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Pandemia de coronavírus
Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

Sociedade sairá da pandemia mais solidária, mas também com mais medos

Maior anseio de segurança é um dos efeitos colaterais de viver sob estado de alarme

Adolescente assiste a série em seu quarto em Madri, durante a quarentena.
Adolescente assiste a série em seu quarto em Madri, durante a quarentena.Carlos Alvarez (Getty Images)

Após quase uma semana de confinamento em que os números do coronavírus só pioraram, a sociedade espanhola vive estes tempos excepcionais com um estado de ânimo de surpreendente tranquilidade: a maioria de nossos concidadãos diz se sentir pouco ou nada nervoso. Entretanto, é muito possível que, se a crise se agravar, conforme vaticinam os especialistas, o clima social de quietude se frature e dê lugar a um estado de ânimo de maior agitação.

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-FOTODELDÍA- AME8552. SAO PAULO (BRASIL), 27/02/2020.- Pasajeros usan máscaras como precaución contra la propagación del nuevo coronavirus COVID-19 durante su llegada, este jueves, al Aeropuerto Internacional de Sao Paulo (Brasil). El coronavirus llegó a América Latina a través de Brasil, cuyo Gobierno confirmó este miércoles el primer caso en el país y que también supone el primero en la única región que hasta ahora permanecía ajena a esa enfermedad. EFE/ Sebastião Moreira
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O estudo da 40dB mostra que esse equilíbrio pode se alterar. No dia de hoje, as pessoas que declaram estar muito nervosas como consequência desta crise são aquelas que tiveram mais contato com o vírus: os que já deram positivo, têm sintomas compatíveis com a doença ou pelo menos uma pessoa de seu entorno, sejam amigos, familiares ou colegas de trabalho, foram contagiados com o vírus ou apresentam a sintomatologia associada.

Os dados mostram que o contato com a doença altera o estado de ânimo. O nervosismo, além disso, está associado a uma maior preocupação por esta crise e a um consumo muito mais intenso de informação, seja diretamente, pela mídia (televisão, rádio, imprensa), ou indiretamente, através de redes sociais ou WhatsApp. Igualmente, o medo de perder o emprego, de sofrer uma redução de renda, de testemunhar o fechamento da empresa onde se trabalha, de atrasar ou paralisar um investimento ou compra previsto ou antecipar um impacto negativo na economia espanhola e mundial são sentimentos mais frequentes entre as pessoas que estão mais nervosas com a pandemia. O nervosismo, em muitos casos produzido pelo contato direto ou indireto com a doença, multiplica o temor com danos materiais por uma possível recessão.

O que cabe esperar nos próximos tempos? O que podemos antecipar sobre o impacto em nossa sociedade? O lógico é que, à medida que o vírus se espalhe, o nervosismo cresça. O prolongado confinamento e a angústia com os efeitos econômicos contribuirão para isso. Deveríamos ir nos preparando para uma situação mais tensa nas próximas semanas.

Agora, o nervosismo e a ansiedade têm também alguns aspectos positivos: por exemplo, nos preparam para enfrentar melhor a crise sanitária. São justamente os mais intranquilos que cumprem mais à risca as regras impostas. São também os que se mostram mais propensos em seu dia a dia a ajudar outras pessoas, quem mais compra pela Internet para evitar sair de casa e quem participa com maior entusiasmo no aplauso diário das 20h aos trabalhadores da saúde. É muito possível que a sociedade espanhola, por natureza solidária, reforce ainda mais sua empatia, sua capacidade de se pôr na pele de outras pessoas, aumentando assim a disposição em dar e receber dos outros.

Finalmente, entre os que já sofrem um estado de ânimo de alerta, 70% acreditam que o coronavírus deixará uma sociedade mais temerosa (17 pontos acima da população geral). A sociedade sairá desta crise mais solidária, mas também com mais medos, com mais ânsia por segurança. A gestão desses temores será outro dos desafios num futuro que não está tão longe.

Belén Barrero é diretora da agência de pesquisas espanhola 40dB.

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