Ministro da Fazenda da Colômbia pede demissão após protestos contra seu projeto de reforma tributária

Alberto Carrasquilla apresentou sua renúncia 24 horas depois que o presidente Iván Duque retirou o projeto de lei que gerou quatro dias de fortes protestos

O ex-ministro da Fazenda da Colômbia Alberto Carrasquilla em uma conferência em 2019.Ángeles Rodenas (EFE)

A crise política do Governo colombiano, aberta após a retirada da reforma tributária da pauta do Congresso, tirou o atual ministro da Fazenda do cargo. Alberto Carrasquilla, economista ortodoxo que planejou o aumento de impostos, renunciou na segunda-feira e sua renúncia foi aceita por Iván Duque. O presidente Duque tentará agora salvar o projeto mais ambicioso de seu mandato com um nome novo, que ficará encarregado de negociar uma reforma consensual com o restante das forças políticas. A saída de Carrasquilla, um homem muito próximo ao ex-presidente Álvaro Uribe, começou a se desenhar no domingo.

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Nesse dia, Duque compareceu à Casa de Nariño, sede do Governo, para anunciar que estava retirando a reforma tributária com a qual pretendia aumentar a arrecadação e cobrir o rombo econômico causado pela pandemia. O presidente estava rodeado de vários colaboradores próximos, entre os quais não estava o ministro. A partir daquele momento, parecia claro que suas horas no Gabinete estavam contadas.

Duque cedeu assim à pressão da rua depois de suportar uma enxurrada de protestos por quatro dias. Milhares de pessoas pediram que ele retirasse a reforma em um momento tão complicado como este, com uma terceira onda de covid-19 que quebrou recordes de infecções e mortes. A pobreza e a desigualdade aumentaram quase dez pontos desde o início da pandemia. Esse descontentamento ocorreu de forma pacífica em cidades de todo o país, mas gerou confrontos entre a polícia e os manifestantes. No momento, o número de mortos é de 19, alguns casos há suspeitas de que foram mortos pela polícia.

A violência desencadeada nas ruas levou Duque a derrubar a reforma, o prelúdio da queda de Carrasquilla. “Minha continuidade no governo dificultaria a construção rápida e eficiente do consenso necessário”, diz a carta de renúncia de Carrasquilla. “É fundamental dar continuidade aos programas de proteção social e econômica que começaram a expirar em março passado. Por outro lado, na ausência de uma reforma tributária gradual e ordenada, a estabilidade macroeconômica do país ficaria seriamente comprometida”, acrescentou.

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Especialistas econômicos concordam com o ex-ministro. A economia colombiana teve queda de 6,8% no ano passado e viu seu déficit fiscal aumentar de forma preocupante. O Estado precisa de arrecadar mais dinheiro, entre outras coisas para compensar o auxílio aos mais vulneráveis, e isso aconteceria aumentando o IVA sobre alguns produtos e ampliando a base do contribuinte. O diagnóstico é compartilhado por analistas e até por partidos de oposição. Claro, o momento de aplicá-lo não era o ideal, pelo menos politicamente. Esta é uma medida muito impopular que tem gerado grande descontentamento entre a população.

A menos de um ano de uma eleição geral, na qual Duque não poderá se candidatar porque não há reeleição presidencial, poucos partidos se dispõem a apoiá-lo. No Twitter, o presidente anunciou a renúncia de Carrasquilla, ao qual demonstrou sua gratidão e “respeito”. “Durante sua administração, realizações importantes foram alcançadas, incluindo um programa social sem precedentes para enfrentar a pandemia”, escreveu Duque. O Governo gastou 4,1% do PIB em medidas de ajuda e financiamento para os grupos mais vulneráveis durante a pandemia, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional.

Carrasquilla representava os setores mais próximos do ex-presidente Álvaro Uribe, mentor de Duque que criou ao seu redor uma corrente política muito poderosa na direita colombiana. Se não tivesse renunciado, Carrasquilla certamente teria enfrentado uma moção de censura sobre a qual a oposição e políticos independentes já o haviam alertado nas horas anteriores. No mesmo fio de tweets sobre a despedida de Carrasquilla, apareceu a nomeação do novo ministro das Finanças, José Manuel Restrepo. Até agora ocupava a pasta de Comércio e, segundo o jornal El Espectador, sua nova posição é surpreendente porque nos últimos meses esteve perto de deixar o Gabinete para se candidatar a um emprego na OCDE. Restrepo chega em um momento muito delicado para a economia colombiana, quando a dívida passou de 40 a 60% do PIB em um ano. Sobre seus ombros está a enorme tarefa de realizar uma reforma fiscal que permita garantir recursos para programas sociais e dar ar às finanças do país.


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