_
_
_
_

Vitória diplomática de Cuba com a celebração da cúpula da Celac

A presença de 30 chefes de Estado será propagada por Havana como o resultado de uma política externa mais realista

Bernardo Marín
Dilma Rousseff e Fidel Castro ontem em Havana, Cuba.
Dilma Rousseff e Fidel Castro ontem em Havana, Cuba.HANDOUT (REUTERS)

Cuba se consolida no cenário diplomático regional como um ator de primeiro escalão com a realização, nesta semana em Havana, da cúpula da Celac (Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe), o mais jovem mecanismo de integração regional, criado por iniciativa de Hugo Chávez em 2011 para reunir todos os países do continente, exceto Canadá e Estados Unidos. A “foto de família”, que previsivelmente reunirá mais de 30 chefes de Estado de todo o continente, poderá ser empunhada pelo Governo de Raúl Castro como uma importante vitória diplomática, resultado de uma política externa mais realista, que já obteve outros dividendos, como o perdão de 70% da sua dívida com o México, em novembro passado.

A ilha realiza a cúpula em meio a tímidos gestos de abertura econômica, como a revogação da proibição de alugar imóveis, a autorização para a compra e venda de moradias e a ampliação das condições de trabalho por conta própria, mas sem sinais de abertura política. Por isso, a oposição deplorou a celebração de um evento que vê como uma legitimação do regime cubano. Principalmente porque, embora muitos países critiquem a situação dos direitos humanos na ilha, nenhum chefe de Estado se reunirá, salvo surpresa, com a oposição ou com grupos civis independentes. Ao meio-dia desta segunda-feira, só a delegação da Costa Rica estudava algum tipo de encontro com a oposição.

A cúpula marcará também a primeira vez que um secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) pisará em Cuba desde 1959. A entidade comandada por José Miguel Insulza excluiu Cuba em 1962, quando John F. Kennedy era presidente dos EUA, e a reintegrou em 2009, com a condição de que o Governo de Raúl Castro iniciasse um diálogo e aceitasse os princípios da organização, cuja carta institucional prevê a “observância efetiva da democracia representativa”. Mas Cuba não mordeu a isca, com o argumento de que a OEA continua sendo dominada pelos Estados Unidos, em cuja capital fica a sede da entidade.

Em princípio, está confirmada a presença de 31 chefes de Estado dos 33 países-membros. A participação do presidente chileno, Sebastián Piñera, era colocada em dúvida no meio-dia desta segunda-feira (hora local, 9h em Brasília), pois ele aguardava a decisão da Corte Internacional de Justiça, em Haia, sobre o conflito territorial com o Peru. O único a rejeitar o convite foi o mandatário panamenho, Ricardo Martinelli, em protesto contra a presença de armas cubanas, violando um embargo da ONU, em um navio norte-coreano apreendido no Canal do Panamá. Numa plenária preliminar ocorreu um atrito diplomático precisamente entre o Panamá e Cuba, por conta de um parágrafo de reconhecimento a Hugo Chávez, fundador da Celac, que acabou sendo mantido. A reunião marca também a reincorporação do Paraguai, excluído após a destituição de Fernando Lugo.

A cúpula será aproveitada pelo México para relançar suas relações com Cuba, com uma visita oficial do presidente Enrique Peña Nieto na quarta-feira. O México, único país da América Latina e do Caribe que nunca rompeu relações diplomáticas com Havana, desfrutou desde a revolução de uma privilegiada relação com a ilha, chegando a ser seu principal sócio no hemisfério ocidental. No entanto, essa diplomacia desandou em 1999, com a visita da então secretária (ministra) de Relações Exteriores, Rosario Green, a um setor da dissidência cubana, aproveitando uma viagem a Havana. Os desencontros não foram arrumados durante as presidências de Vicente Fox e Felipe Calderón, mas agora Peña Nieto parece disposto a recompor plenamente as relações.

O Governo de Cuba também aproveitou a realização da cúpula para mostrar ao mundo os primeiros 700 metros do megaporto de Mariel, 45 quilômetros a oeste de Havana, um passo para a modernização e para o investimento estrangeiro em larga escala. Participaram da inauguração os presidentes de Cuba, Raúl Castro; da Bolívia, Evo Morales; da Venezuela, Nicolás Maduro; e, como convidada especial, a mandatária brasileira, Dilma Rousseff, cujo país financia a infraestrutura.

A cúpula de presidentes acontecerá nesta terça e quarta-feira. Sobre a mesa estão uma Declaração de Havana e 30 documentos, entre eles um de apoio ao processo de diálogo entre o Governo colombiano e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que transcorre precisamente em Cuba. Outro texto prevê que a região seja transformada em uma “zona de paz”, e um terceiro incorpora Porto Rico à Celac, apesar de se tratar de um Estado livre associado aos EUA.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_