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O verdadeiro curto-circuito é o calor

As altas temperaturas revelam a falta de manutenção da infraestrutura e explicam o apagão que afetou os seis milhões de brasileiros em 13 Estados

Carla Jiménez

Sim, está calor. Sim, o país está consumindo mais energia, por meio de ar-condicionado e ventilador, para driblar as altas temperaturas. E sim, há uma chance de que essas duas variáveis combinadas aumentem as panes no sistema elétrico, embora o Governo e o Operadora Nacional do Sistema (ONS) afirmem que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Ontem, dois curtos-circuitos em duas linhas de transmissão no sistema que interliga a região Norte ao Sudeste afetou a distribuição de energia em 13 Estados, incluindo o Acre, São Paulo e Rio Grande do Sul, de acordo relatório da ONS. A pane ocorreu por volta das 14 horas de ontem, quase ao mesmo tempo em que foi registrado um pico de consumo em território nacional, e justamente no horário em que os termômetros marcavam mais de 30 graus.

Segundo José Goldemberg, físico da Universidade de São Paulo, se houver algum equipamento sem a manutenção adequada, ele pode se tornar um gargalo para a transmissão de eletricidade, e desta forma, aumentam as chances de curto-circuito. “O sistema de energia está estressado, e se houver equipamentos vulneráveis, a chance de um acidente aumenta”, explica Goldemberg, que é membro da Academia Brasileira de Ciência. “É como nas estradas brasileiras. Se não houver manutenção, enquanto o número de carros em circulação aumenta, o risco de acidentes é maior”, compara.

No mundo da eletricidade, há uma relação direta entre o aumento das vendas de eletrodomésticos, que tem batido recorde ano a ano, e a falta de contrapartida de investimento em infraestrutura, observa Goldemberg, o que tem deixado o sistema brasileiro no limite, embora ele seja relativamente novo. O consumo de energia no Brasil, que evoluía pari e pasu com o PIB, agora se descolou e cresce acima da economia. Enquanto o PIB de 2013 deve ficar em 2,2%, o consume de energia avançou 3,5%.

Na vida prática, essa equação tem deixado os brasileiros bastante irritados. Ontem, uma das linhas do metrô em São Paulo parou com uma queda de energia, o que desligou o ar-condicionado dos vagões, gerando um corre corre, com os passageiros apertando os botões de alarme. Hoje, as interrupções continuaram, ainda que pontualmente, em algumas regiões do país. Em Blumenau, no sul do país, o internauta Gustavo tuitava às 3 da tarde: “Queda de energia, deu dois piques e voltou. Cai energia direto”. Outros comentários do gênero poderiam ser lidos nas redes sociais.

Nesta semana, as interrupções no fornecimento de energia cobraram a fatura das concessionárias do setor. O preço das ações das companhias caiu ontem e hoje depois dos mini apagões. Mas, podem cobrar a conta política do Governo de Dilma Rousseff, pois teria faltado planejamento para lidar com situações limites como a atual.

A falta de chuva tem mantido os reservatórios de água nas mínimas. Em Itu, cidade a uma hora de São Paulo, foi decretado o racionamento de energia até que a chuva volte. Na capital paulista, a Sabesp, concessionária de água, está dando desconto para quem economizar. Pode até não ser o apagão que abateu o país em 2001 e exigiu o racionamento e a economia de luz ao longo de um ano, quando a demanda superava a oferta de energia. Mas, a “sensação térmica” dos últimos dias é a mesma.

 

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