Rússia destrói satélite com míssil e põe em risco os sete astronautas da estação espacial
Washington diz que a nuvem de escombros causada pelo teste militar russo criou uma chuva de destroços de mais de 1.500 pedaços de lixo espacial que estão na órbita da Terra
Os Estados Unidos acusaram a Rússia de colocar em risco a integridade da Estação Espacial Internacional (ISS) com a destruição “imprudente” de um de seus próprios satélites na segunda-feira, como parte de um de seus exercícios militares, desta vez no espaço. O teste de míssil antissatélite causou uma chuva de mais de 1.500 fragmentos espaciais que continuam a orbitar a Terra como uma grande nuvem e que se aproximou perigosamente da ISS. Os sete astronautas que ocupam a estação tiveram que se refugiar em duas espaçonaves da nuvem de lixo que ameaça, segundo o Departamento de Estado dos EUA, “os interesses de todas as nações”.
O Ministério da Defesa russo reconheceu nesta terça-feira o teste antimísseis contra um de seus antigos satélites, garantiu que foi realizado com “precisão clara” e negou que tenha colocado em risco a Estação Espacial Internacional e seus ocupantes. “Testamos com sucesso um sistema promissor”, disse o ministro da Defesa, Sergey Shoigu, citado pela agência Interfax. “Os fragmentos formados não representam qualquer ameaça à atividade espacial”, acrescentou o ministro, um dos homens mais próximos do presidente russo, Vladimir Putin. O alvo era uma espaçonave não operacional que estava em órbita desde 1982, de acordo com a Defesa.
O incidente ocorre em um momento de tensão entre a Rússia e o Ocidente, que têm as piores relações desde a Guerra Fria e que, nas últimas semanas, atingiram um novo patamar de tensão com a mobilização, mais uma vez, de tropas russas perto da fronteira com a Ucrânia —que, segundo os temores da inteligência dos EUA, são o prelúdio de um episódio semelhante ao que terminou em 2014 com a anexação ilegal da península da Crimeia na Ucrânia.
Após a onda de acusações, a Rússia defendeu seu direito de testar mísseis antissatélite e garantiu que tanto Estados Unidos, China e Índia também fazem esses testes militares. Moscou diz que teve que fortalecer suas capacidades de defesa devido à criação de uma força espacial dos EUA, que tem uma divisão separada das forças armadas. O Kremlin há tempos agita a ideia de uma nova guerra nas estrelas e insiste que busca um acordo de controle de implantação de armas espaciais com os Estados Unidos, que anularam a maioria de seus acordos de controle de defesa importantes com a Rússia —sob a alegação de que os russos de não os cumpriram.
A manobra russa de segunda-feira criou o maior novo campo de detritos espaciais desde 2007, quando a China lançou um míssil em um de seus icônicos satélites meteorológicos, liberando uma nuvem de cerca de 2.300 fragmentos espaciais. O enxame criado pelo míssil russo na segunda-feira aumenta o volume de destroços já no espaço e intensifica as preocupações sobre o risco de escombros colidirem com a ISS e satélites em enorme velocidade.
O teste russo disparou um alerta de emergência na Estação Espacial. Seus ocupantes, alertados por um oficial de controle da NASA de Houston, tiveram que se refugiar por duas horas em duas cápsulas espaciais, de acordo com a agência espacial dos EUA. Os astronautas da NASA Tom Marshburn, Raja Chari e Kayla Barron, junto com Matthias Maurer da Agência Espacial Europeia, entraram na nave Crew Dragon; enquanto os cosmonautas russos Anton Shkaplerov, Pyotr Dubrov e o astronauta da NASA Mark Vande Hei se refugiaram na cápsula Soyuz.
Apesar das tensões entre Moscou e Washington, suas agências espaciais, Roscosmos e NASA, que administram conjuntamente a estação espacial, permaneceram à margem. Até o teste militar na segunda-feira entrar em jogo. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, acusou a Rússia de estar disposta a “colocar em risco a sustentabilidade de longo prazo do espaço sideral” e de “arriscar a exploração e uso” do espaço por outros países.
O norte-americano avisou que trabalhará junto com seus aliados para responder ao teste russo, que ele definiu como um “ato irresponsável”. “Instamos todas as nações espaciais responsáveis a se juntarem a nós nos esforços para desenvolver padrões de comportamento responsável e se abster de testes destrutivos, perigosos e irresponsáveis como os realizados pela Rússia”, disse o secretário de Estado em um comunicado.
O porta-voz do Pentágono, John Kirby, criticou que a Rússia não avisou às autoridades dos EUA sobre o teste de mísseis que teria sido realizado —e, por isso, Washington vai pedir uma revisão das regras sobre atividades espaciais, para confirmar o que pode “ser usado com responsabilidade“ por todos os países do cosmos.
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