter que responder”,disse Nicolás Maduro para as câmeras de televisão.
Outro dirigente do Voluntad Popular (VP), Carlos Vecchio, é requisitado pela justiça. Vecchio desempenha o papel de coordenador político do grupo. As acusações contra ele são desconhecidas.
O presidente Maduro adiantou também a possibilidade deter Daniel Ceballos, prefeito da cidade de San Cristóbal e membro do VP. O Estado de Táchira foi o foco inicial das manifestações que se propagaram pelo resto do país. O Governo disse que a situação foi especialmente grave na capital do Estado, já que os manifestantes tiveram o apoio e a coordenação de Ceballos, eleito prefeito em dezembro do ano passado.
Nesta quinta-feira, o vice-presidente da Assembleia Nacional, Darío Vivas – deputado pelo oficialista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV)- deu início ao processo de cassação da imunidade parlamentar de sua colega María Corina Machado. Machado, que já foi pré-candidata presidencial de oposição e a deputada mais votada do parlamento venezuelano, lidera com Leopoldo López a campanha de La Salida (A Saída) um movimento que propõe a tomada ativa das ruas pelo fim do Governo de Nicolás Maduro.
É dado por certo que a Assembleia Nacional - dominada pelo Governo - aprove na semana que vem cassar o mandato parlamentar de Machado e incorporá-la à mesma causa pela qual processam López.
Nicolás Maduro se referiu, além disso, em duas intervenções consecutivas, às detenções de dois indivíduos que ameaçariam pelo Twitter a atentar contra a vida do presidente e da filha de Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional e considerado o número dois do chavismo. A identidade dessas pessoas não foi divulgada.
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