_
_
_
_
_

De Bono Vox a Paul Simon, música para Nelson Mandela

A luta contra o 'apartheid' foi causa comum para os músicos ocidentais durante os anos oitenta Uma seleção dos sons inspirados pelo líder

Nos anos oitenta a luta contra a segregação racial na África do Sul, contra o regime branco que mantinha confinados em grandes guetos aos negros no país mais austral da África foi uma causa comum entre os músicos ocidentais. E havia muitas razões para isso. Principalmente porque era uma causa de pureza indubitável para uma geração de estrelas recém consagradas -Sting, Springsteen, U2-, que possuíam coragem e compromisso e que não tinham problemas em participar nos mais variados saraus benéficos, -os agricultores, a Amazônia, a fome na Etiópia...-, mas que temiam implicar-se em lutas com conteúdo político. Os movimentos revolucionários, -o palestino, a causa católica na Irlanda do norte, inclusive o regime sandinista nicaraguense, tinham muitas luzes e sombras.

Mas a África do Sul não. Os bôeres mantinham um regime tão claramente maligno que nem sequer se esforçavam em dissimular. Era uma luta quase de desenho animado. Policiais atirando em estudantes em Soweto. Torturas, matanças... Estavam os maus, os alvos; os bons; os negros. E inclusive um herói, Nelson Mandela, que estava preso há mais de duas décadas de forma injusta.

Até os secundários eram extraordinários. O mártir, Stephen Biko; o religioso comprensivo, O arcebispo Desmond Tutu; a mãe coragem, Winnie Mandela. E vilões magníficos, como Piter Botha.

Era guloso. E, além disso, era uma luta que se podia ganhar.

Apesar dos grandes concertos, -nos anos oitenta os grandes festivais benéficos se tornaram habituais depois do sucesso de Live Aid em 1984- as canções contra o apartheid foram, em muitos casos, opções individuais.  No momento em que se anunciou o primeiro grande concerto The Nelson Mandela 70th Birthday Tribute, em junho de 1988, no estádio londrino de Wembley, televisado ao mundo todo, a causa sul-africana era a causa pop por excelência, e a vitória se sentia próxima. Mandela seria liberto em 1990.

Free Nelson Mandela, The Special AKA.

The Special AKA, o grupo de ska mais popular dos filhos do punk, fruto das cinzas do The Specials. Esta canção espetacular e brilhante, de rua, converteu-se no hino oficial do movimento antiapartheid pop.

Biko, Peter Gabriel

Apesar de sair do Genesis, um grupo de rock progressivo pré-punk, Gabriel soube se reorientar. Biko, sua homenagem a Stephen Biko, o jovem líder assassinado em uma cela em 1977, foi originalmente gravada para seu terceiro disco em 1980, e Robert Wyatt fez uma versão em 1984.  Mas converteu-se em um sucesso mundial com a estreia de Cry freedom, uma biografia que contava a história do militante sudafricano. Naquele filme também havia uma emocionante versão de Nkosi Sikelel' Afrika, Deus salve a Africa.

Sun City, Artists United Against Apartheid

Para entrar de cabeça no boicote contra os interesses sul-africanos, Little Steven, guitarrista da E Street Band de Springsteen, que naquele momento passava por uma etapa politizada, compôs Sun City, inspirado em Biko de Peter Gabriel. A música tentava qualificar de "fedido" Sun City, um resort de férias ao estilo Las Vegas, que ficava excluído por estar situado em um bantustan, uma área tida como independente e dirigida por um governo negro, mas que não era mais que uma marionete a serviço da África do Sul. Em 1985 o coletivo Artists United Against Apartheid, no qual estavam Bono Vox, Bob Dylan, Tom Petty, Run Dmc, Africa Bambaattaa, num total de 40 artistas, gravou esta canção. Falando nisso, o U2 acaba de lançar Ordinary Love’, que será parte do filme sobre Nelson Mandela, titulado Long Walk to Freedom.

Rat in the kitchen, UB40

Parece mentira que este coletivo multirracial de Birmingham, que foi um respeitado grupo de reggae altamente politizado, se converteu posteriormente em um grupinho que fazia musiquinhas para cruzeiros. Rat in mi kitchen, era sua canção antiapartheid, lançada em 1986, embora Tyler, de seu primeiro álbum, e que falava do linchamiento de um negro nos Estados Unidos nos anos sessenta era também precedida por um discurso antiapartheid quando tocada ao vivo.

Graceland, Paul Simon

O cantautor nova-iorquino não respeitou o boicote e gravou seu disco Graceland na África do Sul com músicos locais, o que gerou considerável polêmica. O sucesso do álbum, que se converteu em um hit mundial, não só voltou a colocá-lo no mapa, como também deu visibilidade aos músicos que participaram, e fez com que os sons, a forma de tocar a guitarra- que se chamou guitarra zulú, desconhecidos para o grande público, passassem a ser parte do pop mundial. Duas décadas mais tarde sua rastro ainda se encontra em bandas como Vampire Weekend.

Homeless, Ladysmith Black Mambazo

O machado negro de Ladysmith era um conjunto vocal que Paul Simon descobriu em Graceland. Um grupo vocal de zulus, militantes do African National Congress, que percorreram o mundo. Quando as lutas de rua entre o partido zulu Inkhata e o ANC voltaram a ser habituais e sangrentas, após a libertação de Mandela, eles apostavam na reconciliação.

Soweto blues (South African freedom song) Miriam Makeba e Hugh Masekela

Quando o pop lhes fazer renascer, eles já eram veteranos. O trompetista e a vocalista, conhecida como Mamãe África ressurgiram pelo interesse mundial pela música da África do Sul. Hugh Masekela editou em 1987 Bring Him Back Home, que quer dizer “tragam-no de volta a casa”

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_