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Trump reforça equipe para conter danos da trama russa

Presidente estrutura núcleo jurídico e de comunicação que se dedique às revelações da investigação

Donald Trump e sua esposa Melania, no sábado ao chegar à Casa Branca
Donald Trump e sua esposa Melania, no sábado ao chegar à Casa BrancaBRENDAN SMIALOWSKI (AFP)

Após semanas de vaivéns, Donald Trump acabou admitindo uma realidade: a chamada trama russa corrói o dia a dia do seu Governo. O presidente norte-americano procura erguer um dique de contenção. Cogita contratar uma equipe jurídica e de comunicação que se dedique a administrar as revelações da investigação sobre os laços de seu entorno com a Rússia. As apurações do FBI crescem como ameaça para Trump porque chegam ao seu núcleo político e familiar: especificamente a Jared Kushner, seu genro e um de seus principais assessores.

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Trump voltou na noite de sábado a Washington após nove dias no exterior. Quereria que o debate político girasse ao redor da sua extensa viagem pelo Oriente Médio e a Europa. Ou sobre sua agenda legislativa, como as reformas dos sistemas sanitário e fiscal. Mas o bilionário nova-iorquino comprovou que, com ele fora, as águas não se acalmaram na capital do país. Seu quarto mês como presidente continua condicionado pela prolongada sombra do Kremlin.

O republicano foi ao exterior acossado pela inesperada nomeação, sem seu beneplácito, de um promotor especial, o ex-diretor do FBI Robert Mueller. Ele lidera as investigações sobre se houve coordenação entre o entorno do republicano e o ataque cibernético de Moscou contra o Partido Democrata durante a campanha eleitoral, supostamente para auxiliar Trump a vencer a eleição presidencial.

Com Trump de volta aos EUA, o debate só se intensificou, depois que a imprensa revelou que Kushner está na mira do FBI por causa das suas reuniões com o embaixador russo em Washington, Serguei Kislyak, ocorridas entre a vitória eleitoral, em novembro, e a posse de Trump, em janeiro. Segundo alguns veículos de comunicação, Kushner propôs ao diplomata a criação de um canal secreto e seguro de comunicação entre a equipe do presidente eleito e o Governo de Vladimir Putin.

Esse canal nunca se abriu, mas alimenta as suspeitas sobre os acalorados elogios de Trump a Putin e a opacidade que cerca os contatos do entorno do republicano com Kislyak, fatores que representam uma dor de cabeça para a Casa Branca.

Kushner, marido de Ivanka Trump e com uma enorme influência no Governo, não se pronunciou sobre a investigação do FBI que o afeta. O secretário (ministro) de Segurança Doméstica, John Kelly, abordou a polêmica no domingo, numa entrevista televisiva em que descreveu como “boa coisa” qualquer tentativa de dialogar com um país rival. Mas a oposição democrata encontrou uma nova frente de ataque e pediu a revisão das credenciais de segurança concedidas a Kushner como alto funcionário da Casa Branca.

Em meio à enésima crise da sua curta presidência, Trump prepara um plano que isole sua Administração do constante desgaste causado pelo interminável fluxo de informações relativas à trama russa. A Casa Branca não fez nenhum anúncio oficial, mas a imprensa norte-americana dá como certo que Mark Kasowitz, advogado pessoal de Trump há muito tempo, foi contratado para formar uma equipe jurídica que assessore o mandatário perante a investigação do promotor especial.

Paralelamente, Trump cogita fazer mudanças em sua equipe de comunicação. Estuda criar um grupo de crise que se dedique apenas à gestão das notícias sobre a investigação dos vínculos com a Rússia. Os porta-vozes atuais perderiam presença pública, e o presidente aumentaria suas aparições para cortejar a sua base fiel de eleitores e tentar centrar o debate em sua agenda política.

São passos semelhantes aos que Bill Clinton adotou, nos anos noventa, quando foi investigado por seu relacionamento com Monica Lewinsky, o que levou à abertura de um frustrado processo de impeachment contra o presidente democrata.

Mas Trump é Trump. É indomável. Suas próprias bravatas, que deslumbram os seus, acentuaram suas dificuldades jurídicas. Por exemplo, suas ameaças e versões contraditórias sobre por que demitiu James Comey da direção do FBI, há três semanas, foram determinantes para a designação de um promotor especial por parte do Departamento de Justiça.

Fim da trégua no Twitter

Neste domingo, ele voltou a deixar claro. Depois de uma trégua durante sua primeira viagem internacional, o mandatário retomou suas mensagens incendiárias no Twitter. Disparou contra um de seus inimigos favoritos: os meios de comunicação. E foi impossível não ler sobre Jared Kushner nas entrelinhas.

“É minha opinião que muitos dos vazamentos que saem da Casa Branca são mentiras fabricadas pelos veículos de notícias falsas”, escreveu Trump. “Sempre que vocês virem as palavras ‘fontes dizem’ nos meios de comunicação e eles não mencionarem nomes, é muito possível que essas fontes não existam e que sejam inventadas pelos autores de notícias falsas. As notícias falsas são o inimigo”, acrescentou.

A realidade, entretanto, é que a imensa maioria dos vazamentos publicados até agora demonstrou ser correta e teve consequências políticas. A revelação do conteúdo de suas reuniões secretas com o embaixador russo, antes da posse, custou a Michael Flynn o posto de assessor de Segurança Nacional de Trump e forçaram o secretário de Justiça Jeff Sessions a abrir mão de supervisionar a investigação do FBI. Agora, o perseguido é Kushner.

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