Tumba de ditador argentino Jorge Videla leva nome falso
Videla morreu em 2013 na prisão onde cumpria pena por crimes cometidos no regime
O corpo do ditador argentino Jorge Videla (1976-1981) está enterrado há dois anos numa tumba com nome falso em um cemitério privado da Grande Buenos Aires (periferia da capital). Sua família queria enterrá-lo no jazigo onde estão seus antepassados em sua cidade natal, Mercedes (100 quilômetros a oeste de Buenos Aires), mas desistiu em virtude dos protestos populares realizados ali dias depois da sua morte.
Segundo reportagem publicada nesta quarta-feira pelo jornal Clarín, funcionários do cemitério Memorial do município de Pilar afirmaram que Videla está enterrado ali sob uma lápide que diz “Família Olmos”, mas o proprietário do lote, um militar condecorado pelo tirano, não confirmou a informação.
Videla morreu em 17 de maio de 2013 aos 87 anos no banheiro de sua cela na penitenciária de Marcos Paz, 51 quilômetros a sudoeste de Buenos Aires. Havia sido condenado em vários julgamentos por sequestros, torturas, assassinatos e desaparecimentos no regime mais sanguinário que a Argentina já teve. Outros 562 responsáveis pelo terrorismo de Estado daqueles anos também foram condenados pela Justiça do país.
Pouco depois da morte de Videla, um juiz iniciou uma investigação sobre os seus casos. O corpo do ditador permaneceu então seis dias no instituto médico legal até ser entregue à viúva e aos seis filhos vivos (o sétimo já morreu). O advogado da família, Adolfo Casabal, anunciou na época que o enterrariam em Mercedes. Logo depois, centenas de militantes de esquerda se manifestaram no local contrários ao enterro dos restos mortais nessa cidade ligada à produção agrícola, que possui 63.000 habitantes. Políticos e defensores dos direitos humanos de Mercedes também levantaram suas vozes. Por isso, os Videla decidiram enterrá-lo em Pilar numa cerimônia secreta da qual participou só uma dezena de pessoas. O advogado Casabal explicou que o sepultaram num túmulo sem nome para evitar que o cadáver fosse profanado por “filoterroristas”.
Desde o início, a família do ditador pediu autorização para cremar o corpo, mas o tribunal que investiga os motivos de sua morte ainda não a concedeu. Não foram reveladas as razões da demora. Enquanto isso, o corpo de Videla continua enterrado numa tumba do cemitério Memorial. Até lá marcham militantes de direitos humanos de Pilar todo 24 de março, dia em que se recorda o golpe de Estado liderado por Videla contra o Governo de Isabel Perón (1974-1976).
A família do ditador pediu autorização para cremar o corpo, mas o tribunal que investiga os motivos de sua morte ainda não a concedeu
“Está aqui, mas não figura com seu nome”, disse um empregado do cemitério, apontando para o túmulo, ao jornalista Enrique La Hoz Velarde, do Clarín. “O bloco de granito não tem flores nem sinais de que as teve nos últimos meses. A primeira coisa que conseguimos ler é uma inscrição na parte central: Família Olmos”, afirma o jornal. “O proprietário do terreno, Florêncio Alberto Olmos, se defende: ‘Tenho um lote nesse lugar que está em nome da minha família, mas nenhum Videla está enterrado lá. A não ser que o tenham enterrado sem a minha permissão’”, acrescenta. Videla dirigia o Colégio Militar quando Olmos se formou. Depois o condecorou, promoveu-o, nomeou-o secretário de Governo da província argentina de Salta e o enviou como diplomata à Espanha. “Então Videla não está enterrado nesse lote?”, insistiu o jornalista. “Não sei. Talvez isso tenha sido feito às escondidas”, respondeu Olmos.
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