Após demissão do diretor do FBI, Senado toma rédeas da investigação da trama russa
General Michael Flynn terá que entregar todos os documentos que o vinculam à Rússia
O tenente-general Michael Flynn está cercado. O Comitê de Inteligência do Senado convocou o conselheiro demitido de Segurança Nacional a entregar todos os documentos que o vinculam à Rússia. Entre eles, figura a lista de bens que Flynn possuiria naquele país e os registros, gravações e notas de suas reuniões com funcionários russos entre 16 de junho de 2015, data do início da campanha de Donald Trump, até sua posse em 20 de janeiro.
A ordem do poderoso comitê é de cumprimento obrigatório e vem depois de Flynn se recusar a entregar a informação voluntariamente. Além de Flynn, foram convocados outros antigos assessores eleitorais de Trump, como seu amigo e conselheiro de relações internacionais Carter Page. A investigação, que corre paralela à realizada pelo FBI e outro comitê da Câmara dos Representantes, procura esclarecer se a equipe de campanha do presidente teve colaboração do Kremlin em seus ataques à democrata Hillary Clinton.
Apesar de nenhuma prova definitiva ter sido encontrada até agora, a densidade dos contatos entre os homens de Trump e Moscou é de tal magnitude que as suspeitas não param de crescer. O caso mais avançado é o de Flynn. O general reformado dirigiu entre 2012 e 2014 a Agência de Inteligência da Defesa. Depois de ser demitido por seu caráter tirânico, passou a prestar consultoria no mercado russo, onde chegou a jantar com o presidente Vladimir Putin.
Trump, um admirador dos militares com experiência no campo de batalha, nomeou-o como assessor. Islamófobo e agressivo, logo conquistou um lugar no círculo íntimo do candidato republicano, ao lado do futuro procurador-geral, Jeff Sessions, e do atual estrategista chefe, Steve Bannon. Depois da vitória, foi premiado com o posto de conselheiro de Segurança Nacional, um cargo com acesso aos maiores segredos de Estado.
Durou só 24 dias no cargo. Em 13 de fevereiro foi obrigado a renunciar após a revelação de que ele havia mentido sobre o conteúdo de suas reuniões com o embaixador russo em Washington, Serguei Kislyak. Ele negou ao vice-presidente e à opinião pública que, um mês antes de chegar ao poder, havia conversado com o diplomata sobre as sanções impostas por Obama ao Kremlin por causa da campanha cibernética contra Clinton. Mas sua conversa com Kislyak foi gravada pelos serviços de inteligência e chegou ao então procurador-geral em exercício, Sally Kates, que alertou a Casa Branca de que Flynn estava mentindo e, portanto, era suscetível de chantagem pelos russos.
Desde então, Flynn não parou de afundar. Descobriu-se que não tinha a devida autorização para receber pagamentos de empresas russas e até que atuou como lobista para uma companhia próxima ao Governo turco sem ter licença para isso.
Assustado com o rumo tomado pelas investigações, Flynn tentou, um mês atrás, obter a imunidade em troca de uma deposição voluntária. O pedido foi negado. Agora é obrigado a entregar os documentos.
A decisão de exigir os dados por ordem judicial foi tomada após o fim do prazo, nesta terça-feira, para apresentá-los voluntariamente. E coincidiu no tempo com a decisão de Trump de demitir o diretor do FBI, James Comey, que tinha a seu encargo a investigação mais ampla e avançada sobre a trama russa. Com a saída de Comey, muitos democratas veem nos comitês do Senado e da Câmara dos Representantes o único caminho possível para descobrir a verdade.
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