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Hollande e o estranho apartamento da Rue du Cirque

O local onde o presidente estava com a sua amante está relacionado máfia francesa Os paparazzi que fizeram as fotos alugaram um imóvel próximo para realizar seu trabalho As brechas na segurança do Estado suscitam dúvidas sobre o papel de Valls e Sarkozy

Francois Hollande e sua esposa, Valerie Trierweiler, o passado/passo outubro.
Francois Hollande e sua esposa, Valerie Trierweiler, o passado/passo outubro.PHILIPPE WOJAZER (REUTERS)

François Hollande, o presidente normal, converteu-se em um presidente demasiado normal. A revelação de que o chefe do Estado se encontrava com a atriz Julie Gayet em segredo, à margem de sua relação com Valérie Trierweiler — hospitalizada desde sexta-feira em uma clínica de Paris por um "ataque de tristeza", segundo a definição de um porta-voz do Palácio do Eliseu —, foi-se complicando com as horas e passou do privado ao público colocando Hollande em uma situação política muito difícil. O apartamento dos encontros galantes, localizado na Rue du Cirque, número 20, a duas ruas do Palácio do Eliseu, está relacionado com o grupo Brisa de Mar, um dos mais violentos da máfia corsa. Os fotógrafos que fizeram as imagens do presidente diante da porta alugaram um andar em frente para poder trabalhar. Não houve impedimento. As falhas nos serviços de segurança do Estado levou alguns observadores a afirmar que Manuel Valls, o ministro do Interior, mais amigo de Trierweiler que do presidente, traiu o chefe.

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O ninho de amor clandestino da Rue de Cirque tem por trás uma história inquietante. Seu proprietário é um inocente aposentado de 71 anos, Jean-Pierre Discazeaux, que vive em Biarritz, e que em 2011 alugou o andar à atriz Emmanuelle Hauck, nascida em Bastia, que, por sua vez, o emprestou à sua amiga Julie Gayet, a amante de Hollande, enquanto esta realizava obras em seu estúdio na Rue Fauburg-Saint-Honoré, próxima dali.

O problema é que Hauck era casada até seis anos atrás e tem seis filhos com o ator corso Michel Ferracci, protagonista da série televisiva Mafiosa, condenado em novembro passado a 18 meses de cárcere por abuso de confiança no processo do Círculo Wagram.

Após separar de seu marido há seis anos, Michel Ferracci, a atriz Emmanuelle Hauck engatou uma relação com outro corso, um tal de François Masini, que foi assassinado no dia 31 de maio de 2013 durante um ajuste de contas no norte da ilha mediterrânea.

Essas informações suscitam numerosas dúvidas. Em primeiro lugar, sobre a imprudência de Hollande, que expôs a função presidencial a um grande imbróglio sentimental e se viu imerso, embora de forma indireta e fortuita, numa rede com laços com a máfia corsa. Em segundo lugar, sobre a segurança do chefe do Estado e sua proteção. Segundo o diário digital Mediapart, que antecipou ontem à noite a notícia, se o ministro do Interior não sabia nada sobre isso, pecou por incompetência, e se sabia, parece razoável duvidar de sua lealdade a Hollande.

Manuel Valls recusou ter alguma responsabilidade no assunto, e comentou ao jornal Le Monde, que o Grupo de Segurança da Presidência da República (GSPR), dirigido pela comissária Sophie Hatt, "dispõe de uma absoluta autonomia de funcionamento". O ministro acrescentou que "não estava a par dos deslocamentos do presidente": "Se ele decide ir a algum lugar, é sua responsabilidade", disse.

Valls afirma que conheceu os detalhes da história no domingo à noite, e culpa implicitamente Hollande de ter cometido uma imprudência: "Isto não são os Estados Unidos: se um ministro ou um político não quer um dispositivo de segurança, isso não pode ser imposto a ele". Valls reformou o serviço de segurança do Eliseu: nomeou policiais para essa tarefa. Segundo afirma, "a segurança do presidente neste affaire não se viu ameaçada".

Fontes do Palácio do Eliseu afirmam que Hollande visitou o apartamento uma dúzia de vezes desde o outono de 2013, e que chegava até a Rue du Cirque como passageiro em uma moto pertencente à frota do Eliseu conduzida por um membro de sua escolta. Um segundo policial os acompanhava. Nenhum deles pesquisou o passado da inquilina do apartamento, nem seus laços com indivíduos corsos de perfil tão duvidoso, diz o Eliseu. Também não sabiam que os paparazzis que tiraram as fotos do presidente alugava um andar próximo para fazer a reportagem publicada na revista Closer na sexta-feira. Segundo a presidência francesa, Hollande nunca teve conhecimento dos laços existentes entre Hauck e a máfia.

Há uma mão negra por trás da publicação do amor de Hollande? A pergunta inquieta o palácio, que suspeita abertamente do ex-presidente Nicolas Sarkozy. Nos últimos meses, os rumores sobre a relação secreta do presidente foram aventados por várias redes muito próximas ao ex-presidente, que mantém influentes apoios na cúpula policial e no próprio serviço de segurança do Eliseu. Em dezembro, a Closer publicou a exclusiva de que um dos filhos de Valérie Trierweiler era preso por posse de maconha. Segundo o Le Monde, o casal presidencial viu nesse assunto "a ação das redes subterrâneas de Sarkozy".

O ano de 2014 do grande homem da França está apenas começando.

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