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Hollande recua diante da pressão dos ultraconservadores

O Governo francês decide adiar a promulgação da discutida Lei da Família após os protestos da direita reacionária

Manifestação contra a Lei da Família do Governo francês.
Manifestação contra a Lei da Família do Governo francês.ERIC FEFERBERG (AFP)

A pressão da França mais reacionária e ultraconservadora ––que nas últimas três semanas tomou repetidamente as ruas para manifestar sua raiva e seu ódio ao Governo, ao presidente, François Hollande, e ao mundo em geral–– colheu ontem uma vitória significativa. O Executivo francês anunciou nesta segunda-feira a decisão de adiar a promulgação da Lei da Família, anunciada para este ano, até o exercício seguinte, em uma tentativa de frear os protestos de católicos.

Depois da Marcha Pró-Vida, de 19 de janeiro, e a chamada Jornada da Ira, que reuniu em 16 de janeiro 17.000 pessoas em Paris para protestar pela pressão fiscal ––a marcha degenerou em slogans antissemitas, racistas e homofóbicos, houve distúrbios e 250 prisões––, no domingo foi a vez de mais de 100.000 cidadãos pacíficos, muitos deles crianças, jovens e avós.

Vestidas nas cores pastel da Manif pour Tous, o movimento tradicionalista que liderou a oposição de massa à já aprovada lei do casamento homossexual, as famílias protestaram em Paris e Lyon contra a suposta familiofobia do Executivo socialista. O combustível do protesto eram dois boatos, ou melhor, duas mentiras: a introdução da teoria do gênero na escola para promover a homossexualidade dos alunos e os planos do Governo de legalizar a barriga de aluguel.

Longe de se acalmarem, o delírio de uma camada historicamente silenciosa da sociedade francesa parece piorar. Esses indignados, herdeiros da direita antissemita e pétainista, tomaram o lugar da dividida e desaparecida esquerda radical; e sua crescente presença nos meios de comunicação e nas ruas desencadeou na quinta potência econômica mundial um ambiente que cada vez mais recorda os anos 30.

Sob o olhar, às vezes complacente e às vezes assustado de seus partidos de referência, o ex-gaullista e hoje populista União por um Movimento Popular (UMP) e a extremista e antissemista Frente Nacional (FN), esta heterogênea galáxia reacionária, formada por católicos mais ou menos fundamentalistas, políticos eleitos de ideologia retrógrada, grupúsculos violentos, associações de estudantes racistas, seguidores do comediante Dieudonné ––ao qual ontem o Reino Unido proibiu a entrada no país––e intelectuais negacionistas como Alain Soral, expressa sem filtros nem tabus seu desejo de insurreição.

Eles se denominam “revolucionários” e não deixam pedra sobre pedra. Um dia exigem para a França uma lei de aborto como a que o governo espanhol prepara, outro dia insultam o presidente Hollande e exigem sua demissão ––no domingo cantavam para ele: “por acaso, François, sua mãe se chama Robert?” –– em outro, intimidam os homossexuais e os imigrantes.

O filósofo Robert Badinter ressaltou este domingo no Le Parisien que é a “primeira vez desde o final da ocupação que se ouve gritar ‘fora judeus’ nas ruas de Paris”, e lamentou a “fraca reação dos partidos republicanos” e a “degeneração do debate político”. Na sexta-feira, Hollande tinha alertado desde Oxford contra “os movimentos extremistas que não têm fronteiras e tentar criar um clima de ódio”, e o ministro do Interior, Manuel Valls, redobrou no domingo essa mensagem ao afirmar que está nascendo um “Tea Party à francesa” que só pode ser combatido pela esquerda.

À medida que se aproximam as eleições municipais de março e as europeias de maio, e tendo em vista que as pesquisas não melhoram, Valls mudou seu discurso. Primeiro deixou para trás suas diatribes contra a comunidade cigana e a livre circulação de pessoas, essência do projeto europeu. E ontem decidiu retardar a promulgação da Lei da Família.

Paralelamente, vão surgindo cada vez mais detalhes sobre a estrutura econômica e ideológica da Frente Nacional, de Marile Le Pen, e ambos parecem bem menos inocentes do que garante sua líder. Segundo o livro do jornalista Frédéric Haziza Vol au-dessus d’un nid de fachos, Frédéric Chatillon, um dos assessores favoritos de Le Pen, ex-líder do grupo neonazista GUD e credor da FN, tem laços com o historiador negacionista Robert Faurisson e participa de jantaresm em homenagem a Hitler. Chatillon reagiu pedindo à Justiça que censure algumas passagens do livro.

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