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Com quatro mortos, São Paulo faz contagem regressiva para fechar comércios. MP cobra restrições mais duras

Doria faz “recomendações” enquanto Bruno Covas decreta o fechamento do comércio na capital

Marina Rossi
Pessoas com máscara caminham pelo centro de São Paulo no último dia 16.
Pessoas com máscara caminham pelo centro de São Paulo no último dia 16.NELSON ALMEIDA (AFP)

O Governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura da capital tomaram as primeiras medidas mais contundentes nesta quarta-feira para tentar barrar a pandemia de coronavírus. O Estado é o epicentro da doença, com a confirmação de 240 casos —sendo 214 deles na capital— e quatro óbitos até o momento. No final da manhã desta quarta-feira, o governador João Doria (PSDB) anunciou recomendações para que todos os shoppings centers e academias de ginástica da capital e da Região Metropolitana fechem suas portas até dia 30 de abril. Já o prefeito Bruno Covas (PSDB) saiu do plano das orientações e decretou o fechamento de todos os estabelecimentos comerciais na cidade, exceto os do setor de alimentos e medicamentos, entre os dias 20 de março e 5 de abril.

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Na visão do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), porém, as medidas precisam ser ampliadas. “Meras recomendações não são suficientes para impedir o isolamento social na cidade com o maior número de casos confirmados da doença”, diz documento da Promotoria paulista. O MP-SP pede, então, que em um prazo de 48 horas seja decretado o fechamento de todas as atividades não essenciais, como igrejas, bares, restaurantes, prevendo sanções para seu descumprimento. Além disso, a Promotoria pede efetiva integração entre os Governos estadual e municipal, relatórios quinzenais sobre a quantidade de leitos de UTI e suas taxas de ocupação, a convocação de profissionais remanescentes de concursos públicos anteriores nas áreas da saúde, campanhas de esclarecimento para a sociedade, escala de horário para a entrada no trabalho incluindo o setor privado, dentre outras medidas.

No pacote de medidas do Governo do Estado, Doria também anunciou a ampliação de entrega de medicamentos de alto custo, parceria com farmácias para a aplicação gratuita da vacina contra a influenza e o sarampo a partir de abril, o limite do atendimento nos postos do Detran e do Poupa Tempo e o envio de mensagens para todos os celulares das operadoras Tim, Claro e Vivo com informações sobre o coronavírus.

As primeiras recomendações para o fechamento do comércio vieram em uma esteira em que museus, centros culturais e bibliotecas já estão com suas portas fechadas desde o início desta semana em São Paulo. Somente nesta quarta-feira, foi confirmada a morte de três pessoas na cidade, em decorrência da doença —já havia sido confirmado o primeiro óbito pela doença na terça. Todos eram homens entre 65 e 85 anos, tinham doenças pré-existentes e estavam internados na rede privada de saúde.

O breve histórico desta pandemia mostra que a velocidade com que as medidas são tomadas pelos Governos tem sido essenciais para o controle da doença. E que os isolamentos, atitudes individuais e as quarentenas atrasam a propagação do vírus, permitindo que os sistemas de saúde lidem com seus efeitos. Ainda assim, ainda não há, no Brasil, nenhuma determinação para que as pessoas fiquem em casa. Perguntado quando as medidas deixarão de ser “orientações” e se tornarão “obrigações”, o governador afirmou “quando for necessário”, sem explicar o que é preciso para se chegar a essa necessidade. “As medidas estão sendo apresentadas pelo Governo diariamente. São medidas estabelecidas e fundamentadas em decisões científicas”, disse Doria. “Não tomamos decisões precipitadas e nem de ordem política. Neste momento não há nenhuma razão para medidas mais drásticas além das que já foram anunciadas”.

As decisões tomadas diariamente podem, porém, ser um agravante para essa pandemia. “Se você toma as decisões com base no número de casos que vê naquele dia, já faz uma semana que esses casos se infectaram, e significa que neste momento já está muito pior", afirmou em entrevista ao EL PAÍS Oriol Mitjà, infectologista e pesquisador espanhol da Fundação Luta Contra a AIDS. “E para poder se sobrepor a uma epidemia destas características, você precisa estar à frente da epidemia”.

Para Paolo Zanotto, virologista e professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), o Brasil tem tomado as medidas necessárias e no tempo correto. “O Brasil adotou sim as intervenções rápidas não farmacêuticas, que são o distanciamento social e a testagem em massa”, disse. “Desde a semana passada, o distanciamento social tem ocorrido espontaneamente e a testagem em massa está sendo planejada desde dezembro pela vigilância sanitária em Brasília”, afirmou.

João Doria, por enquanto, aposta mais nas “recomendações” e na “solidariedade”. “Não houve nenhuma restrição a bares, restaurantes padarias e cafés até o momento. A recomendação é que pessoas com mais de 60 anos não saiam de casa. Mas as pessoas aqui no Estado de São Paulo têm sido solidárias”, disse. Por outro lado, começou a circular por algumas redes sociais uma lista com diversas empresas, não só em São Paulo, que não adotaram medidas para se precaver da doença ou o trabalho remoto ou a jornada reduzida de trabalho.

Uma delas é a sul-coreana Samsung, cuja matriz está no país exemplo no controle dessa pandemia. Segundo a assessoria de imprensa, a companhia recomendou evitar viagens nacionais e internacionais e disse que “funcionários que voltam de viagens internacionais trabalham sete dias de casa e aqueles que chegam de países com maior foco de contágio tem este período ampliado para 14 dias”. A companhia, que não adotou trabalho remoto até o momento, afirma que disponibilizou ambulatório para os primeiros atendimentos e “enfermeiros transitando para a verificação de temperatura e o esclarecimento de dúvidas nas estações de trabalho”.

Outra empresa que faz parte dessa lista informal é a Raízen, do ramo de combustíveis controlada pela Shell e Cosan. Uma das maiores do país no setor, a Raízen não quis se manifestar sobre quais medidas está tomando para tentar conter a proliferação da doença em sua sede em São Paulo.

O infectologista Jorge Luis dos Santos Valiatti, que preside o Comitê de Insuficiência Respiratória e Ventilação Mecânica da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), explica que os cuidados são importantes porque que a Covid-19 é um vírus que se propaga com muita rapidez. “A nossa preocupação é com o alto poder de infectividade desse vírus, muito mais que o H1N1, por exemplo”, diz. “Isso ocorre por causa do tamanho da partícula viral. "Ele é menor, e por isso tem a possibilidade de se propagar a mais de um metro.”


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