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Qualidade da educação não avança na América Latina, segundo a Unesco

O último estudo comparativo da agência da ONU estabelece que 60% das crianças da sexta série não alcançam níveis mínimos em leitura e matemática

Educación América UNESCO
Um aluno chega a uma escola pública em Brasília para participar de uma aula presencial durante a pandemia covid-19, em 5 de agosto.Eraldo Peres (AP)
Federico Rivas Molina

A educação na América Latina não registra progresso notável desde 2013. Mesmo um ano antes da pandemia de covid-19, em média, mais de 40% dos alunos da terceira série do ensino básico e mais de 60% dos alunos da sexta série não alcançavam o nível mínimo de habilidades fundamentais em leitura e matemática. Os dados são do Estudo Regional Comparativo e Explicativo (ERCE 2019), divulgado nesta terça-feira pelo escritório regional da Unesco para a América Latina, realizado com mais de 160 mil crianças de 16 países.

“Os dados do ERCE 2019 indicam que pouco antes da pandemia a região estava, em média, praticamente estagnada em baixos níveis de aproveitamento nas competências que constituem os fundamentos para continuar o aprendizado”, diz a diretora da Unesco Santiago, Claudia Uribe. “Isso fala de uma geração inteira em risco de não ser capaz de desenvolver todo o seu potencial. Por isso, medidas e reformas educacionais para melhorar o aprendizado desde os primeiros anos de escolaridade não podem esperar e precisam ser priorizadas”, alerta Uribe.

O estudo coletou dados da Argentina, Brasil, Colômbia, Cuba, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai. De acordo com a pesquisa, 44,3% dos alunos da terceira série estão no nível mais baixo de aproveitamento em literatura e 47,7% no mais baixo em matemática. Já na sexta série, tiveram o nível de mais baixo desempenho 23,3% em leitura, 49,2% em matemática e 37,7% em ciências. As crianças da terceira série com baixo desempenho em literatura eram incapazes de localizar informações em um texto ou entendê-lo como um todo. Na sexta série, os alunos não foram capazes de inferir informações, porque tinham que compreender o texto completo ou conectar ideias secundárias ou específicas que são apresentadas nas diferentes partes de um texto. No caso da matemática, os alunos da sexta série com pior desempenho foram incapazes de resolver problemas que requeriam a interpretação de informações ou que envolviam duas ou mais operações, incluindo multiplicação ou divisão.

Os resultados praticamente não mudaram desde a avaliação anterior, feita em 2013, embora a realidade não seja a mesma em todos os países estudados. Peru, Brasil e República Dominicana foram os que mais melhoraram. As melhorias são “urgentes em um contexto de pandemia, em que milhões de meninos, meninas e jovens não puderam frequentar a escola durante meses, o que sabemos que está causando maiores retrocessos no aprendizado e aprofundando as lacunas para os grupos mais em desvantagem”, diz Uribe.

Os resultados do ERCE 2019 também fornecem informações sobre fatores externos associados à aprendizagem. Por exemplo, metade das diferenças de aprendizagem poderia ser atribuída às características da escola do aluno, bem como ao seu nível socioeconômico: quanto maior o nível, melhor o resultado do estudo. O número de horas de aula também foi decisivo: os que mais faltaram obtiveram piores resultados do que os que mantiveram a regularidade. O mesmo para quem dedica pelo menos um dia ou mais da semana à realização de tarefas fora do horário escolar. Em famílias onde pais e mães estavam mais envolvidos na educação dos filhos, foram registrados melhores resultados nos testes. “Precisamos voltar nossa atenção para os aprendizados fundamentais e ter um plano para fortalecê-los. Só assim poderemos avançar como região em tornar efetivo o direito à educação de qualidade, sem deixar ninguém para trás”, comenta Uribe.

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