Argentina vê pico da pandemia e endurece quarentena
Médicos recomendam ao presidente Fernández suspender viagens e limitar reuniões
A Argentina ainda tem a pandemia sob controle, mas acende luzes amarelas. Os casos positivos crescem de uma semana para cá acima dos 1.000 por dia e as autoridades sanitárias alertam sobre a pressão no sistema de saúde. O aumento da inclinação da curva levou ao endurecimento do confinamento na cidade de Buenos Aires e em seus subúrbios, onde são registrados 96% dos novos casos. E os médicos puseram fim às viagens que Alberto Fernández realizava pelo interior do país. Desde quinta-feira o presidente está recluso na residência de Olivos, com uma agenda mínima.
O último registro de casos diz que a Argentina tem 35.550 positivos de covid-19 e 929 mortos. Está muito longe de vizinhos como o Chile, com menos da metade da população e mais de 220.000 infectados, ou o Brasil, onde a pandemia é uma catástrofe incomensurável. Os casos positivos no gigante sul-americano estão perto de um milhão, com 47.700 mortos. O confinamento em que os argentinos vivem desde 20 de março conseguiu deter a propagação. No interior do país, onde a população é menor, os casos são contados às centenas. A estratégia, no entanto, dá sinais de esgotamento em Buenos Aires e em sua região metropolitana. Quase metade da população do país vive lá e é onde se concentra o maior problema para as autoridades.
A cidade, governada pela oposição, e a província, em mãos da situação, acordaram nesta semana restringir o uso do transporte público aos trabalhadores considerados essenciais. O restante das permissões de circulação expira nesta sexta-feira. O medo está concentrado na província. “A evidência científica dá conta de uma situação complexa daqui até um mês e meio. Devemos evitar chegar ao ponto a que se chegou no Chile, Brasil e Bolívia, onde as pessoas morrem na rua porque os respiradores estão ocupados”, afirmou o chefe de gabinete da província de Buenos Aires, Carlos Bianco. Segundo dados do Ministério da Saúde da nação, 45% dos 11.500 leitos de UTI disponíveis no país estão atualmente ocupados. Em Buenos Aires temem que se a curva de contágio não for reduzida esse percentual disparará nas próximas semanas até o colapso do sistema.
O problema que as autoridades enfrentam é que o confinamento, aplicado com particular rigor na Argentina, tende a afrouxar naturalmente devido ao cansaço da população. “Sabia-se que, na medida em que as atividades são liberadas, isso resultaria em um aumento dos contágios”, disse Bianco. O secretário da Saúde da cidade de Buenos Aires, Fernán Quirós, disse que se a curva não for achatada é possível que “seja necessário voltar à fase 1 da quarentena”, quando apenas a circulação local para comprar alimentos era permitida.
Casos positivos na política
O fato de o vírus circular mais facilmente em Buenos Aires preocupa o entorno do presidente Fernández. Na semana passada, o positivo de um prefeito da região metropolitana obrigou o retorno imediato de La Rioja (noroeste do país) do ministro de Desenvolvimento Social, Daniel Arroyo, que havia estado em contato com o político infectado e naquele momento acompanhava Fernández em uma viagem pelo interior. O presidente também interrompeu sua agenda e voltou a Buenos Aires. Há dois dias, a ex-governadora macrista de Buenos Aires, María Eugenia Vidal, deu positivo, contagiada pelo contato com um deputado provincial que era positivo.
A infecção de Vidal colocou em alerta o prefeito da cidade de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, e outros oposicionistas que costumam se reunir para elaborar suas estratégias políticas. Além disso, Rodríguez Larreta mantém contato pessoal com o presidente Fernández. A evidência de que o vírus já está rondando a Casa Rosada convenceu os médicos do presidente de que era hora de interromper as viagens pelo interior e ficar em casa. Desde quarta-feira Fernández está recluso em Olivos, a residência oficial, e reduziu ao mínimo as reuniões com seus colaboradores. Até agora a Argentina atrasou o pico da pandemia, mas já vislumbra que o pior está próximo.