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Adeus a 2013 sem a reforma da imigração nos Estados Unidos

A falta de iniciativa do Partido Republicano distancia os 11 milhões de indocumentados da esperada regularização

Obama reunido com líderes religiosos na Casa Branca.
Obama reunido com líderes religiosos na Casa Branca.PETE SOUZA (THE WHITE HOUSE)

– Meu nome é Carmen Lima e tenho 13 anos. Como o senhor se sentiria se tivesse de dizer a seus filhos, quando eles tinham 10 anos, que nunca mais voltariam para casa?

– Isso não seria nada bom.

– Bem, isso é exatamente o que aconteceu comigo. Eu pensei que nunca mais voltaria a ver o meu pai, porque ele era um imigrante ilegal.

– Eu continuo tentando encontrar uma maneira de resolver esse assunto, mas não é fácil e, como eu disse desde o dia da última eleição, este é o momento de aprovar a reforma.

– Então podemos contar com o seu voto?

– Bem, eu ainda estou tentando levar isso adiante.

Essa foi a conversa mantida nesta manhã por uma jovem imigrante, Carmen Lima, com o presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, John Boehner. Lima e outra adolescente abordaram o político republicano em um café de Washington para perguntar sobre o trabalho dele no sentido de aprovar a reforma da imigração. No entanto, Boehner, que em nenhum momento deixou a esmiuçar a tortinha que estava prestes a comer no café da manhã e mal levantou o olhar enquanto escutava as jovens, anunciaria poucas horas depois que não avaliará neste ano o projeto de lei aprovado em meados de 2013 pelo Senado.

“Honestamente, vou falar muito claramente: não temos nenhuma intenção de negociar o projeto de lei aprovado pelo Senado”, disse Boehner em entrevista coletiva na quarta-feira. “Vocês precisam entender que queremos resolver esse assunto, mas quero fazer isso com bom senso e passo a passo”.

A reforma do sistema de imigração ficou sem tempo. O ano de 2013 não testemunhará o avanço de um projeto de lei que milhões de imigrantes indocumentados esperam há mais de três décadas. Restam apenas 13 dias de atividade política no Capitólio, um prazo impossível para que se chegue a um acordo que democratas e republicanos foram incapazes de alcançar nos últimos seis meses.

O presidente da Câmara abriu mão de negociar a legislação aprovada pelo Senado em junho passado, a qual regularizaria a situação de 11 milhões de indocumentados, além de implementar outras medidas, como o aumento da segurança nas fronteiras, a criação de um sistema de verificação dos novos trabalhadores e vistos para profissionais estrangeiros.

O apoio de senadores democratas e republicanos a essa lei, um exemplo com poucos precedentes em matéria de imigração, desapareceu ao chegar à Câmara. Lá, a maioria republicana insiste em reformar o sistema por meio de várias leis separadas, de modo a angariar o apoio de conservadores que concordam, por exemplo, em reforçar a vigilância na fronteira, mas não em regularizar os “sem-documentos”.

A falta de tempo e a proximidade de um ano eleitoral projetam apenas obstáculos no futuro da reforma. Na semana passada, o deputado Mario Díaz- Balart, um dos negociadores do seu partido, disse ao jornal The Washington Post que o prazo para a aprovação da legislação “se esgotará definitivamente”. Seu colega Kevin McCarthy, da Califórnia, também afirmou em uma reunião com ativistas pró-reforma que “é muito difícil fazer qualquer coisa em 13 dias”, período restante antes do fim do ano parlamentar.

O pessimismo nas fileiras republicanas, que nunca chegaram a impulsionar a reforma com a mesma força e empenho que os democratas, contrasta com o nível de atividade de diferentes grupos ativistas e do presidente Barack Obama, que recebeu hoje os líderes religiosos de todo o país para continuar a pressionar os legisladores em favor de uma nova lei.

Segundo a Casa Branca, Obama declarou às organizações religiosas que “não há nenhuma razão” para os republicanos continuarem postergando uma questão que tem apoio bipartidário, e que sua colaboração “demonstraria aos cidadãos norte-americanos que Washington ainda pode trabalhar ombro a ombro para resolver os desafios de nosso país”.

O vice-presidente Joe Biden, também presente à reunião com os líderes religiosos, fará na quinta-feira um discurso reiterando os benefícios econômicos da reforma do sistema imigratório. Como revelou o site Politico, Biden pediu na quarta-feira a várias organizações que mantenham a campanha de pressão sobre os legisladores, para que “a reforma não morra como aconteceu com a lei de controle de armas”.

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