Governos europeus testam diferentes planos graduais para o fim das restrições provocadas pelo coronavírus
Relaxamento do confinamento começa no mês de maio em boa parte do continente. Países como Alemanha e Áustria já permitiram abertura de lojas nos últimos dias
A Espanha optou por um caminho diferente do de outros sócios europeus, como a França e a Itália. O programa espanhol para a desescalada do confinamento geral, oficialmente batizado de “plano de transição para uma nova normalidade”, não terá datas precisas para a reabertura de comércios, praias ou bares, como acontece em outros países. Mas inclui um prazo muito importante: o Executivo quer que toda a desescalada esteja concluída em oito semanas, no final de junho, segundo o presidente do Governo (primeiro-ministro), Pedro Sánchez.
Na Alemanha e na Áustria, grande parte das lojas foi aberta nos últimos dias, com pedidos de “distanciamento social” e a obrigação de usar uma máscara em locais públicos. Os austríacos suspenderão o confinamento em 1º de maio, mas os estabelecimentos de gastronomia e hospitalidade poderão reabrir apenas nos dias 15 e 29 do mesmo mês, respectivamente. A obrigação de manter uma distância mínima de um metro entre as pessoas, além de cobrir o nariz e a boca em lojas e transportes públicos, seguirá imposta.
A Grécia suspenderá o confinamento progressivamente a partir de 4 de maio. Primeiro poderão abrir lojas e salões de cabeleireiro. A partir desse dia, os cidadãos poderão se reunir em grupos de até 10 pessoas e sair de casa sem precisar enviar uma mensagem de texto para o número 13033, criado pelo Governo grego para monitorar cada cidadão durante o confinamento. A Noruega reabriu as escolas para mais novos nesta segunda-feira. Uma semana após a reabertura do barnehager (pré-escola), crianças entre seis e dez anos poderão retornar às aulas, embora limitadas a 15 alunos por sala de aula. Os suíços, por sua vez, poderão voltar aos salões de beleza graças à reabertura de algumas lojas na segunda-feira, com a condição de manter as medidas de distanciamento.
Na França, o confinamento começå a cair no dia 11 de maio. As lojas poderão reabrir, mas não os bares, restaurantes, cinemas ou teatros, que terão que esperar por uma segunda fase ainda a ser determinada. Os alunos do ensino fundamental e aqueles que ainda frequentam jardins de infância também podem começar a frequentar as aulas voluntariamente, mas ainda não os alunos do ensino médio, que o farão em uma segunda fase e provavelmente regionalmente. Até as reuniões privadas ficarão restritas a um máximo de dez pessoas, de acordo com o plano de retirada de escala apresentado nesta terça-feira pelo primeiro-ministro Édouard Philippe.
O Executivo espanhol, que retocou o plano até o último momento em uma longa reunião do Conselho de ministros ―que além disso começou com atraso, porque o texto chegou muito tarde―, optou por uma fórmula diferente dos seus sócios europeus, baseada em quatro fases (numeradas de zero a três), sem datas concretas para cada passo. “A desescalada será gradual, assimétrica e coordenada. Nós a faremos por fases, a unidade será a província ou a ilha, não haverá mobilidade entre províncias ou ilhas”, resumiu Sánchez ao explicar o plano em entrevista coletiva. A ideia, portanto, é recuperar o movimento pouco a pouco, mas sem deslocamentos entre as 50 províncias espanholas enquanto não terminar a etapa de desescalada, no fim de junho. Serão autorizados deslocamentos interprovinciais para trabalhar, como já acontece agora, e em situações excepcionais, como ir a um velório. O que os cidadãos não poderão fazer, disse Sánchez expressamente, é viajar a suas residências de veraneio se esta ficarem em outra província.
As aberturas, com os exemplos citados pelo presidente, começarão com estabelecimentos que possam vender comida para levar, por exemplo, ou treinos individuais em academias para esportistas profissionais. No caso dos restaurantes, poderão oferecer mesas ao ar livre com redução da capacidade máxima. Na fase 1, na reabertura dos comércios, haverá horários especiais para a população mais vulnerável, como os idosos. Na fase 2 serão abertos, por exemplo, os estabelecimentos com garantias de separação.
As aulas só serão retomadas em setembro, mas na fase 2 algumas escolas poderão abrir para recuperações, processo seletivo para universidades ou ajudas a pais que tenham que ir trabalhar. Tudo está detalhado no texto do Governo. Assim, em assuntos de cultura, uma questão especialmente sensível, será autorizada na fase zero a reabertura de livrarias, como na Itália; em seguida, na fase 1, seria a vez dos museus, com um terço de sua capacidade, e de eventos ao ar livre para até 200 pessoas, sempre que estiverem distanciadas. Também voltariam algumas filmagens com medidas de proteção. Na fase 2 abrirão cinemas, teatros e salas de exposições e espetáculos ao ar livre para até 400 pessoas, ou 50 em lugares fechados. E já na fase 3 os cinemas e teatros poderão passar a 50% da capacidade. Este é o ritmo que o texto propõe. E sempre que se possa garantir a separação.
A duração mínima da desescalada será de um mês e meio, e a máxima de oito semanas, dependendo do lugar. Portanto, segundo o presidente, no fim de junho se chegaria à “nova normalidade”, isto é, justamente quando começa a alta temporada do verão. A desescalada começará já na próxima segunda-feira, 4 de maio, em pequenas ilhas como La Graciosa, Hierro e La Gomera, no arquipélago das Canárias, e Formentera, nas Baleares, que passarão diretamente à fase 1. As demais localidades terão que esperar até 11 de maio para ver se podem passar ou não a essa fase.
O texto discutido na reunião ministerial é dividido como uma espécie de grande quadro de atividades ―profissionais, pessoais, culturais, esportivas, turísticas, religiosas― e explica detalhadamente o que se poderá fazer em cada uma dessas fases e as mudanças que cada salto significa, mas não quando ocorrerão essas mudanças de fase. Estabelece-se uma série de marcadores para isso, mas as decisões serão tomadas de forma coordenada entre o Governo e as administrações regionais, e revistas a cada duas semanas. Sánchez deixou muito claro que haverá coordenação e critérios objetivos, com indicadores que serão divulgados publicamente, mas caberá ao Ministério da Saúde determinar o ritmo da desescalada em cada província, e não às comunidades autônomas (cada comunidade é composta por uma ou mais províncias), embora algumas delas reivindiquem poderes decisórios. “Se tivermos que escolher entre a prudência e o risco, escolheremos a prudência”, afirmou Sánchez, como aviso. “Vamos sem o GPS, este plano é flexível, podemos perder o que conseguimos. O vírus continua aí, à espreita, até que tenhamos uma vacina, e falta tempo. Temos que combater a impaciência”, insistiu.
O tiro de largada chegará com os passeios dos adultos no próximo fim de semana, mas a partir daí será muito mais complicado dar os passos seguintes. O texto se centra especialmente no turismo, um dos setores que mais preocupam o Governo porque sofreu uma paralisação total e representa mais de 12% do PIB. Mas não há data concreta para a reabertura de praias e hotéis, o que há são detalhes destas fases que terão que ser avaliados em cada província em função da situação da pandemia.
Nesta nova fase de desescalada, Sánchez reorganiza a equipe de gestão diária da crise para se concentrar nesse assunto, o mais complexo a partir de agora. O Comitê Técnico de Gestão, que diariamente tomava as decisões principais, e ao qual na semana passada foram incorporados os quatro vice-presidentes, incluindo o esquerdista Pablo Iglesias, que tinha ficado de fora do núcleo duro na primeira etapa. Agora, ele se transforma em um Comitê Técnico para a Desescalada. Os membros não mudam muito, Fernando Simón, epidemiologista que é o principal rosto público da pandemia para os espanhóis, continuará lá, e a presidência caberá a Sánchez, com a participação dos quatro vice-presidentes e dos quatro ministros mais diretamente envolvidos ―Saúde, Interior, Transporte e Defesa―, aos quais se incorporam também as titulares da Fazenda, María Jesús Montero, que foi ganhando um papel central em La Moncloa nas últimas semanas, e do Trabalho, Yolanda Díaz, pessoa de confiança de Iglesias e também com peso-chave na crise, dada a destruição de empregos e a necessidade de tomar medidas para paliar suas consequências.
Assim, o comitê da desescalada, até agora coordenado pela quarta vice-presidenta, Teresa Ribera, desaparece, transformando-se no comitê de gestão diária da etapa que se inicia agora. Participarão desse encontro diário Iván Redondo, chefe de Gabinete de Sánchez, e Félix Bolaños, secretário-geral da Presidência; ambos compõem o núcleo duro da equipe do presidente. E também estará lá Julio Rodríguez, chefe de Gabinete de Iglesias, em mais uma amostra de que se trata realmente de um Governo de coalizão e que o presidente abre espaços às pessoas de confiança do segundo vice-presidente em todas as reuniões onde são tomadas as decisões fundamentais.
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