Casa Branca se mobiliza para deter “a pandemia dos não vacinados”

Biden pede aos governos estaduais que ofereçam 100 dólares a quem se vacinar e que as vacinas sejam obrigatórias para as Forças Armadas

Pessoas passeiam pela Times Saquare, em Nova York, no último dia 27.JUSTIN LANE (EFE)

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A Casa Branca se dedicou nesta semana a tentar pôr ordem em uma crise sanitária que volta a se agravar e a convocar a população a se vacinar contra o perigo urgente da variante delta do coronavírus, cuja carga viral é até 1.200 vezes maior do que as mutações anteriores. O presidente Joe Biden nunca tinha sido visto tão preocupado, implorando a seus concidadãos que se vacinassem, rogando-lhes responsabilidade para acabar com o pesadelo. “Estamos diante da pandemia dos não vacinados”, declarou o presidente em um discurso na quinta-feira, na Casa Branca. Menos da metade dos cidadãos norte-americanos recebeu as duas doses (como comparação, na Espanha o número é de quase 57%, e no Brasil, 19,5%). Há 90 milhões de pessoas sem proteção. No segmento populacional a partir dos 65 anos, 90% dos norte-americanos receberam ao menos uma dose e 80% estão totalmente vacinados. Mas os números diminuem com a queda da idade: apenas 59% dos maiores de 18 anos receberam a dose que cada empresa farmacêutica requer.

O presidente falou em “liberdade”, referindo-se a quem usa essa palavra como um direito para não se vacinar. O mandatário foi muito explícito ao dizer que a liberdade implica em “responsabilidade” e que ser responsável se traduz em tomar a vacina. Diante dessa crise, a Administração de Joe Biden ordenou ao Pentágono examinar quando acrescentará a imunização contra a covid-19 à lista de vacinas exigidas para os membros das Forças Armadas e exortou os Capitólios estaduais a oferecerem até um incentivo de 100 dólares (cerca de 521 reais) para que as pessoas decidam receber a vacina. Além disso, as fronteiras do país estão fechadas para o exterior e houve um retorno à recomendação –e até mesmo à imposição em alguns Estados– do uso de máscaras em locais fechados, inclusive para pessoas vacinadas.

A reação da oposição política foi tão feroz que o mandatário chegou a declarar em um discurso no meio da semana que não se tratava de “Estados vermelhos [republicanos] ou Estados azuis [democratas]”. “Trata-se da vida ou da morte”, proclamou o presidente. Do púlpito oferecido pela Casa Branca, glosou as virtudes das vacinas com o objetivo de que as pessoas compareçam a um posto de vacinação e recebam, gratuitamente, a injeção. “Não se trata apenas de proteger a si mesmo, mas de proteger os outros”, acrescentou.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, retirou seu filho de um acampamento de verão em que devia usar máscara. “Os especialistas comunicaram seus temores legítimos de que as máscaras prejudicam mais do que protegem, pois podem ter um impacto negativo na aprendizagem, na fala e na saúde emocional e física” das crianças, explicou o republicano. Isso aconteceu na quinta-feira passada e, nos dias seguintes, grupos de pessoas queimaram máscaras nas ruas em sinal de protesto contra a nova diretriz das autoridades sanitárias, que consideram que viola sua liberdade individual.

Enquanto a tempestade social e política era encenada, mais de 70% do país era composto por áreas onde havia risco “alto” ou “importante” de contágio. Cerca de 97% dos pacientes hospitalizados com coronavírus não foram vacinados, número que dá uma ideia da necessidade dessa medida preventiva. O número total de casos nos EUA chega a mais de 34 milhões de pessoas, enquanto as mortes ultrapassam 610.000.

Hospitais colapsados

A imprensa vem informando há dias sobre hospitais colapsados por falta de leitos para crianças em cidades como Baton Rouge (Louisiana). Segundo a rede CNN, um médico do centro médico Our Lady of the Lake dessa cidade disse que agora existem mais crianças doentes do que no início da pandemia, e em estado muito mais grave. A diretora dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC na sigla em inglês), Rochelle Walensky, enfatizou nesta semana a necessidade de levar a sério o vírus e a ameaça que representa para as crianças.

“É um erro dizer que apenas 400 dessas 600.000 mortes por covid-19 ocorreram em crianças”, disse Walensky na Comissão de Saúde do Senado. “Crianças não deveriam morrer. Portanto, 400 é muito”, continuou. Até agora nenhuma vacina contra a covid-19 recebeu luz verde para crianças menores de 12 anos. As empresas farmacêuticas Pfizer e Moderna continuam fazendo testes clínicos, mas provavelmente levará meses para que essas crianças possam receber a vacina.

Na última quinta-feira, um relatório interno do CDC, ao qual o The Washington Post teve acesso, fez soar todos os alarmes ao afirmar que a variante delta se propaga tão facilmente quanto a catapora. Depois dessa informação, o passo seguinte que as autoridades sanitárias tiveram de dar na luta contra o coronavírus foi reconhecer que “a guerra mudou”.

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